O cigarro é inimigo da saúde, com ou sem pandemia. No entanto, com a Covid-19 como a maior preocupação dos últimos meses e com os fumantes incluídos no grupo de risco da doença, muitos iniciaram, agora, a árdua batalha de superar esse vício.
O tabagismo é considerado uma doença crônica, causada pela dependência da nicotina. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), é a causa da morte de, pelo menos, 400 pessoas diariamente, no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano, considerando fumantes e não fumantes (fumantes passivos).
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"Comecei a fumar quando eu tinha 17 anos, hoje tenho 28 e estou lutando para parar. Desde o ano passado que eu tento, já tentei de tudo. Agora, com o coronavírus, o medo de ficar doente é ainda maior", relata o maceioense Lucas Vieira.
A droga possui mais de 4.500 substâncias tóxicas, das quais 43 são comprovadamente cancerígenas. O cigarro causa dependência física e psicológica. Cerca de 120 mil mortes ao ano são causadas devido ao uso do cigarro por brasileiros. O tabagismo, além de ser um fator de risco para diversos tipos de câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias, tem feito com que a doença seja encarada com mais preocupação pelos profissionais da Saúde, neste momento de pandemia, especialmente pelo fato de a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, atacar o sistema respiratório, deixando, assim, os tabagistas mais vulneráveis a complicações.
Érica Rocha começou a fumar aos 14 anos de idade e é adepta ao tabagismo há 24 anos. Ela conta que já enfrentou algumas tentativas para parar de fumar. Na primeira, conseguiu parar por três meses. Na segunda tentativa, conseguiu parar por cinco meses. No início da pandemia, Érica tentou novamente, mas só aguentou uma semana. Ela culpou o estresse do isolamento social: "Ficou mais difícil de aguentar".

Até alguns anos atrás o tabagismo era visto em propagandas de TV, rádio ou, até mesmo, levado à sociedade como um sinônimo de ser "descolado", não havia tantas leis acerca do cigarro, e era comum fumar em ambientes fechados. Hoje em dia, já não é bem assim. O tabagista já não é mais bem visto na sociedade e encara julgamentos constantemente.
"Eu me lembro muito bem que eu acendi meu primeiro cigarro, sem saber tragar, e uma amiga me ensinou. Todos no meu grupo da adolescência fumavam. E comecei assim. A amiga que me ensinou já parou de fumar. Eu ainda estou tentando", diz Lucas Vieira.
"Eu já tentei hipnose, já tentei anunciar nas redes sociais, já tentei prometer para minha mãe. Nada funcionou. É um vício que exige muita força de vontade e um acompanhamento correto para parar. Estou tentando novamente por causa da pandemia, mas, até agora, só passei um ou dois dias sem fumar", finaliza o rapaz.
Segundo Érica, uma das dificuldades para vencer o vício é o acesso a tratamentos no sistema público de Saúde. "Os programas do Governo, que, há alguns anos, eram mais amplos, hoje estão mais restritos, quase inexistentes", conta.
Há quase dois anos, Érica iniciou um tratamento no HU, hospital ligado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal). De acordo com ela, uma equipe multidisciplinar, formada por médicos, psicólogos e assistente social, atuava no tratamento. Ela também usou adesivos antitabagismo e ansiolíticos para ajudar no processo de abstinência.
No ano passado, ao retomar ao HU para recomeçar o tratamento, foi informada que o formato mudou e que as turmas, que eram iniciadas bimestralmente, viraram duas por ano, dificultando o acesso de quem precisa de ajuda para superar o vício.

De acordo com o professor e fisioterapeuta George Márcio, parar de fumar significa diminuir a mortalidade e as doenças crônicas, porém, a maioria dos fumantes que param sozinhos só deixa o cigarro de lado quando já possui uma doença estabelecida. "Na situação em que o mundo se encontra, diante da Covid-19, não buscar tratamento para o vício do cigarro pode ser um risco".
Érica tem consciência do risco e de que não consegue parar de fumar sozinha. Porém, não ter acesso aos programas dificulta seus planos de deixar o cigarro de lado.
"Eu penso em todas às vezes em que eu joguei a carteira de cigarros no lixo e no outro dia comprei de novo. Já coloquei na parede de todos os cômodos da minha casa mensagens motivacionais para parar, mas é muito difícil", afirma.
A jovem opina sobre como o tabagismo deveria ser encarado: "Seria fundamental que o Governo e instituições ampliassem o acesso para as pessoas tabagistas largarem esse vício. E, quando uma pessoa deixa de fumar, não está apenas beneficiando a si própria, mas, também, as pessoas ao redor que são afetadas pelo fumo, inclusive o SUS, já que o tabagismo causa várias patologias que desencadeiam mais custos para a Saúde pública".