
Por trás das luzes cintilantes de Nova York, Sean Baker apresenta Anora, uma obra provocativa que disseca as camadas mais profundas do sonho americano através dos olhos de uma dançarina exótica transformada em esposa de um magnata russo.
Annie, uma dançarina de clube noturno interpretada magistralmente por Mikey Madison, vê sua vida dar uma guinada dramática ao se casar impulsivamente com Ivan, herdeiro de um império de diamantes russo. O que começa como um aparente conto de fadas moderno logo se revela uma narrativa sombria sobre poder, classe social e sobrevivência. A protagonista mergulha em um mundo de festas luxuosas e excessos, enquanto enfrenta a hostilidade implacável de sua nova família, que mobiliza três funcionários desajeitados para sabotar o casamento em uma série de esquemas que oscilam entre o cômico e o cruel.
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Baker mantém sua assinatura característica de retratar realidades marginais, desta vez elevando o contraste ao máximo ao justapor o submundo nova-iorquino com a opulência da elite russa. A direção de fotografia estabelece um diálogo visual potente entre esses dois universos: o brilho ofuscante dos diamantes contrasta com a iluminação crua das ruas, criando uma metáfora visual sobre as disparidades sociais que o filme explora.

Mikey Madison oferece uma performance extraordinária como Annie (Anora), construindo uma personagem que transcende o arquétipo da “garota em busca de uma vida melhor”. Sua interpretação navega com maestria entre momentos de vulnerabilidade genuína e força interior, revelando as complexas camadas de uma mulher que se recusa a ser definida por suas circunstâncias.
O filme vai além de uma narrativa superficial de ascensão social, mergulhando em questões profundas sobre identidade, poder e autenticidade. Baker questiona o preço do pertencimento e explora as diferentes faces da violência — desde a física até a sutil violência das convenções sociais. A história de Annie serve como um espelho que reflete as contradições de uma sociedade obcecada por status e aparências.
Anora se destaca como uma obra que desafia expectativas e convenções. Através de sua narrativa ousada e performances memoráveis, o filme oferece uma crítica incisiva ao materialismo contemporâneo, enquanto celebra a resiliência do espírito humano. É uma experiência cinematográfica que permanece com o espectador muito depois dos créditos finais, provocando reflexões sobre privilégio, autenticidade e o verdadeiro significado de sucesso.

Sean Baker entrega um filme que é simultaneamente um retrato íntimo de uma mulher em transformação e uma crítica social abrangente. Anora é uma obra que incomoda e fascina, revelando as complexidades da mobilidade social e o custo humano da busca pela aceitação em um mundo governado por aparências.
ONDE ASSISTIR
Cinesystem - Parque Shopping Maceió: 19h05 | 21h50 (Sala VIP)