Ao norte do litoral alagoano, o povoado de Tatuamunha, em Porto de Pedras, festeja um carnaval peculiar. O Cortejo dos Bobos, tradição secular daquela região, estava ameaçado pela ação do tempo, mas foi retomado este ano por jovens da própria comunidade. A chamada ?ação-piloto? do projeto "Bobos Gaiatos" é um bloco carnavalesco com o gosto e a forma dos antigos carnavais de mascarados. A festa toma as ruas do povoado pesqueiro na tarde deste sábado (22), a partir das 15h.
Encontrados entre o mar e o mangue, em pés de manga, reinando por aí, os bobos adoram um flau de mangaba, um banho salgado e de ter os pés descalços a correr no mato. - Existe todo tipo de descrição para essas ?criaturas?, que há anos vivem no imaginário dos alagoanos do Litoral Norte e que mais uma vez ganharão as ruas de Porto de Pedras, no bloco "Bobo Gaiato".
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Os bobos mascarados são parte importante das tradições carnavalescas do povoado Tatuamunha. Por lá, gerações inteiras tiveram infâncias marcadas por grandes cabeças e folia. A principal característica da brincadeira dos bobos é uma caracterização pitoresca e de expressividade única. Na época do carnaval, os moradores elaboravam as próprias máscaras, com barro, goma de mandioca, papel e tintas, e se vestiam para brincar. Além das máscaras, eles utilizavam adornos, folhas e roupas velhas, chegando até mesmo a cobrir mãos e pescoços, tudo para que ninguém soubesse quem era quem.
Alexandre Marlon nasceu e cresceu na região, ele lembra que participou (mascarado) uma única vez da brincadeira, que começou a definhar logo que ele chegou à adolescência. Na memória, no entanto, o jovem guarda o que via e ouvia: amigos, primos e familiares "mais velhos" ostentando grandes cabeças e desfilando pelas ruas ao som do tarol e de apitos frenéticos. "É a maior festa que existe na minha memória".
Alexandre e mais dois amigos de infância, Thiago Souza e Sebastian Paiva, são os responsáveis pelo coletivo Bobo Gaiato. Eles tomaram para si a missão de salvaguardar a tradição dos bobos e dos carnavais dos mascarados. Para eles, o bloco carnavalesco que sai neste sábado dará o impulso que precisavam para transformar a ideia em algo maior.
"O bloco é o projeto piloto. É um caminho para conscientizar a população sobre a própria cultura. Quando nós nos lembramos da nossa época, a gente mobiliza um sentimento de pertencimento que eu nem consigo descrever. É algo muito nosso", diz Alexandre.
O bloco sairá no sábado de carnaval acompanhado por um orquestra de frevo e pelas cambindas, outra manifestação cultural que resiste em Porto de Pedras. O acesso é gratuito - mas não esqueça de levar umas moedinhas para dar aos bobos.
MESTRE MASCAREIRO
Os jovens do projeto Bobo Gaiato reconheceram a resistência do Mestre Gilberto, que mantém viva a arte das máscaras no povoado. Eles promoveram, nas prévias do bloco, uma oficina com crianças e jovens da região, iniciando o trabalho de salvaguarda desse saber.
Seu Gilberto é pedreiro por profissão, mas nunca deixou de lado o ofício de mascareiro. As primeiras máscaras do artista foram confeccionadas ainda na adolescência. Autodidata, aprendeu a técnica sozinho, para brincar ao lado dos amigos. Na época, os bobos dominavam as ruas de Tatuamunha; hoje, são raros. "Com o tempo foi diminuindo, os mais velhos foram morrendo, e essa turma mais nova gosta de outras brincadeiras", diz ele.
O coletivo de jovens foram até a residência do mestre, que se mostrou animado com a ação dos rapazes.
"As crianças tiveram contato com o processo de construção dessa máscara. E foi um momento muito especial. Desde a nossa infância seu Gilberto faz máscaras para todos e agora nós ajudamos a passar esse saber para as próximas gerações", conta Alexandre.
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