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Sapateiro tranca faculdade de administração devido à crise e sonha com concurso

Com habilidade, há 21 anos, diariamente, Reinaldo costura sapatos, bolsas e toda sorte de itens de couro, além de tecer também a história de sua vida

Na correria do Centro de Maceió, milhares de pessoas se cruzam diariamente. Com passos rápidos, até se esbarram. Maceioenses inglórios, com suas histórias anônimas. Histórias como a do sapateiro Reinaldo Oliveira Guimarães, 35, que com habilidade, há 21 anos, diariamente, costura sapatos, bolsas e toda sorte de itens de couro.

Sob a sombra de um guarda-sol, armado na calçada de um prédio público na esquina da Rua Augusta - a conhecida Rua das Árvores - com a Rua Cincinato Pinto, tece também a história de sua vida, tão difícil quanto a costura de uma botina de couro.

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No ano de 2010, o sapateiro Reinaldo conseguiu a aprovação no vestibular de uma faculdade privada. Começou o curso de administração. Era a realização de um sonho. Aos clientes mais tardios, que costumavam chegar às 17h, Reinaldo logo avisava: "Vou terminar rápido o serviço porque não posso me atrasar para a faculdade".

Avisava, porque segundo Reinaldo, a crise lhe "apertou os sapatos" e o levou a ter que trancar os estudos no 6° período.

Com a experiência que adquiriu no curso superior, o sapateiro avalia que o cenário econômico atual é muito desfavorável principalmente para os trabalhadores mais simples. Em consequência do aperto generalizado que recai sob a população em geral, ele viu o movimento na busca por seus serviços cair 40%, segundo ele, o que impossibilitou de pagar as mensalidades da faculdade.

É com o dinheiro do serviço que ele também mantém dois filhos biológicos, uma de criação, e reforma a casa em que mora. Ciente dos perigos que as dívidas trazem, ele preferiu trancar o curso superior.

INFÂNCIA

Bem criado durante a infância, Reinaldo viu o rumo de sua vida mudar aos 11 anos quando perdeu o pai. Órfão, teve que começar a trabalhar para ajudar no sustento de casa.

Começou pegando "carrego" na feira, como é chamado o ato de levar as compras das pessoas até a casa delas, mas foi aos 14 que recebeu a proposta de um amigo. "Ele disse que me ensinaria uma profissão, me levou ao Centro e durante um ano acompanhei ele costurando. Depois disso vi que já tava pronto e comecei sozinho, de lá pra cá já se vão 24 anos nesse serviço", lembra.

Com as mãos ocupadas guiando o couro sob a agulha da máquina, Reinaldo, que teve que largar cedo o lápis que, segundo ele, também manuseava de modo hábil, garante: "minha história dá um livro e eu já tô organizando tudo para escrever", revela.


				
					Sapateiro tranca faculdade de administração devido à crise e sonha com concurso
FOTO: Ailton Cruz

Morando com a madrasta desde a perda do pai e tendo que sustentar a casa, Reinaldo voltou tardio aos estudos. O fato de ter sido pai aos 20 anos também influenciou no peso das responsabilidades.

Mas as lembranças do tempo de escola e do prazer que tinha em estudar fizeram com que o sapateiro voltasse a estudar.

CURSINHO

Para recuperar o tempo que havia passado, Reinaldo procurou os programas de governo que oferecem o término dos estudos em menos tempo e assim fez. Em poucos anos concluiu o ensino fundamental e o médio.

Entusiasmado, Reinaldo não parou mais. Alimentara o sonho de ser administrador.

Com a faculdade trancada devido às dificuldades financeiras, ele não parou de estudar. Se antes dizia que tinha que terminar logo o serviço porque iria à faculdade, hoje ele avisa: "não posso me atrasar para o cursinho".

Mais barato que o curso superior, Reinaldo está matriculado em um cursinho que prepara os alunos para se submeterem à concursos públicos. "Quero estabilidade, arrumar um emprego certo e se for na área administrativa é que vai ser a realização do meu sonho", relata.

Com tino para os negócios, Reinaldo afirma que também pensa a longo prazo em abrir seu próprio negócio. "Ai poderei colocar em prática tudo que tenho aprendido e poder realizar mais sonhos, além de oferecer para os meu filhos condições melhores do que as que eu tive. Quando tinha meu pai eu tinha tudo, mas, quando perdi ele foi que tudo dificultou para mim", reflete.

Mas, quem pensa que Reinaldo desistiu do diploma do curso superior, está enganado.

Segundo ele, mais do que uma promessa de fim de ano, já está preparando tudo para retornar à faculdade de administração em fevereiro do ano que vem. "Já tô me planejado, vendo as contas e vou encaixar de novo a mensalidade dentro do meu orçamento mensal", planeja.

Reinaldo revela que as pessoas reagiam com espanto quando ele anunciava que ia à faculdade, e agora que vai ao cursinho, mas, de acordo com ele, isso não deveria causar espanto.

"Mesmo na crise, o sapateiro pode ser um administrador, as pessoas podem mudar a realidade delas e os estudos são o caminho para isso", acredita o sapateiro.

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