Embora outubro seja o mês de conscientização sobre o câncer de mama — conhecido como Outubro Rosa —, o alerta para essa doença deve permanecer ativo durante todo o ano. Juliana Cotrim, ginecologista especializada em congelamento de óvulos, contou, em entrevista à Rádio Mix, sobre a possibilidade de mulheres, especialmente mais jovens e que ainda não tiveram filhos, realizarem um procedimento para preservar sua fertilidade quando diagnosticadas com o câncer.
Entre os tipos de câncer que as mulheres podem contrair, o de mama é o mais comum. O tratamento dessa doença, seja por meio da radioterapia ou quimioterapia, pode afetar o sistema reprodutivo, levando à falência ovariana (perda da fertilidade).
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“É um dos efeitos adversos que comprometem a fertilidade, pois esses tratamentos atingem as células e as gônadas, que estão em constante multiplicação. Assim, diminui a quantidade de óvulos disponíveis e algumas mulheres podem acabar entrando em falência ovariana após um tratamento quimioterápico ou radioterápico”, explicou Juliana.
Para garantir a possibilidade de uma futura maternidade, a indicação é um processo de criopreservação, no qual os folículos ovarianos - essenciais na formação dos embriões - são congelados para uma posterior fertilização in vitro.
“Quanto mais óvulos eu tiver, melhor, pois isso aumenta as chances de produzir mais embriões no futuro. E quanto mais jovem a paciente, melhor a qualidade desses óvulos”, disse Juliana, que ainda completou: “Precisamos considerar o futuro reprodutivo delas”.
Durante o tratamento, a especialista esclareceu que a paciente fará uso de progesterona, um hormônio feminino fundamental no ciclo menstrual.
A captação dos óvulos é realizada por meio de um procedimento simples, que dura cerca de 20 minutos, com a paciente sedada e a utilização de uma sonda. Após a coleta dos folículos ovarianos, o material é levado a um laboratório de fertilização in vitro, onde será conservado a -195°C.
“A primeira coisa é conversar com o oncologista para saber se a mulher tem indicação para o procedimento e se há tempo hábil para iniciar o tratamento. Na grande maioria das vezes, esse tratamento é feito em 12 a 14 dias”, esclareceu ela.
Juliana ressaltou também que o processo deve ser rápido para não atrasar o tratamento do câncer. “Não podemos retardar o tratamento oncológico após o diagnóstico. Quanto antes pudermos começar, melhor. Por isso, devemos realizar essa intervenção antes do início do tratamento oncológico, seja por quimioterapia ou radioterapia”.
Como a gravidez pode representar um risco para a mulher que ainda está debilitada pela doença e pelos tratamentos quimioterápicos, Juliana afirmou que as equipes de oncologia e de fertilização trabalham em conjunto para obter o melhor resultado. Além disso, os custos para as futuras mamães podem ser cobertos pelo plano de saúde.
“Trabalhamos em conjunto com os oncologistas. Quando o oncologista libera a paciente para engravidar, podemos realizar a técnica de fertilização e transferir um embrião para o útero dessa mulher. E, como mencionei, os planos de saúde cobrem esse tratamento, que já é reconhecido como um direito da mulher”, falou a especialista.
Essa medida representa um avanço científico em benefício do sonho de muitas mulheres que desejam ser mães e, devido a uma doença, veem sua capacidade reprodutiva ameaçada.