O charmoso beco fica bem ali, onde antigamente funcionavam as boates Alhambra e Tabariz, cenários das histórias mais boêmias do bairro histórico do Jaraguá, em Maceió. Chamado de Beco da Rapariga, o local volta a receber a badalação noturna de outrora, nesta quarta-feira (5), das 20h às 00h. Trata-se do projeto Som do Beco, idealizado por Hélvio Gama, proprietário do Rex Jazz Bar. O estabelecimento é responsável pelo movimento que tem levado as pessoas a ocuparem novamente a região.
A ideia é independente do Rex Bar, mas se conecta com a história do local. Afinal, é impossível não recordar as históricas noites de jazz na Praça do Rex, na Jangadeiros Alagoanos, quando nomes como Júnior Almeida, Ricardo Lopes, Carlos Bala, Van Silva, Xique Baratinho, DJ Barão, Barba de Gato e The High Club rompiam o silêncio com música da mais alta qualidade. De acordo com Hélvio, a ideia é, sim, rememorar essas noites de música e confraternização, além de reafirmar a necessidade de ocupar cada rua, cada beco do Jaraguá — atual endereço do Rex.
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Na noite de estreia, o Som do Beco recebe Geraldo Benson, lenda alagoana da guitarra. Será um show a céu aberto e também haverá uma exposição, denominada “Esqueceram de Mim”. De acordo com a produção do evento, o projeto é aberto ao público, mas recebe contribuições voluntárias, o que ajudará a arcar com custos e cachês.
O BECO DA RAPARIGA
Apesar de o Jaraguá não ter sido, ao longo do tempo, um local apenas de cabarés e prostituição — realidade que marcou o bairro histórico por algumas décadas — a fama precede o lugar. Não é raro ouvir histórias apoteóticas, com personagens marcantes, figuras vultosas e até mesmo nomes de alcance nacional, que buscavam no bairro diversão e prazer.
Mesmo assim, era um bairro residencial, que desfrutava da Praia da Avenida e do Riacho Salgadinho limpos, com moradores ativos que assistiam a tudo nas portas de suas casas, em segurança. O cenário, de acordo com o escritor Carlito Lima, começou a mudar quando, na década de 1970, o governo de Alagoas ordenou o fechamento das casas noturnas, transferindo-as para o Canãa, também em Maceió.
“Aí começaram a derrubar os casarões”, lembrou Carlito. “Eu, Zélia Maia Nobre, Pierre e Solange Chalita e outros fizemos um movimento cobrando do governador o tombamento do Jaraguá e assim o foi feito. Mas antes que isso acontecesse o bairro foi bastante deteriorado, prédios incríveis foram derrubados para a construção de prédios mais modernistas”, afirmou Carlito em entrevista à Gazeta de Alagoas, em 2019.
Segundo ele, há uma lenda por trás do Beco da Rapariga, atribuída à esposa do secretário de Segurança Pública à época, em 1969. Carlito Lima conta que a mulher do gestor da pasta, passava às seis da manhã pelo local, quando presenciou um boêmio, fazendo xixi no meio-fio da calçada e que, por isso, as prostitutas foram expulsas do local.
Essas informações não foram confirmadas, mas, de acordo com o historiador, o fato é que o secretário, Coronel Adauto, foi o responsável pelo fechamento das boates de Jaraguá.
“Minha teoria é que as prostitutas passaram 70 anos no lugar e conservaram involuntariamente o nosso patrimônio arquitetônico. E aí, nós [um grupo de intelectuais alagoanos] quisemos fazer uma homenagem e fizemos uma placa para colocar no beco. A placa ‘Rapariga Desconhecida’. Era o beco mais movimentado da região, entre as duas boates mais famosas, a Alhambra e a Tabariz, bem defronte à Associação Comercial. O pessoal dizia ‘vamos nos encontrar no Beco da Rapariga” e ficou. Quem inventou não sei, mas pegou”, lembra.