São Paulo – Uma jornalista negra de 47 anos, que prefere não ser identificada, denunciou a rede de farmácias Drogasil por racismo após ser acusada de furto em uma unidade em Santos, no litoral de São Paulo, na segunda-feira (21/10). Na terça-feira (22), ela foi diagnosticada com estresse pós-traumático.
A mulher contou ao Metrópoles que foi até a farmácia procurar um desodorante específico para uma ação de marketing que está trabalhando.
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Ao sair do estabelecimento, quando já estava na rua, a jornalista disse que foi abordada de forma truculenta por um segurança e pelo supervisor da loja. O segurança a acusou de furto, afirmando que ela roubou o desodorante em questão.
A jornalista detalhou que estava com roupa de academia, pois voltava de um treino, e uma pequena pochete onde cabe apenas o celular e o fone de ouvido. Apesar disso, os funcionários da Drogasil insistiram que ela estava com o produto.
A mulher voltou à farmácia acompanhada dos funcionários e pediu para que checassem as câmeras de segurança, o que foi negado.
Segundo ela, o supervisor teria percebido que se tratava de um erro, e pedido para que o segurança se retirasse e que ela fosse embora. “Provavelmente foi um erro”, ele teria dito.
A jornalista, no entanto, negou. Aconselhada pela irmã advogada, ela chamou a polícia. Enquanto aguardava a chegada dos militares, gravou vídeos chorando e relatando o episódio.
Quando os PMs chegaram, repreenderam o segurança por terem abordado a mulher na rua, afirmando que essa seria uma função da polícia.
Os funcionários se retrataram, mas a mulher registrou o boletim de ocorrência mesmo assim. Ela disse ao Metrópoles que pretende acionar a Justiça.
Racismo
Para a jornalista, uma mulher negra, o episódio se trata de um caso de racismo. Ela contou que chegou a questionar o supervisor da farmácia se o motivo da abordagem era a cor de sua pele. Ele teria respondido que “agora é tudo racismo”.
O segurança que a acusou de furto também é um homem negro. Quando a jornalista o questionou sobre a gravidade da acusação, ele respondeu que já sofreu o mesmo.
“Olha a maluquice da nossa sociedade. Mesmo ele sendo uma pessoa da mesma cor que eu, tendo passado pela mesma acusação, ainda assim, ele não tinha o preparo, e ainda assim, ele me abordou do jeito que abordou”, disse a jornalista ao Metrópoles.
O Procon-SP notificou a rede de farmácias para explicar o caso. Por meio do Procon Racial, canal específico para denúncias sobre atitudes racistas durante relações de consumo, o órgão pede informações sobre as providências adotadas pela Drogasil após ter ciência do episódio.
A notificação questiona ainda sobre a participação de trabalhadores terceirizados e próprios, bem como ações de prevenção para evitar a repetição de casos semelhantes. A Raia Drogasil terá até o dia 29/10 para enviar as informações.
Segundo a jornalista, o supervisor teria dito que os funcionários passam por treinamentos antirracistas. Na visão dela, a medida não está funcionando. “O que me diferenciava das outras pessoas que estavam na loja naquele momento era a cor”, destacou.
Estresse pós-traumático
A jornalista conta que nunca passou por uma situação tão extrema quanto essa. Ela disse que, desde o ocorrido, tem tido sintomas de síndrome do pânico – como aperto no peito, respiração ofegante, arritmia e choro repentino.
Após consulta de emergência na terça-feira (22/10), ela foi diagnosticada com estresse pós-traumático. Por recomendação médica, a mulher deve iniciar um tratamento psiquiátrico.
O caso foi registrado no 7º DP de Santos como preconceito de raça ou de cor.
O que diz a Drogasil
Ao Metrópoles, a rede de farmácias afirmou que apura o episódio ocorrido, lamenta profundamente a situação e se solidariza com a cliente. Segundo a assessoria de imprensa, as pessoas envolvidas no episódio foram desligadas por decisão da empresa.
“A empresa ressalta que a conduta, de nenhuma forma, reflete os procedimentos adotados pela empresa e os treinamentos de atendimento e diversidade oferecidos aos funcionários. Estamos colaborando com as investigações do caso e reafirmamos nosso compromisso em promover ambientes seguros e livres de discriminação”, diz trecho da nota.
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