Natural do Rio de Janeiro (RJ), onde nasceu em Campo Grande, bairro da zona oeste da cidade, Feyjão é figurinha carimbada nas festas de artistas. No último mês, ele foi o mestre de cerimônia dos aniversários da Preta Gil e da Tatá Werneck. Compositor de sucessos como “Reza”, gravado por Maria Rita, e “Serei Luz”, lançada pelo grupo Natiruts, ele se prepara para lançar o segundo álbum da carreira, chamado “Meu Tom”.
Em agosto, ele liberou a primeira música desse novo projeto. Chamado “Gafe”, o single é um afrobeat gravado com cuíca, cavaquinho e bateria eletrônica e adianta bem o conceito do álbum, previsto para sair em 2024. Como ele diz, “vou do pop ao samba, passando pelo R&B, pelo reggae, pelo ijexá e pela MPB ”.
A coluna Julie Alves te convida a conhecer esse personagem que, além de cantor e compositor, é instrumentista, produtor cultural e pedagogo, já tendo trabalhado como office boy e trocador de van antes de se firmar na carreira artística.

Como foi a sua trajetória de office boy até cantor?
Foi uma loucura. Quando eu era office boy, já fazia shows no meu bairro, Campo Grande. Campo Grande é o bairro mais populoso da América Latina. E eu tocava na maior casa de shows de lá, chamada West Show. Tocava todo final de semana para cerca de 6, 7 mil pessoas. Então, eu já era conhecido na minha área. Andava com uma mochila cheia de vales transporte, por causa do trabalho e as pessoas pediam para tirar foto comigo no calçadão. Depois, estudei pedagogia e fui oficial do Exército. À medida que ia tocando, estudando e indo pro quartel, fui conhecendo pessoas que ajudaram a construir minha carreira.
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Você é formado em pedagogia. Como foi conciliar a faculdade com os empregos e a carreira?
Sono. Eu tinha sono na faculdade, sono no palco, sono no trabalho e sono no quartel, rs. Mas, de alguma forma, eu consegui agrupar essas coisas em alguns momentos. No momento em que estava me formando em pedagogia, criei um projeto para a minha monografia chamado “EducaSamba”. Era um projeto que consistia em um musical teatral para apresentar para crianças de escolas públicas a história do surgimento do samba e do carnaval. Foi através desse projeto que conheci o Douglas Silva e o convidei para fazer esse trabalho comigo. Ele se amarrou na ideia e a gente executou em algumas escolas do Rio. Então, nessa época, consegui juntar a música com a pedagogia.

Você sempre teve o sonho de ser cantor?
Eu não fazia ideia. Eu sempre quis ser músico. Mas a música sempre foi me empurrando para esse lugar, porque inexplicavelmente as pessoas iam gostando de mim, me dando espaço. E eu sou lá do cantinho de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, então não sou de perder as oportunidades, rs. Fui agarrando essas oportunidades e hoje estou aqui.
Qual a sua relação com a Regina Casé?
Minha relação com a Regina Casé é de mãe e filho. Conheci a Regina Casé através do Douglas Silva, que estava fazendo o projeto EducaSamba comigo. Quando a gente começou a correr atrás de patrocinadores e pessoas que pudessem abraçar esse projeto com a gente, eu a conheci e conheci sua filha e seu genro também, o João e a Benedita, que viraram muito meus amigos. Aí, em paralelo a isso, começamos a produzir um evento chamado “Auê”, e passei a me encontrar muito com eles. Como as reuniões acabavam tarde, a Regina não deixava eu voltar para Campo Grande de madrugada. E eu passei a dormir muito lá. Cheguei a ter um quarto que ninguém podia mexer na mobília sem minha autorização, rs. E ela realmente foi uma pessoa que foi validando a minha presença em alguns ambientes e me apresentando para uma turma inexplicável, como Caetano Veloso e Gilberto Gil. E por ali fiquei, nos braços dessa turma.

Você é um artista que está sempre circulando nas festas de celebridades. Como é isso?
Não existe o arroz de festa? Então, eu sou o Feyjão de festa, rs. Tudo por culpa da Regina. Porque nos aniversários da Regina eu dava de presente a minha música, que era o mínimo que eu podia fazer. Aí, as pessoas foram me conhecendo, foram me chamando para fazer shows nas festas delas e tudo começou a acontecer.
Como é olhar para trás e ver o caminho que vem trilhando?
Nossa, é muito gratificante. Nitidamente, houve um progresso. E se há progresso, estamos no caminho certo. Porque foram passos lentos, toco desde os 15 anos de idade e, hoje, estou com 39. A vida não foi fácil, tudo foi muito trabalhoso. Mas muito gratificante olhar para trás e perceber que cheguei em lugares que não imaginava que chegaria. Eu não tenho muitas pretensões além do que já tenho. Eu só queria fazer a minha música chegar em mais ouvidos, impactar mais pessoas com a minha arte, e meus objetivos estão sendo realizados. Só quero seguir vivendo disso!

O que você falaria pro Feyjão que estava trabalhando como office boy?
É duro, mas tu vai aprender muita coisa com isso. Lá na frente, você vai aprender a ser justo e dar valor ao trabalho, a cada gota de suor de todo mundo que trabalha com você. Tudo isso vai valer a pena. Segue aí com teus vales transporte na mochila na integridade.

Você lançou o primeiro single do seu novo álbum. Qual a sua expectativa?
Minha expectativa é que a vida de todo mundo fique colorida. Essa primeira faixa, chamada “Gafe”, leva a cor lilás, porque trás uma ideia de vaidade, de mistério, que tem tudo a ver com a letra. Cada música desse novo álbum vai ter uma cor e trazer uma mensagem diferente. E espero que o público goste, porque foi um álbum feito com muito esmero, muito carinho e muito amor. Tanto a parte do áudio, quanto o audiovisual, foi feito com muito cuidado, tudo tem um conceito. Tomara que ele chegue ao máximo de corações possíveis.
