Começou como uma brincadeira e se transformou em ofício. Ou melhor, em "paixão". Aos 30 anos, Samuel Melo já chamava a atenção quando, aos 9, interpretava o pequeno Tide, em "Laços de Família". Com a reapresentação da novela, vem aquela onda nostálgico de quando dava os primeiros passos na carreira, as memórias com o elenco nos bastidores e as amizade feitas à época.
"São tantas coisas... Lembro dos momentos felizes, junto com a Carla Diaz. Quando ia gravar, eu ia me divertir, na verdade. Como criança, não tinha tanto aquela coisa de que era um trabalho, apesar de a gente ter essa noção. Mas só de estar junto com a galerinha, como o meu pai (personagem Laerte, interpretado por Luciano Quirino). Tinha uma harmonia muito boa e as crianças eram muito queridas nos bastidores"
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Samuel conta que algumas dessas amizades ele carrega até hoje. Uma delas é Patrick, que morava numa das locações onde a novela era gravada, alugada pela equipe. Os dois são próximos até hoje. O ator também mantém contato com Carla Diaz, com quem ele dividiu grande parte das cenas em "Laços de família".
"Somos amigos. A gente se fala de vez em quando. Trocamos mensagens, perguntamos como estão nossas famílias e tudo mais. Mas se encontrar não, por conta dessa pandemia... Mas trocamos mensagens de carinho, sim."
A novela, porém, não foi o primeiro trabalho do ator, ele havia participado de "Força de um desejo" (1999)" e fez parte do elenco de outras depois, como "A Padroeira" (2001) e "Agora que são elas" (2003). Aos 14 anos, porém, interrompeu a atuação para tentar a carreira de jogador de futebol. Passou por alguns clubes mas, como o próprio diz: "bati na trave". O jovem, então, voltou para à carreira artística cerca de cinco anos depois, de onde não saiu mais. De lá para cá, fez peças de teatro, trabalhos como "Liberdade, Liberdade" (2016), além de papéis em outras emissoras.
É a paixão da minha vida. O prazer de viver várias vidas tendo apenas uma. O artista tem uma responsabilidade grande, quando sobe no palco, para mudar ou inspirar a vida de alguém. E mudar para o bem. Esse é o meu prazer", conta ele sobre o ofício.
Samuel é cria do "Nós do Morro", no Vidigal, Zona Sul do Rio, responsável por revelar vários atores. O artista, aliás, é orgulhoso de ser parte do projeto, que inspira tantas pessoas. "Dar acesso para quem não tem acesso", resume. Ele, que está solteiro, mora na comunidade até hoje. E é apaixonado pelo local.
"Eu não saio do Vidigal por nada. Eu amo esse lugar. Costumo dizer que aqui é uma vila, onde todo mundo conhece todo mundo. É até engraçado, me chamam de político, porque eu falo com todo mundo. A moça do restaurante, a galera do mototáxi. Muito difícil sair daqui, que eu amo de paixão. Minha família também está toda aqui", acrescenta ele, que começou no "Nós do morro" em 1997.
A consciência de ser um artista negro e oriundo de comunidade foi aumentando ao longo da vida. Olhando para trás, enxerga que em outros trabalhos, como "Laços de Família", havia poucos "pontinhos pretos" e muitos "pontinhos brancos" na tela. Samuel reconhece a importância da representatividade e fica feliz em saber que contribui para a mudança de paradigma. Para ele, aliás, houve melhora no cenário. Mas ainda está caminhando para um quadro ideal.
"Tempos atrás era uma barreira, mas com os irmãos batendo a perna, isso foi mudando. Claro, está tudo engatinhando. As mudanças acontecem de uma forma lenta e ainda há resistência para ocupar esses espaços. Mas a gente consegue, porque o povo preto se unindo, a gente vai conseguir chegar onde a gente quiser. E o momento é agora."