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Artistas repudiam declaração de brega funk como patrimônio de Alagoas

De origem pernambucana, gênero musical se tornou Patrimônio Cultural Imaterial após proposição do deputado Ronaldo Medeiros (PT)

“Desrespeitosa e absurda”. — É assim que a comunidade cultural alagoana classifica a notícia de que o gênero musical brega funk, de origem pernambucana, se tornou Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas, após proposição do deputado Ronaldo Medeiros (PT).

O título foi oficializado por meio da Lei nº 8.757, de 24 de novembro de 2022, publicada no Diário Oficial de Alagoas. Para representantes da cultura popular, o fato tem gerado indignação e desmotivado artistas.

O gênero é genuinamente pernambucano, com músicas que misturam um pouco do brega com o funk carioca e desenrolam em algo novo. Ganhando popularidade dentro das periferias pernambucanas, o auge do gênero aconteceu no carnaval de 2018, com a explosão do hit “Envolvimento”, de MC Loma e as Gêmeas Lacração, Mirella e Mariely. Os artistas locais reconhecem o ritmo e sua importância no estado vizinho, mas questionam a maneira com que o processo de reconhecimento se deu.

Imagem ilustrativa da imagem Artistas repudiam declaração de brega funk como patrimônio de Alagoas
| Foto: Divulgação

Entre passinhos, letras consideradas chicletes e batidas envolventes, as produções de brega funk passeiam pelas músicas que falam de amor até as mais ousadas, como as produções de funk. Sendo amado por grande parte da nova geração, o brega funk desde então tem conquistado corações e, merecidamente, foi reconhecido como patrimônio de... Recife, em Pernambuco.

Agora, o gênero musical encontra-se na seleta lista dos patrimônios imateriais e culturais de Alagoas. A justificativa apontada no Diário Oficial é “reconhecer o trabalho dos artistas de brega funk de Alagoas”, principalmente durante o enfrentamento do isolamento social causado pela pandemia. Porém, para muitos alagoanos, não existem motivos que justifiquem tal homenagem.

Mestra do Guerreiro Campeão do Trenado e Patrimônio Vivo de Alagoas, dona Iraci foi uma das fazedoras de cultura popular que não comemorou a notícia e não entendeu o que motivou a lei. A artista afirma que recebeu com tristeza a notícia, pois os verdadeiros patrimônios alagoanos não são valorizados.

“Fazer cultura é muito difícil! Fiquei muito triste, chega até ser revoltante esse tipo de coisa e tenho certeza que outros mestres da cultura popular compartilham do mesmo sentimento. Desde meus 8 anos de idade que estou vivendo o folguedo, que é o Guerreiro, e sei como é pouco o apoio dado para os grupos”, disse ela.

Imagem ilustrativa da imagem Artistas repudiam declaração de brega funk como patrimônio de Alagoas
| Foto: Jonathan Lins

Ivan Basan, presidente da Associação dos Folguedos Populares de Alagoas (Asfopal), acredita que a valorização daquilo que é de fora já é um comportamento comum em Alagoas. ele diz que, desde que a lei foi sancionada, diversos associados falam da condecoração como um fator desmerecedor da cultura popular alagoana e que seria um motivo para “desistir da luta que é manter vivo os tradicionais folguedos”.

“Quando você privilegia o que vem de fora, logicamente você prejudica e desmerece o que você tem dentro da sua própria casa. Existem diversas manifestações tradicionais muito ricas dentro de Alagoas, e, quando falamos isso, nós não estamos desmerecendo o brega funk, mas é incoerente esse tratamento com algo que não é nosso”, defende.

Pesquisador e produtor cultural há 30 anos, o jornalista Keyler Simões encara a homenagem como uma aberração e um alerta à alienação.

“Não há justificativa para essa declaração de um gênero musical originário em Pernambuco, sem grande peso em Alagoas, sem desmerecer seus amantes, praticantes e fãs, mas nossa Alagoas tem uma riqueza cultural imensa, poderia ter outras manifestações homenageadas”.

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Simões ainda destaca que o decreto não desvaloriza a cultura alagoana, pois ela é bem superior a tudo isso, principalmente a um gênero cultural de menos de 30 anos de existência. Porém, o fato demonstra uma falta de respeito com manifestações mais antigas, como o Guerreiro, com mais de um século em Alagoas, o Fandango e o Pastoril.

Para o músico, pesquisador e crítico musical Mácleim Damasceno, a homenagem ao gênero musical é “tipo fake” e começou errada desde o princípio, sendo uma questão oportunista de quem propôs, sem ao menos pensar se era coerente.

O artista explica que, para tornar algo patrimônio imaterial é necessário uma avaliação criteriosa e que isso certamente não foi o caso. Além disso, Mácleim destacou a problemática que envolve o título dado ao brega funk, levando em consideração o fato de haver diversas manifestações culturais dentro de Alagoas que não recebem o devido reconhecimento.

“Se você outorga um título desse a um gênero musical que não pertence ao estado, você está, no mínimo, desconstruindo os outros que são merecedores de fato e de direito desse título. É como dizer que aqueles que mantêm as tradições vivas não significam nada, chega até ser uma afronta à cultura alagoana. É absurdo e uma visão completamente errada”, completa.

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