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Racismo contra crianças afeta o desenvolvimento e prejudica saúde física e mental

O racismo causa um estresse tóxico, quando o cérebro mantém ativado por muito tempo o mecanismo de resposta, gerando uma tensão constante

O racismo vivenciado na infância, como o episódio do último sábado (30) com os filhos de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, pode afetar o desenvolvimento das crianças e causar consequências na idade adulta, apontam especialistas.


Pesquisas compiladas pelo Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade Harvard (EUA) mostram que a ativação dos sistemas de resposta ao estresse por longos períodos pode afetar o desenvolvimento cerebral das crianças, com efeitos no aprendizado, comportamento e na saúde física e mental.

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"Temos três níveis de estresse: aquele relacionado à sobrevivência, de fugir diante de uma ameaça; o estresse provocado por algo passageiro, como uma dor forte; e o estresse tóxico, que é aquele constante, por muito tempo", detalha o médico José Luiz Egydio Setúbal.


O racismo causa exatamente esse estresse tóxico, quando o cérebro mantém ativado por muito tempo o mecanismo de resposta, gerando uma tensão constante.


"A criança recebe uma carga de adrenalina e de cortisol [ao sofrer uma violência] que, se for intensa ou prolongada, provoca problemas estruturais. O cérebro começa a transmitir menos impulsos, como se fosse atrofiando as suas conexões, levando a um prejuízo cognitivo, social e físico", alerta a médica Ana Márcia Guimarães, membro do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).


A médica acrescenta que o estresse tóxico também pode prejudicar o processo da poda neuronal no início da adolescência, quando o cérebro perde parte de suas conexões, e levar a problemas como ansiedade e depressão. "Crianças expostas ao estresse crônico estão mais sujeitas à obesidade, ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e ao câncer", diz.


De acordo com a AAP (Academia Americana de Pediatria), o processo biológico desencadeado pelo estresse crônico leva a reações inflamatórias que predispõem os indivíduos a doenças crônicas.
Além disso, pesquisas reunidas pela entidade em um documento emitido em 2019 mostram que eventos abusivos destroem a autoestima da vítima e podem ocasionar a internalização das críticas, minando a autopercepção e reduzindo o desempenho acadêmico e profissional.


"O grande diferencial [do racismo], o que faz dele tão cruel, é o fato de ser sentido já na primeira infância. Entre os oito meses e os três anos de idade, as crianças começam a perceber as diferenças físicas. Elas conseguem identificar que as cores, traços, formato dos corpos e cabelos são diferentes, mas não é só isso. Elas começam a perceber que existe uma hierarquia entre as diferenças e que seus traços e características são inferiores", afirma Maíra Souza, oficial de Primeira Infância do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).


Para ela, ser alvo ou presenciar casos de racismo causa uma série de efeitos nas crianças. "Significa se perceber como uma pessoa negra em uma sociedade em que isso é negativo, o que impacta a autoconfiança, a forma como a criança interage nas brincadeiras e até o seu imaginário", afirma Souza.


Nessa sociedade em que ser negro ou indígena é negativo, as crianças tentam se adequar a um ideal que é inatingível, analisa a professora Paula Gonzaga, do Departamento de Psicologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). "Todo tempo é imposto que crianças negras deveriam ser brancas para serem tratadas como crianças porque não são respeitadas em sua infância, nas suas possibilidades de desenvolvimento. Essa impossibilidade de existir com respeito e com dignidade nas nossas próprias peles produz mal-estar e é muito importante lembrar que esse não é um mal-estar natural do indivíduo, mas um processo de adoecimento produzido na nossa sociedade, nas invalidações sobre certos sujeitos", destaca.


A professora de educação das relações étnico-raciais da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) Rebeca Oliveira Duarte recomenda que pais e professores estabeleçam com as crianças um pacto de convivência que deixe claro o que não deve ser feito e ofereçam apoio para que saibam que não estão sozinhas. "O ataque racista é muito destruidor. Não adianta somente falar para a pessoa 'deixar para lá'. Não tem como só 'deixar para lá'. A criança precisa saber que esse apoio está no pai e na mãe, no corpo docente e na direção. A escola precisa comunicar os adultos e os adultos devem resolver".


Se nada for feito e a violência continuar, a professora afirma que o caso deve ser denunciado ao Ministério Público e ao conselho de educação,
Guimarães aponta que os pediatras também precisam estar aptos a identificar precocemente o racismo e lista alguns dos sinais de que a criança pode ser vítima de violência: atraso na fala, isolamento, irritabilidade, regressão no desenvolvimento, além de problemas com sono, alimentação, ganho de peso e estatura. Os pais podem prestar atenção a esses indícios e a dificuldades e atrasos na escola, afirma a médica.


Validar os relatos das crianças e seus pais também é fundamental, lembra a professora Gonzaga. "A reprodução da violência constrói uma ideia de que não há nada a ser feito e isso é violentar novamente. Quando crianças e pais vão denunciar as ocorrências e ouvem "não é bem isso", é construída uma ideia de que a queixa não é legítima e a voz dessa pessoa passa a ser violentada pelo silenciamento da sua leitura sobre o que ocorreu".


Ações para combater o racismo na primeira infância Entender como se apropriar do tema e se perceber parte do problema e da solução Conhecer os canais de denúncia existentes e saber como se posicionar, não se silenciar Conversar com as crianças sobre diversidade, enaltecendo as diferenças Evitar que filhos e alunos reproduzam falas e atitudes racistas Promover acolhimento e oferecer estímulo a todas as crianças Exigir que as escolas tenham espaços e promovam brincadeiras que reforcem a história e a ancestralidade de todas as crianças Fonte: Maíra Souza, oficial de Primeira Infância do Unicef

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