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Pessoas que têm transtornos psiquiátricos relatam como é a vivência no dia a dia

Mesmo estigmatizados pela sociedade, pacientes fazem alerta para o tratamento

"Nas minhas relações pessoais, familiares, eu sempre apresentava um comportamento muito agressivo e, após a exaltação, eu reconhecia que havia excedido, me vinha aquela sensação de culpa muito forte e eu percebia que estava 'fazendo uma tempestade em copo d'agua', só que no momento da raiva eu não me controlava. Todas as pessoas próximas sempre me diziam que eu sou uma boa pessoa, mas que tenho este problema: que é ser um pouco explosivo, um pouco não né, bastante! Só que é algo que eu, sozinho, não consigo controlar. Cheguei a pensar que era um problema de mau-caráter da minha parte".

Foi após muitos questionamentos e, até mesmo, de maus tratos, que Tony [nome fictício escolhido pelo personagem] resolveu procurar atendimento psiquiátrico. Para ele, não havia ligação entre suas boas intenções para com a sociedade e para consigo mesmo e os seus repentinos 'piques' de violência.

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Após consultas, o diagnóstico: Tony é borderline, tem o Transtorno de Personalidade Limitrofe, que, segundo a psiquiatria, é caracterizada por repentinas mudanças de humor, comportamento impulsivo, intolerância, medo intenso da solidão, sensibilidade, dificuldade em regular emoções, entre outras características. O boderline pode ser violento com o próximo e, inclusive, consigo mesmo. Podendo apresentar tendências de automutilação e suicida.

Tony mesmo revela que já excedeu nesse sentido, partindo para a violência física. "Algumas vezes, duas ou três, eu já cheguei a agredir pessoas fisicamente. Depois fiquei com uma grande sensação de tristeza, como uma depressão profunda, fora a vergonha que senti que foi muito grande", revelou o estudante universitário entre tragadas de cigarro.

O tratamento psiquiátrico, diante da situação crítica a qual Tony se encontrava, sem entender suas angústias e inquietações, derivadas de um transtorno comportamental, veio como uma salvação. O paciente revela que já percebe a eficácia do acompanhamento médico e dos efeitos medicamentosos. "O tratamento evita que eu 'saia do eixo', é o que me faz continuar vivendo. Eu aprendi a me controlar, a conversar  e lidar com o outro".

Durante a entrevista, em cerca de 20 minutos de conversa, Tony tragou quatro cigarros de nicotina, outro ponto revelado pelo paciente: Tony faz uso de drogas lícitas e ilícitas como uma espécie de fuga. "Eu faço uso de várias drogas, LSD, cannabis, qualquer droga que tiver, eu não gosto muito de cocaína, mas tenho usado também".

O psiquiatra Hélio Dantas explica que o uso de drogas por pacientes com transtornos psiquiátricos é muito frequente, pois as substâncias psicoativas atuam na neurotransmissão do cérebro, responsável por excitação e inibição do impulso nervoso. "O uso de  drogas lícitas ou ilícitas por pacientes portadores de transtornos mentais a princípio pode até aliviar alguns sintomas, mas, com o uso continuado, leva a quadros mais graves tanto de dependência química, quanto da cronificação do transtorno mental de base que seja uma depressão, esquizofrenia ou até transtornos de personalidade".

"Recentemente eu falei para a minha psiquiatra que estou fumando maconha e ela falou que, mesmo assim, eu posso continuar usando o remédio aí estou mais tranquilo com o uso da cannabis".

Outro ponto muito presente no dia a dia de Tony é o seu cuidado em não criar laços amorosos. "O pior é que eu desenvolvo um apego emocional muito forte pelo outro, evito me relacionar porque me apego muito fácil, eu me torno dependente do outro. Sinto uma grande necessidade de carinho, de afeto, de amor e isso pode incomodar o outro. Me consideram 'pegajoso', 'grudento', por isso evito relacionamentos profundos", cita, com a voz embargada, e cheia de lamentação, Tony.

Quando questionado pelo seu interesse em participar desta matéria o Borderline é enfático: "quero que os outros se informem, saibam do que se trata. Muitas pessoas podem ter este transtorno e nem sabem, tem quem ache que pode ser algum defeito de caráter, mas é um distúrbio, é um problema que pode ser solucionado pois existe tratamento. Não é 'pantinho'", disse.

TDAH


				
					Pessoas que têm transtornos psiquiátricos relatam como é a vivência no dia a dia
FOTO: Reprodução

Não diferente das angústias de Tony, foram as do Júnior, outro jovem diagnosticado com transtorno psiquiátrico, esse, com TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade]. Diferente do Borderline, que é um distúrbio comportamental, o TDAH é um transtorno neurobiológico, caracterizado pela desatenção, inquietude e impulsividade.

Antes de ser diagnosticado, Júnior, que prefere ser identificado apenas por um dos seus nomes, disse que não entendia a sua intensa falta de disposição.

"A minha família ficou negando que eu tinha o transtorno porque eu sempre tirei boas notas na escola, somente por isso, e todos os outros sintomas eram ignorados. O déficit de atenção atinge, principalmente, a rotina, como trabalho, aí rotulavam tudo como preguiça".

Júnior já desistiu de duas formações superiores em universidade federal por não se sentir motivado, segundo ele, a desistência não foi por não gostar do curso superior e sim pela sua desconformidade com a rotina de estudos em sala de aula.

"A procrastinação é inerente ao TDAH, é uma indisposição anormal, eu tenho vontade de produzir mas sei lá o que o corpo faz, eu fico deitado pensando numa intensidade que chego até a suar, mas agir que é bom nada. A hiperatividade hoje é mais cerebral que corporal, já nas crianças, geralmente, é mais corporal, por isso que as pessoas tendem a perceber o transtorno mais em crianças e em adultos deixam para lá, acham que é preguiça, procrastinação e que o TDAH está acomodando", cita.

Júnior revelou que não pode, financeiramente, custear o seu tratamento psiquiátrico e psicológico, e que por muito tempo tentou o tratamento pelo SUS [Sistema Único de Saúde], porém, ele não conseguiu o devido acompanhamento.

"Nunca consegui fazer o tratamento e acompanhamento, porque todos os psiquiatras e psicólogos da saúde pública mudam com constância, para encontrar o psiquiatra que iniciou o meu tratamento é uma missão impossível, ele mudou muito de unidade de saúde", contou o jovem.

Hélio Dantas, psiquiatra que vivencia o dia a dia atendimento pelo SUS, revela que, de fato, o atendimento à saúde mental é sucateado pelas gestões governamentais. "As políticas relacionadas a saúde mental são sub financiadas e levam os pacientes a terem muita dificuldade a conseguirem um atendimento no sistema público de saúde".

Além dessas dificuldades enfrentadas com os sintomas do transtorno e com o tratamento, outra batalha surgiu: "muitas pessoas se afastaram, outros tacham de que quem "toma remédio tarja preta, é doido, a família não é sensível", lamenta Júnior.

"Geralmente os portadores de transtornos mentais são vistos de maneira preconceituosa tanto pela família quanto pela sociedade, um sinônimo que nós chamamos de psicofobia. Quando vêem o corpo são, desconsideram que o cérebro também adoece", alerta o psiquiatra.

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