Todos os dias, milhares e milhares de partidas de futebol amador são disputadas no Brasil e, por que não, pelo mundo. Para pôr ordem nas disputas e evitar conflitos entre os amigos, árbitros são contratados, mas, mesmo na brincadeira, eles não escapam das duras críticas dos jogadores e até mesmo das torcidas.
A vida dos árbitros amadores não é fácil dentro das quatro linhas, mas, em alguns casos, fora dela também não. Muitos deles só possuem aquela atividade como meio de ganhar dinheiro. Com a crise, a situação se agravou para alguns. O número de "rachas"ou "peladas" diminuiu e as poucas partidas que são realizadas, são a luz no fim do túnel para este coadjuvantes que, às vezes, tornam-se protagonistas.
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É o caso do "Margarida" - que não quis dizer seu verdadeiro nome e é assim que ele gosta de ser chamado - árbitro amador há quase 15 anos e que é conhecido nas partidas de futebol em Maceió pelos seus bordões: "Eu vi viu?", "Jogue bola! Jogue Bola", "Tome aqui pra você!" (ao aplicar o cartão amarelo em algum jogador).
Tímido, ele não conta muito sobre sua vida pessoal, mas relatou que diminuíram os números de partidas a qual ele é chamado para apitar, o que estaria afetando as finanças de casa.
"Infelizmente tem reduzido bastante o número de partidas. Fim de ano era quase duas por dia. Hoje, são apenas nos finais de semana e 1 jogo. Às vezes, chega a faltar comida lá em casa porque é minha única renda", contou.
Em Alagoas, os árbitros amadores contam com uma associação que é sempre requisitada para participarem de torneios e campeonatos pelo estado. De acordo com o diretor financeiro da Associação dos Árbitros de Futebol Amador de Alagoas (AAFAAL), Cícero da Silva, atualmente eles participam de cerca de 15 jogos por ano. Ele conta que a situação já foi melhor em anos anteriores.
"Apitamos campeonatos e torneios por todo o estado. Hoje, fazemos algo em torno de 10 a 15 partidas, mas já tivemos ano em que todos os finais de semana tínhamos jogos", lamentou.
HOMENAGEM E AJUDA
Atualmente Margarida apita jogos do "Racha da Comunicação", que reúne jornalistas e publicitários, marketeiros, todas às segundas-feira em uma arena localizada no bairro de Cruz das Almas. No início deste mês, o grupo realizou um torneio em confraternização, seguido de um churrasco para todos. Margarida foi homenageado com uma medalha e recebeu o carinho de todos.
Após a premiação e homenagens, ele confidenciou à alguns dos poucos que estavam próximo, sobre as dificuldades financeiras que estava passando. A situação chamou a atenção do jornalista Paulo Chancey, que teve a ideia de reunir os participantes e arrecadar uma contribuição para ajudar Margarida a ter um Natal melhor.
"Nós vivemos uma correria no dia-a-dia, mas conseguimos levar a nossa vida. Infelizmente, o Margarida talvez não tenha tido as mesmas oportunidades que a gente. Todas as segundas no racha, sempre brincando com todos, às vezes não demonstra o que realmente se passa com ele, as dificuldades que passa. Na confraternização dos amigos, ele que pouco me conhece, confidenciou alguns problemas financeiros, principalmente por conta do final do ano, da falta de jogos para apitar. Daí surgiu a ideia de ajudar. Esperamos que o final de ano dele e da sua família seja melhor", contou.
A iniciativa de Chancey reuniu mais de 40 pessoas que realizaram a doação de uma certa quantia em dinheiro, além de cestas básicas e alimentos não perecíveis. A quantidade não foi divulgada.
"Margarida, a exemplo de qualquer árbitro, gera polêmicas com as suas decisões. No entanto, ele é essencial para a saúde do nosso Racha da Comunicação por manter os jogos equilibrados, evitando assim jogadas que, mesmo sem intenção, possam machucar essa boleirada de meio de semana", disse o jornalista Nigel Santana, um dos organizadores do racha.
APITO NO INTERIOR
Com o objetivo de expandir os conhecimentos de futebol e auxiliar os árbitros amadores das cidades do interior, a Secretaria de Estado do Esporte, Lazer e Juventude (Selaj) desenvolveu o projeto "Apito no Interior", que percorre os municípios alagoanos realizando um mini-curso de conceitos básicos de futebol e as regras do esporte.
O secretário executivo do Esporte e Lazer, Charles Hebert, que também é ex-árbitro de futebol, destacou o crescimento do projeto. "Este ano realizamos três eventos e para o próximo ano já temos seis eventos agendados. ideia é interagir para uma nova formação de profissionais naquela região, ampliando este novo modelo de arbitragem", disse o secretário.
Charles também destacou que o curso é uma ótima oportunidade para aqueles que queiram obter uma renda extra em sua cidade, como também aqueles que desejam ingressar na carreira de árbitro profissional. O curso tem duração de três dias e acontece em parceria com a Federação Alagoana de Futebol (FAF) e com as prefeituras.
"Nosso público é amplo e o curso oferece a oportunidade para quem deseja ganhar dinheiro nos fins de semana em sua cidade, como também o ponta-pé para aqueles que desejam ingressar na carreira profissional", explicou.
Para ser árbitro é necessário participar de um curso que tem a duração de 9 meses.
Charles relatou sua experiência no futebol amador, em uma final de campeonato na cidade de Rio Largo. Confira no vídeo abaixo:
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