A viúva de Marielle Franco usou as redes sociais para comemorar a condenação dos réus Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, nesta quinta-feira (31). Mônica Benício definiu como "uma eternidade" a espera pela sentença.
A dupla foi condenada no início da noite desta quinta-feira (31).
Leia também
"Foram muitas as vezes que me perguntei quanto tempo mais eu teria que aguentar essa dor que carrego no peito provocada pelo assassinato da minha esposa, e que é agudizada pela injustiça de não ver seus assassinos sendo condenados pelo o que fizeram", inicia ela, que hoje também é vereadora.
"Nunca deixei de acreditar, mas a cada dia de espera a esperança era colocada à prova. Foi com muito esforço que construí, nesses 6 anos e 7 meses, uma fé inabalável de que esse momento chegaria e, a cada dia de luta, encontrando motivos para acreditar que seguir de cabeça erguida e peito aberto era o que ela esperaria de mim", emenda.
Em seu relato emocionado, ela disse que a justiça começou a ser feita quando um clamor público se levantou mundialmente por Marielle.
"Nenhuma sentença é reparadora. Nenhuma condenação é restauradora da ausência. Não é felicidade o que sinto. O corpo e o coração permanecem tensos. Mas há a sensação de algum alívio em ver, pela primeira vez, alguma materialidade nisso tudo, uma explicação e uma responsabilização que tanto foi esperada, mas especialmente construída com a luta incansável de nós", afirma.
"E nós, que lutamos por um mundo menos desigual e mais justo, sabemos que a justiça que buscamos não tem um preço, muito menos um fim. Mas se diante da dor, do pior dia das nossas vidas, daquela noite sem fim em que Marielle nunca chegou para jantar, se diante desse tempo de vida não há retorno, tampouco é possível seguir sem respostas. A resposta é aquilo que a sociedade acordou que é importante que se aprenda como lição, para que nunca se esqueça, para que nunca mais aconteça", continua.
Juíza é aplaudida ao ler sentença
Ao ler a sentença da condenação de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, a juíza Lúcia Glioche chamou a atenção para os anos de dor que os familiares de Marielle Franco e Anderson Gomes passaram e disse que a decisão dos jurados não acaba com o sofrimento (leia, no fim da reportagem, a íntegra da sentença).
"Talvez Justiça fosse que o hoje o dia jamais tivesse ocorrido, talvez Justiça fosse Anderson e Marielle vivos", disse.
A magistrada lembrou que durante muito tempo os condenados negaram participação no crime, apesar de provas já terem sido coletadas. Mas reafirmou que ainda assim a Justiça chegou.
"A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta, mas ela chega. A Justiça chega para aqueles que como os acusados acham que jamais serão atingidos pela Justiça", acrescentou.
Exatos 6 anos, 7 meses e 17 dias após o crime, o 4º Tribunal do Júri do Rio condenou nesta quarta-feira (30) os assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. O crime chocou o país e – até hoje – gera repercussão em todo o mundo.
O ex-policial militar Ronnie Lessa, o autor dos disparos naquela noite de 14 de março de 2018, recebeu a pena de 78 anos e 9 meses de prisão.
O também ex-PM Élcio Queiroz, que dirigiu o Cobalt usado no atentado, foi condenado a 59 anos e 8 meses de prisão.