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HOME > notícias > CULTURA

Antônio Fagundes fala à Gazeta sobre gravações em Alagoas e investimentos no setor cultural

Em entrevista exclusiva, ator conta sobre os bastidores de "Deus Ainda é Brasileiro", novo filme do alagoano Cacá Diegues

Os cabelos e a barba brancos, a voz macia e a generosidade não deixam dúvidas de que estamos diante de um verdadeiro Deus da dramaturgia nacional. Vinte e um anos depois de ter dado vida à Ele no filme “Deus é Brasileiro”, do cineasta alagoano Cacá Diegues, o ator Antônio Fagundes volta às terras alagoanas para filmar “Deus Ainda é Brasileiro”, um spin-off, (espécie de derivação) do longa de 2003.

Nesta entrevista exclusiva à Gazeta de Alagoas, o artista, que coleciona mais de 50 filmes, 40 novelas e quase 60 peças de teatro no currículo, fala do privilégio de voltar a filmar com Cacá e no Nordeste, e da importância de o filme ser uma comédia cívica neste momento político conturbado que estamos passando — sin perder la ternura.

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Fagundes falou ainda da beleza que é ser ator e, em consonância com a resistência da sétima arte, faz críticas à condução da cultura no Brasil e diz acreditar que políticas públicas voltadas para a área devem ser de Estado, e não de governo. Antônio Fagundes também comenta com desconfiança sobre o mercado de streaming por causa da frivolidade dos novos tempos e diz que é no palco que ele, de fato, se realiza.

GAZETA DE ALAGOAS. É o seu segundo filme com o diretor Cacá Diegues. Como está sendo a experiência de fazer, talvez, um dos últimos filmes desse cineasta que tem uma representatividade tão grande para o cinema nacional?

ANTÔNIO FAGUNDES. Esperamos que o Cacá ainda faça muitos filmes (risos). Mas é engraçado porque já se passaram vinte e um anos desde o primeiro Deus, né? Voltar com o mesmo personagem esse tempo todo depois está sendo muito divertido. O roteiro é muito bom, assim como o primeiro, está sendo muito gostoso fazer. Cacá tem grandes insights, é inteligentíssimo, então está sendo maravilhoso. Além disso, a equipe é extraordinária, o clima no set é muito gostoso... Nossa, incrível!

O senhor acredita que este filme é oportuno para o momento político que o país vive?

Nossa, mais do que nunca! Quando a gente fala “Deus Ainda é Brasileiro” queremos dizer que ainda temos esperança que as coisas caminhem um pouco melhor. O filme retrata um pouco isso mesmo: esse transtorno que a humanidade cria pra si mesma, mas que, de repente, tem uma esperança, uma pequena luz no fim do túnel. E que nós vamos perseguir essa luz até o fim.

A ideia do filme é justamente trazer essa discussão à tona. O senhor acredita que agora, com um novo governo chegando, o cinema nacional volte a receber mais incentivos, que a cena cultural brasileira seja mais valorizada?

Sim, nós não sabemos ainda o que vai acontecer, mas com certeza serão tempos melhores do que os últimos anos. Além dos incentivos terem sido prejudicados, houve um desmanche na área da cultura — não foi só na cultura, mas principalmente na cultura. A gente sabe disso. Por ser mais frágil que outros setores, a cultura naturalmente sofre mais, já que depende muito de patrocínios. Toda essa fala que se tem por aí de que os patrocínios são muito robustos e tal, não é verdade. Já foi provado que a cada um real aplicado em cultura, vinte e quatro reais retornam para a sociedade. Portanto, é investimento, criação de empregos, de movimentos. Um filme, uma peça de teatro, uma orquestra sinfônica ou um museu mexem com toda a sociedade. A cultura é importantíssima para qualquer povo, é onde você se identifica, onde você se entende como nação. Certamente, melhor do que está, será. Agora, só nos resta torcer para que seja realmente melhor.

Como ator o senhor prefere fazer cinema, televisão ou teatro? Se sente mais à vontade no teatro?

Eu gosto de excluir o teatro dessa comparação porque o teatro, a meu ver, é a pátria do ator. É no teatro que o ator erra, é onde ele ousa. É pra lá que ele alça voo, se expõe de verdade diante de uma plateia ao vivo. No teatro eu brinco, dou saltos triplos, mortais, sem rede. Você está lá exposto para dar o que tem de melhor, é a base do trabalho do ator. No palco, você usa tudo que aprendeu — essa foi, pelo menos, a minha formação, e levo essa bagagem para outros veículos. E todos eles têm a sua importância. Até porque o teatro, apesar de ser tudo isso, é limitado em termos de comunicação. Você tem, quando muito, mil pessoas por dia. Uma plateia, um cinema, atinge milhões de pessoas, e uma novela, centenas de milhões de pessoas no mundo todo. Essa é a diferença entre os veículos. Mas excluindo o teatro disso, ele é a fornalha.

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O senhor está em cartaz há mais de três anos com a peça “Baixa Terapia” e deu um intervalo nas apresentações para gravar o filme. Do que se trata a peça?

Nós só interrompemos as apresentações por causa da pandemia. Fizemos uma pausa para as gravações do filme e vamos estrear em 13 de janeiro no Rio de Janeiro. Teremos uma nona temporada, já tivemos mais de 350 mil espectadores e já fez muito sucesso. Ela é basicamente a história de três casais que se encontram no consultório da psicanalista e descobrem que ela não foi. Então, a psicanalista deixa uns envelopes com instruções para que os próprios casais sigam com a terapia sem ela. Imagina as coisas que acontecem! (risos). A peça é realmente muito engraçada e um grande sucesso. Com essa quantidade toda de espectadores, já viajamos 27 cidades do Brasil e fomos além-mar: levamos o espetáculo até Portugal.

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Precisam vir a Maceió...

Não viemos ainda porque esse é um dos problemas que a cultura tem. A gente não consegue, com o dinheiro da bilheteria, arcar com todas as despesas de transporte, estadia, cenário, alimentação, é complicado isso...

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Precisa de apoio...

A gente pegou aí um viés político desinformado que não entende que sem apoio nós não teríamos Beethoven, Bach, Michelangelo, o Louvre não existiria... Só que pra essas pessoas isso não tem a menor importância. Não valorizam, não conhecem, nunca foram e nunca irão...

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O Nordeste conta com artistas e produtores incríveis e o público local faz questão de prestigiar os espetáculos que vêm até aqui. O que é preciso para que mais produções cheguem até a região?

Vou falar aqui de uma contradição: as mesmas pessoas que acham que é importante que outras companhias venham para o estado são aquelas que são contra os patrocínios. Uma coisa não bate com a outra! É impossível fazer uma turnê com uma peça de teatro apenas com o dinheiro da bilheteria! As pessoas não têm a menor noção de quanto custa produzir uma peça, um filme, alugar uma sala de espetáculo, pagar os custos de deslocamento de toda uma equipe. As pessoas falam, inclusive, de mamata, e isso é um absurdo! Realmente, é preciso ter uma macro-organização, uma política cultural de Estado, e não de governo, porque a cada governo que entra, muda tudo, então, tem que ser uma coisa de Estado. Imagina você se o Louvre fosse gerido por políticas de governo? As pessoas também não sabem a diferença entre Estado e governo, aí, desculpa, não dá pra conversar. Aí não dá, né, nem Deus resolve... (risos)

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O filme “Deus Ainda é Brasileiro” só está sendo possível porque o governo de Alagoas o subsidiou com R$ 6 milhões. Essa foi uma primeira iniciativa de grande porte voltada para a cultura do Estado. Se outros estados tivessem a mesma iniciativa você acredita que o cinema nacional estaria vivendo uma outra realidade?

É importante que se diga que esse dinheiro que serviu pra financiar parte do filme está sendo todo deixado aqui. 95% da equipe técnica e do elenco são de Alagoas. Esse dinheiro não saiu do estado, ele está circulando aqui! Essa é uma forma de se estimular, inclusive, o audiovisual alagoano e a economia como um todo. É o buffet, o transporte, uma cadeia enorme de empregos que se cria com a produção de um simples filme. Imagine se a gente tivesse uma indústria como a americana, que produz mil filmes por ano? Meu Deus do céu, quanta coisa maravilhosa nós, brasileiros, estaríamos produzindo.

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O streaming promoveu uma verdadeira transformação no mercado audiovisual. Várias produtoras estão surgindo e abrindo um leque de oportunidades para os profissionais da área. O senhor acredita que o streaming veio para ficar?

Não sabemos ainda. Estamos numa fase de transição, de implantação, digamos assim. A gente não sabe o que vai acontecer. Na verdade, nem eles sabem, porque estão investindo numa nova modalidade e nós sabemos que essas novidades acabam muito rapidamente. Então, daqui há um tempo eles podem achar que isso não vale mais a pena e, ah, vamos fazer metaverso agora e acaba com tudo. Então, vamos esperar um pouquinho pra gente definir se é bom ou não.

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O senhor tem uma bagagem que te permite fazer esse tipo de avaliação. Tem muitos atores que estão investindo forte, saindo da TV, deixando de fazer cinema para fazer séries de streaming...

Eu acho perfeitamente viável fazer isso, mas que não jogue sua vida inteira nisso não... (risos). Não recomendo. É um conselho que dou para essa nova geração de atores.

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E os projetos, como estão?

Nossa, mil projetos, inclusive streaming (risos). Sou produtor de teatro há 45 anos! Tenho um projeto fantástico que está em andamento no streaming, mas que não posso falar muito ainda; estou aqui em Alagoas fazendo o filme com o Cacá; temos a “Baixa Terapia que vamos estrear em janeiro no Rio, além de outro projeto para teatro na manga assim que encerrar a temporada de “Baixa Terapia”. No cinema, produzi um filme só, mas quero fazer mais. Eu não tenho patrocínio (produzi sem) e, inclusive, estou procurando textos para levar pra telona. A gente não para! No cinema, eu fiz um filme recentemente chamado “Contra Parede”, que está no Globoplay. É um filme produzido por mim, pela Fa Filmes, e quero continuar com essa coisa da produção. É algo que me interessa, levar a minha experiência de produção do teatro para o cinema, que é muito mais complexo em termos de capital envolvido.

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