O dançarino e coreógrafo Carlinhos de Jesus, de 67 anos, recebeu alta médica nesta quinta-feira (30) após precisar ser internado no Hospital Copa D'Or, na Zona Sul do Rio por causa do novo coronavírus. Ele e a mulher, Rachel, testaram positivo para a Covid-19, mas só Carlinhos precisou de internação. Em conversa exclusiva com Quem, o coreógrafo fala o que sentiu, como enfrentou a doença e como vê o futuro da pandemia no Brasil.
"Sou um empresário, tenho uma Escola de Dança, vários trabalhos foram cancelados e a curto prazo tenho muito receio do 'futuro', de como manterei minhas responsabilidades, me assusta toda essa novidade, estamos ainda perdidos, minha atividade é de entretenimento e é a que primeiro sofre em uma contenção de despesa. Sou otimista, acredito que acharemos uma forma de driblar as dificuldades e acertar o jogo da vida", diz.
Leia também
Leia abaixo a conversa completa com Carlinhos:
Desde o início da quarentena, você está em casa, tomando todos os cuidados e sem receber visitas (só saiu uma vez para ir ao mercado). Você acha que foi contaminado ali?
Estávamos tomando todas as precauções, não recebíamos visita nem da minha filha e do meu genro, estávamos trancados em casa, saímos uma única vez, fomos ao supermercado, também tomando todos os cuidados. Fomos cedinho, às 6h30, com pouquíssimas pessoas, estávamos de máscara e ficamos mais ou menos uma hora e meia. Depois disso as compras foram só por delivery. Acho que nos contaminamos ali, porque passados mais ou menos oito dias Rachel começou com febre e foi um turbilhão.
O que você sentiu? Ficou muito assustado com os sintomas?
Na verdade, quando iniciaram os sintomas... E como tínhamos tomado a vacina da influenza e pneumococo 23, portanto estávamos protegidos da gripe anual... Minha cunhada Luiza Martins Vieira, médica infectologista, resolveu fazer o protocolo da Covid 19 pois achou suspeita a nossa sintomatologia. Evoluímos muito bem e em cinco dias estávamos sem febre e sem sintomas. Mas, dois dias depois, a febre voltou muito alta, com cansaço, prostração, inapetência, não conseguíamos ficar de pé, não tínhamos falta de ar, só mesmo um cansaço surreal, fomos então ao Hospital Copa D'Or para exames mais elaborados e a tomografia apresentava pneumonia viral, imagem de vidro fosco, característica da Covid-19, tomando 50% do meu e 25% dos pulmões de minha mulher. Aí fiquei internado, direto na UTI, esse foi um momento muito difícil...
Muita gente que teve a Covid relata que a doença tem altos e baixos, em alguns dias a pessoa acorda melhor, em outros pior. Como foi com você?
Exatamente, tem dias que você acha que está bem, fica mais esperto e, de repente, vem a febre, o cansaço, o mal-estar, os dias vão passando, é desesperador. A minha evolução, até hoje, dia da minha alta, 30 de abril, foram 18 dias. E continuo em tratamento, mas hoje me sinto realmente bem.
O que é mais difícil na Covid?
É difícil lidar com os sintomas físicos e psicológicos, teve um momento no ato da internação que achei que poderia morrer. A tranquilidade veio porque estava sendo muito bem atendido e passei a acreditar que ia ficar bem, o meu psicológico melhorou.
Na TV e na internet as notícias são bem desanimadoras. Você deu um tempo nos noticiários por conta disso?
Sim! Primeiro não tinha vontade de nada, depois, quando melhorei, via entrevistas médicas e técnicas, filmes e o canal Multishow, o 'Vai que Cola', programa de humor.
Em algum momento você teve medo da evolução da doença?
Procurei não pensar na evolução da doença, tive muita fé de que ia ficar bem e a presença da minha cunhada me acompanhando e tirando todas as minhas dúvidas, conversando com os médicos, me deu muita tranquilidade e a certeza que sairia dessa.
Você e a Rachel adoeceram. Como fazem com as tarefas do dia a dia?
Temos um empregado, José Roberto, há 30 anos, que mora conosco. Graças a Deus não se contaminou e é quem faz todo o trabalho da casa, limpeza, comida, etc.. Minha filha Tainah é nossa vizinha e faz todos os pedidos de farmácia, feira, supermercado, enfim, nos dá todo o suporte necessário.
O que você tem a dizer a quem ainda acha que a doença é uma gripezinha?
É um verdadeiro engano achar que é uma gripezinha, só quem passa pela doença sabe. Pode até ser de forma mais branda para alguns, mas mata também, quem vai pagar para ver? Não é uma doença qualquer, é avassalador, e o isolamento é necessário pois se todos se infectam ao mesmo tempo não haverá sistema de saúde que dê conta. Na UTI onde eu estava, havia 9 baias e todas ocupadas. O que tenho a dizer é: só saiam de casa numa real necessidade.