A produção literária precisa de leitores para que possa fluir, mas, antes, sem o autor que dá vida a todo processo criativo, haveria apenas o vazio à espera de uma brecha para a sua libertação. E em Alagoas mais um estímulo surgiu, para garantir a expansão da arte da palavra. A Feira Literária de Arapiraca (Fliara), realizada em sua primeira edição, confirma que, com envolvimento, esforço e incentivo do poder público e da iniciativa privada é possível mobilizar toda uma comunidade em torno do livro, do saber, do apreciar, do construir uma sociedade envolvida com arte e cultura e suas diversas manifestações. E novos rumos já são traçados para breve.
No período de quatro dias, a Praça Luís Pereira Lima, que abriga prédios públicos voltados ao conhecimento, a exemplo da Casa da Cultura, biblioteca pública, Museu Zezito Guedes e Escola de Artes, tornou-se palco para que autores locais, escritores conhecidos nacionalmente e artistas - entre pintores, escultores, músicos e atores -, pudessem revelar seus talentos em torno da literatura. E em sua primeira edição, a Fliara chegou para ficar e descobriu que seu caminho passa pela educação.
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E é por esta área essencial em qualquer sociedade que a Feira de Literária de Arapiraca, ainda envolta nos bons resultados, já prepara sua próxima edição para 2019 a partir das escolas do município.
"Nossa perspectiva é já iniciar a Fliara no começo do ano, interagindo com as escolas, numa espécie de 'Fliarinha', como estímulo à produção de conteúdo pelos próprios estudantes e culminância com a realização da segunda edição da feira, quando devem apresentar os resultados", antecipa Rosângela Carvalho, secretária municipal de Cultura, Lazer e Juventude. Ela mesma destaca a miscelânea que aconteceu com a realização da primeira edição, entre quinta-feira e domingo desta última semana, quando foram reunidos em diversos ambientes da praça mesas literárias com debates entre escritores, lançamento de livros, exposições de artes, performances e shows musicais.
"Nesse período, pudemos ver autores que estavam com obras prontas e se sentiram estimulados a voltarem a escrever. A Fliara trouxe esse encantamento. Contamos com a participação de escritores locais que organizaram e produziram suas próprias obras de forma artesanal. É como se a feira já existisse, as pessoas necessitassem dela e viessem em busca de conteúdo", pontua Rosângela.
Nesse contexto, a pesquisadora e escritora Maria Aparecida de Farias aproveitou para relançar sua obra "O romper do silêncio", que trata sobre "a trajetória da educação escolar em Arapiraca de seu povoamento até a década de 1950". Um livro de pesquisa que revela como era a educação à época influenciada diretamente pelos homens mais ricos e, principalmente, pela igreja. Ao promover o lançamento na feira, ela se disse entusiasmada a seguir com sua pesquisa e considerou a possibilidade de produzir um segundo volume sobre o tema com abordagem da educação na atualidade.
"Este livro vem preencher parte das diversas lacunas que existem sobre o processo de escolarização em Alagoas, principalmente no Agreste e Sertão alagoanos, destacando-se a região de Arapiraca, abrindo novos caminhos para futuras investigações e fornecendo pistas para novos estudos", destaca a autora em sua obra, publicada pela Eduneal, editora da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal). Na feira, além de representações de editoras comerciais, também fazia parte a Edufal, editora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
E com a realização da primeira edição da Fliara, a produção literária pelo interior do Estado parece contar com novos reforços com a manifestação de outros municípios em realizarem eventos semelhantes. Uma comitiva do campus da Ufal em Delmiro Gouveia participou da feira e solicitou apresentação do projeto, para futura execução na cidade do Alto Sertão alagoano.
Viram-se ainda mais motivados ao sentirem e vivenciarem toda a movimentação de moradores e visitantes envolvidos com as obras e participações de escritores, como os alagoanos José Inácio Vieira de Melo e Arriete Vilela, que já circulam no meio literário nacional, a exemplo da atriz e também escritora Maitê Proença, outra convidada do evento, com direito a momento de autógrafo e diálogos com o público sobre sua produção criativa, sobre a arte da palavra. Ela própria pode ver de perto em uma das bancas da feira o reconhecimento do público ao multifacetado Breno Airan, arapiraquense que se envereda pela música e pela literatura e que fez parte da mesa de debates com a autora.
Arte em toda parte
E arte era o que se via por toda a parte, desde o ator travestido em seu personagem a apresentar narrativas para crianças, que também tiveram espaços dedicados a ela, assim como nas exposições de pinturas, desenhos e esculturas de artistas locais e da região. Rafael Brandão, arquiteto por formação e produtor em ebulição, embrenhou-se por vários dias na zona rural da vizinha cidade de Lagoa da Canoa, para produzir suas peças em cerâmica, exclusivamente para expor na Fliara. O que rendeu ao artista vários elogios. Muitas peças dele também foram adquiridas por apreciadores.
Outro destaque ficou com a obra interativa com o uso de tecnologia do artista visual Judivan Lopes e que atraiu centenas de estudantes à exposição no Museu Zezito Guedes. O local abrigava obras de novos artistas, que se somavam a criações de veteranos da região.
A exposição esteve sob os cuidados de alguns dos vários voluntários que se dedicaram à realização da feira, entre eles Maurício Matheus, aluno do Instituto Federal de Alagoas, polo Arapiraca. Com seus colegas de informática, eles produziram projeto para a criação de um portal com obras de artistas locais, a exemplo de Júnior Podolski e seus desenhos realistas.
E saber que a Fliara surgiu do empenho e dedicação de dois escritores, Marta Eugênia e Igor Machado, responsáveis pelo projeto inicial, absorvido e capitaneado pelas Secretarias de Cultura, Lazer e Juventude e de Educação de Arapiraca com o apoio da iniciativa privada, ainda que modesto, reforça que há vontade de seguir em frente a partir dos próprios criadores e seus talentos para as artes, para a literatura. "E seguimos por este caminho", acrescenta Rosângela Carvalho.