Segundo o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, gordofobia é o repúdio ou aversão preconceituosa a pessoas gordas, que ocorre nas esferas afetiva, social e profissional. O empresário e influencer Ale Monteiro sabe bem o que é isso. Ele, que é um homem gay, diz que é difícil comparar dores, mas sente mais preconceito por causa do corpo.
"Acho que sofro mais por ser gordo, do que por ser gay, mas claro que nenhum desses dois lugares realmente me incomoda, porque sou muito bem resolvido com meu corpo e sexualidade. Não sou protagonista e não sou um padrão procurado, então é uma jornada bem solitária", comenta ele, que especifica também algumas situações. "Já deixei de ser convidado para jogar futebol, ser par de alguém em danças e é algo que sempre acontece com uma pessoa gorda, sendo gay ainda é bem pior”, completa.
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Questionado se é vítima de gordofobia no mercado de trabalho, Ale revela que não, mas porque é empreendedor. Se precisasse trabalhar para outras pessoas, ele acredita que a situação provavelmente seria diferente. "Sou aceito, mas sou exceção que não é aceito como tal. As pessoas mais toleram do que respeitam. Sou gay assumido, gordo, porém sou empresário e gero muitos empregos. Então, eu não estou na posição de ser empregado e sim de empregador e acho que isso influencia muito, mas tenho total consciência de que se fosse ao contrario certamente eu não seria contratado", pondera o diretor artístico, que opera na área do mercado digital desde 2008 e já atuou em 12 países com mais de 120 empresas.
E quem acha que dentro da comunidade LGBT, Ale está livre de qualquer discriminação se engana. É difícil até para construir relações afetivas. "Homens gays principalmente são narcisistas, pode observar os casais gays padrões, eles geralmente estão com o parceiro sempre muito parecido com ele. Ter corpo gordo, um rosto não harmonizado é uma barreira muito grande ainda"; destaca.
Ele até desconfia quando alguém tenta se aproximar dele. "Tenho muitas pessoas que se aproximam de mim, mas nunca sei o que esperar, se é por dinheiro, carreira ou algo que eu possa proporcionar, porque já estou tão acostumado a ser invisível que se alguém se interessa por mim é motivo de desconfiança”, revela o influencer. "Isso geralmente acontece não por insegurança. Mas é que essas pessoas não sabem lidar com a minha diferença", completa.
Por não se encaixar em padrões, Ale não frequenta bares e boates LGBTs e não participa de paradas, mas não deixa de lutar pela causa. "Não deixo de levantar a bandeira da luta, eu acho um meio totalmente desunido e sem bons exemplos. Quero ser um gay que tenha orgulho das bandeiras que carrego. Pra isso, eu faço minha parte sendo destaque como o profissional que sou - que sobrepõe qualquer bandeira", considera.
Apesar de tudo, ele não tenta se encaixar em padrões e exalta seu lado profissional. "Eu tenho 1 milhão de seguidores em minhas redes sociais e acredito que meu público me segue não por ser gay ou ser gordo, mas sim porque tenho autoridade no meu mercado e procuro sempre ser o melhor”, pondera.
Em contraponto, cada dia mais marcas e contratantes de publicidades estão apostando em pessoas com belezas reais e longe de imposição de padrões, mas o preconceito ainda está enraizado. ‘’Hoje existe essa revolução, que ainda é inicial, mas promissora. Contudo está desacelerando. Muitas marcas ainda apostam em diversidade apenas por “puro” marketing. Contratam uma influenciadora gorda mas não contrata uma faxineira gorda. Colocam um homem gay no comercial mas se recusam a investigar homofobia em ambientes de trabalho. São equações que ainda não fecham e precisam ser olhadas com seriedade e preocupação’’ finaliza o profissional.