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Com menos dois, Racing bate o rival Independiente

Em longos 45 minutos, time de Sebastián Beccacece leva a melho no clássico de Avellaneda

Existe uma lenda sobre a saída do River Plate do Bairro de La Boca, no começo do século. Diz a história, perfeita demais para ter amparo na realidade, que a região estava ficando pequena para abrigar dois clubes de envergadura, e então uma partida contra o Boca Juniors definiria quem poderia permanecer e quem colocaria a trouxa de roupas nas costas rumo a um paradeiro ainda desconhecido. Segundo essa versão, o River perdeu e se viu sem bairro e sem casa. Infelizmente para o folclore do futebol, nada disso procede: na época, vários perrengues imobiliários aconteciam e o River, querendo construir um estádio maior, decidiu por vontade própria deixar a zona sul de Buenos Aires.

Do outro lado da Ponte Pueyrredón, se houvesse algum duelo dramático capaz de fazer um dos rivais de Avellaneda abandonar a vizinhança, cabisbaixo e ridicularizado, esse teria sido disputado ontem à noite. Com dois jogadores a menos durante 45 minutos, o Racing venceu o Independiente por 1 a 0, em jogo bordado na história do clássico desde que o árbitro apitou pela derradeira vez. Esse é um mérito exclusivo dos clássicos: um confronto sem grandes objetivos envolvidos transforma um domingo qualquer em data inaugural de uma nova relação entre os íntimos e assíduos adversários. Porque, na vida cotidiana que se desenrola entre os diabos e os acadêmicos, nada será igual depois de 9 de fevereiro de 2020.

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No âmbito da tabela, não havia vultosa ambições no jogo disputado no Cilindro, válido pela 19ª rodada da Superliga Argentina. O Racing tentava beliscar uma vaga na Libertadores, mas o Independiente chegava mais encorpado, após uma goleada de 5 a 0 contra o Rosário Central. Apesar disso, a Academia, sob o comando de Sebastián Beccacece, mostrou amplo domínio durante o primeiro tempo, transformando em destaque Campaña, o arqueiro rojo. Quando o intervalo já se anunciava, no entanto, em um daqueles eventos que mudam o rumo das partidas, e como o movimento das marés interfere inclusive nos partos e nas lavouras, o goleiro Arias, do Racing, um tanto quanto descompensado de suas faculdades cognitivas, deixou a grande área para tocar a bola com a mão, recebendo a tarjeta vermelha.

A coisa se mostrou difícil para os anfitriões, e tudo parecia definitivamente comprometido quando Sigali também foi expulso logo nos primeiros segundos da etapa complementar, por uma cotovelada em Leandro Fernández, do Independiente. Daí em diante, o cenário era de agonia para o Racing, enclausurado em frente à sua área e vendo suas raras saídas com a bola morrendo diante de um batalhão vestido de vermelho. Mas o tempo acabou se tornando carrasco do Independiente, pois a equipe de Lucas Pusineri fazia exatamente o contrário do que se espera de um time com dois a mais: em vez de aproveitar os espaços do campo, levantava pelotas na área de forma tresloucada; em vez de fazer o jogo correr, caía em qualquer TRAMPA racinguista para dar um aguante ao relógio. Porque o empate já era heroico para La Academia.

Esbaforido e esgotado, o capitão Lisandro Lopez deixara a cancha dizendo para o árbitro Patricio Loustau: "Nos mataste, nos mataste". Mas, se fosse para morrer, que fosse de morte matada, e não de morte morrida. Conforme o tempo passava, a arquibancada do Cilindro rugia em desafogo, a melhor forma de evitar o pânico, e através da cantoria mostrava ao Independiente em que o território ele pisava. Sem sucesso em suas investidas, os visitantes foram sucumbindo ao açoite dos nervos e perdendo a concentração, até que aos 41 minutos, quando o Racing conseguiu entrar na área dos rojos, Cvitanich aproveitou-se de um enrosco e tocou a bola para Chelo Díaz, que calmamente, Chopin ao piano em meio a uma descarga de granadas, rolou a bola rente ao chão, de forma quase acintosa, para as redes. Quase com a mesa indolência com que, minutos antes, em meio ao cavernoso cenário, comera uma insólita banana, profética bomba de potássio para manter a panturrilha de prontidão no momento cabal.

Uma atmosfera de irreversível irrealidade tomou conta do Cilindro. Pela torcida, que de certa forma já tinha aquela demente certeza. Pelos jogadores do Racing, exauridos e sangrando em campo. E, dentro ou fora da cancha, pelos rojos petrificados, conscientes de que a humilhação nem estava formalmente sacramentada, mas já ecoava amanhã e depois de amanhã. Porque após o gol não havia mais retorno, e os próprios jogadores de vermelho demonstravam isso, vagando sem rumo sobre a grama.

O Independiente não vai deixar Avellaneda, mas terá dias intranquilos. Seu torcedor sempre terá de aturar a réplica do "9 contra 11" diante de qualquer tentativa de argumentação, talvez até mesmo alheia ao futebol. Como nunca, vai precisar recorrer ao cartel de copas ou à icônica figura de Bochini, que fez do Racing sua vítima preferida, mas o fará sentindo uma pontada embaixo das costelas, pois uma pneumonia crônica cutuca seu orgulho. Escondido nos galpões industriais de Avellaneda, precisa tentar antever alguma redenção. Ou, numa mistura de Adeus, Lênin e Papeles en el viento, costurar uma realidade paralela para convencer seus filhos e netos de que o dia de ontem, na verdade, jamais existiu.

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