Imagem
Menu lateral
Imagem
GZT 94.1
GZT 101.1
GZT 101.3
MIX 98.3
Imagem
Imagem
GZT 94.1
GZT 101.1
GZT 101.3
MIX 98.3
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no facebook compartilhar no linkedin
copiar Copiado!
ver no google news

Ouça o artigo

Compartilhe

HOME > notícias > COMPORTAMENTO

Assexuados: a quarta orientação sexual?

Grupo quer sexualidade reconhecida entrea a heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade

Eles não são castos, imaturos, impotentes, inexperientes ou traumatizados, simplesmente dizem não sentir atração sexual. Estudos feitos pelo sexólogo Anthony F. Bogaert comprovaram que o fenômeno ocorre com 1% da população, cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo.

Rafael, um espanhol que prefere ter seu verdadeiro nome preservado, tem 27 anos, é astrofísico e segundo ele mesmo é assexuado. Na adolescência se sentia diferente dos demais por não ter tido o clássico despertar sexual. As pessoas diziam que ele era esquisito ou homossexual. Através do Google descobriu o que era: assexual. "Não foi uma descoberta traumática, simplesmente soube que era algo perfeitamente normal que acontecia com muitas pessoas", disse ao jornal espanhol El País.

Leia também

"Quando estou na balada, os outros acham alguém atraente, dizem que ?transariam com ele ou ela?, comigo isso não acontece, tenho noção que a pessoa é atraente, bonita ou simpática, mas não penso, ?eu pegaria fulana'", explica.

Nas buscas pela internet, ele também descobriu que existe uma grande comunidade virtual de assexuados, Asexuality Visibility and Education Network (AVEN). "Você se sente como um alienígena, porque não tem empatia com os demais. Acha que tem que fingir ou aparentar para se encaixar", conta Marcia, uma menina assexuada amiga de Rafael.

Embora estudassem na mesma universidade, eles se conheceram em um fórum, em que falavam sobre Naoko, uma personagem do romance Norwegian Wood de Haruki Murakami. "É um retrato 200% realista. Ela se culpa por não poder fazer sexo com seu namorado, até tenta ter uma relação com uma garota e tem episódios de sexo não claramente consentidos? É uma assexuada da literatura", diz Marcia.

SEXO

Ambos revelam que já tiveram relacionamentos amorosos, mas nenhum satisfatório. "Eu somente tive um e não tivemos relações sexuais, mas não foi um problema porque mesmo que não soubesse, acredito que a outra pessoa também era assexuada. Por isso nunca me senti forçado nesse sentido. Tive sorte", explica Rafael.

Para ela, a situação foi diferente. Em seu segundo relacionamento já tinha um nome para o que acontecia e seu namorado se esforçou para entender a situação e respeitá-la. "Mas mesmo assim, há uma pressão social muito grande, por parte da família, do entorno? Coisas que fazem com que a qualquer momento, quando a situação ficar mais complicada, você ceda, porque sente que é uma namorada ruim ou que teu amor vale menos se é incompleto", assegura.

Muitos assexuados de fato mantêm relações sexuais habitualmente. Seja para agradar seu parceiro, para procriar ou porque em determinadas situações realmente sentem desejo sexual esporádico. "Além disso, há que levar em consideração o que consideramos relações sexuais, porque nem tudo se reduz ao coito", diz Rafael. A masturbação também não é nenhum tabu: "Ás vezes faço por uma necessidade fisiológica, mas não penso em uma pessoa ou situação", explica. Marcia usa uma metáfora: "Uma vez alguém disse que é como quando você tem muita vontade de comer, mas abre a geladeira e não se interessa por nada lá. Algo assim".

ATIVISMO

Há um ano a comunidade virtual começou a organizar reuniões presenciais também. Mas Marcia e Rafa notaram uma falha importante: "Convocavam pessoas com assexualidade, não os assexuais. Como se fosse um problema ou uma doença", recorda ela. Esse foi o embrião da associação que fundaram em janeiro de 2016, a primeira da Espanha: Asexual Community España (ACE), focada na visibilidade e no ativismo do coletivo. Pretendem lutar contra os tratamentos que prometem corrigir sua condição. "Alguns sexólogos chegam a recomendar que você se force a fazer sexo para se curar", conta Marcia.

Em 2013, a assexualidade deixou de ser considerada transtorno no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), mas segundo denunciam, continua existindo profissionais que a descrevem como uma patologia. E dão exemplos: "Há pouco tempo uma união de sexólogos publicou um artigo afirmando que os assexuais tinham um conceito equivocado e um transtorno iniciado na infância. Inclusive nos compararam com estrelas do mar", disse Marcia. Eles apelam a estudos como o da sexóloga Lori Brotto ou Bogaert, que desmitificam uma das ideias mais difundidas, a de que a assexualidade está motivada por algum trauma.

Isso foi algo que também detectaram no âmbito social. Os assexuais se sentem continuamente questionados porque a incredulidade é a reação dominante quando confessam que não sentem atração sexual. "Não pode ser", "É porque você não teve uma experiência positiva", "não conheceu a pessoa certa", "será que você não é homossexual?", "você checou seu nível de hormônios? Deve ser um problema de libido", são as perguntas que os desgastam diariamente.

Neste caso, os homens levam a pior, apesar de também não ser fácil para as mulheres. "A ideia da masculinidade está muito associada ao sexo, quem não faz, parece que é menos homem. Uma menina pode dizer não e será aplaudida porque está exercendo sua liberdade de dizer não. Mas se uma menina bonita se insinua a um menino e ele lhe diz não, vão chamá-lo de viado e ele vai ter que aguentar as piadas", explica Marta Torca, uma ativista. O próprio Rafael afirma viver situações muito parecidas: "Tive que dizer a uma menina bem insistente que ela teria que ir embora para sua casa", recorda.

RECONHECIMENTO

Além de tirar os estigmas da comunidade assexuada, Torca tem em sua agenda política a ambiciosa luta pelo reconhecimento da assexualidade como a quarta orientação sexual: "Consideramos a assexualidade como uma orientação sexual equiparada a homossexualidade, bissexualidade ou heterossexualidade", diz Torca.

O grupo acredita que sem o marco da diversidade sexual, os assexuados sempre serão marginalizados. "Se você é calvo e te perguntam a cor do seu cabelo, pode dizer: minha cor de cabelo é ser calvo, ou não tenho cabelo. O mesmo ocorre com a orientação sexual, que há que ser reconhecida. Queremos que exista como opção: porque se você é calvo, você não é ruivo, nem moreno nem loiro. Você é calvo. Os assexuados já não são nenhum "X", mas ainda é preciso esclarecer muitas dúvidas", explica Marcia.

App Gazeta

Confira notícias no app, ouça a rádio, leia a edição digital e acesse outros recursos

Aplicativo na App Store

Tags

Relacionadas