Manifestantes pró-governo entraram em confronto com policiais militares na noite desta quarta-feira (11) em Brasília enquanto acompanhavam a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado. Eles atiraram rojões, pedras, bolinhas de gude, copos cheios e garrafas contra o cordão montado nas proximidades do Congresso Nacional. A PM reagiu com spray de pimenta três vezes, e um homem foi encaminhado para a delegacia.
Duas manifestantes passaram mal por causa do gás, de acordo com a organização do movimento, e foram transportadas de maca para atendimento médico. Os militantes xingaram os policiais e disseram que eles defendem a ditadura. Eles estavam com um carro de som.
Leia também
Um grupo chamou os militares de "fascistas" e gritou pedindo o fim da corporação. "A PM está sempre agressiva. A PM só sabe bater em mulher. As mulheres estavam manifestando, e jogaram spray nelas", afirmou o agricultor Ronito Joaquim.
Mesmo com previsão para a votação só começar às 2h desta quinta-feira (12), os grupos já se concentravam nas proximidades do Congresso Nacional às 18h. De acordo com a Polícia Militar, havia 5 mil pessoas - 4 mil pró-governo - na Esplanada dos Ministérios. O trânsito na região foi bloqueado.
Assim como no pleito na Câmara Federal, os grupos ficaram divididos por um muro de um quilômetro de extensão a partir da Rodoviária do Plano Piloto. A partir do terminal, policiais militares revistavam manifestantes à procura de pedaços de pau, fogos de artifício e bonecos infláveis. Havia fila no local, e os grupos reclamavam da espera para ter acesso à Esplanada. Os PMs chegaram a jogar spray de pimenta contra pessoas "ansiosas" em passar pelo cordão.
Além disso, policiais direcionavam as pessoas: os contra a saída de Dilma se concentraram do lado do Teatro Nacional, com acesso liberado até as proximidades do Ministério da Justiça; os a favor do impedimento transitavam pelos arredores da Catedral Metropolitana e do Ministério da Saúde.
A marcha dos grupos pró-governo começou às 17h. Indígenas e integrantes de movimentos sociais partiram do estacionamento do Estádio Mané Garrincha ocupando duas faixas do Eixo Monumental. A caminhada de cerca de quatro quilômetros se deu aos sons de "Não vai ter golpe" e com palavras de ordem contrárias ao vice-presidente Michel Temer, que assume o Executivo caso o afastamento de Dilma seja aprovado.
O diretor da Central Única dos Trabalhadores de Brasília (CUT) Julimar Roberto afirmou que 50 ônibus - com cerca de 2,5 mil pessoas - estão vindo de todo DF e Entorno para participar da manifestação nesta quarta.
"Ao que tudo indica, o Senado irá votar a favor do relatório. Apesar disso, estamos com um sentimento positivo quanto à mobilização que atingimos. Nós conseguimos transmitir a realidade dos fatos e as injustiças. Mesmo com o resultado do afastamento, teremos 180 dias para continuar todo trabalho de mobilização."
A caminhada dos manifestantes a favor do impeachment, que até então estavam concentrados no Parque da Cidade, começou mais tarde. Antes da descida, eles receberam a viúva do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, que foi chefe do DOI-Codi do II Exército, em São Paulo, órgão de repressão política durante a ditadura militar - citado pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-SP) na votação na Câmara.
Joselita se negou a falar com a imprensa, mas tirou fotos e distribuiu autógrafos no local. Ela esteve acompanhada de um grupo de paraquedistas do Rio de Janeiro, que se vestiam de preto e empunhavam uma bandeira do Brasil.
Morador de Belém (PA), o administrador de empresas Mário Montana conta que chegou à capital na última sexta-feira. Ele demonstrou receio quanto à possibilidade de confrontos após a votação. "Viemos protestar da forma mais pacífica possível. Acreditamos que hoje será o início de uma mudança", disse. "Estamos com medo. Já passamos até por uma situação que atiraram um coquetel Molotov em um grupo, nós não queremos enfrentamento."
A corretora de imóveis carioca Marta Santos, de 60 anos, está em Brasília desde 17 de abril. Ela disse que o impeachment "é legítimo e democrático, d está sendo feito por pessoas que estão comprometidas." Segundo ela, uma intervenção federal é necessária.
Os grupos não chegaram a entrar em confronto, mas houve troca de ofensas. Um homem a favor do impeachment fez sinais com os dedos para mulheres pró-Dilma na altura do Setor Hoteleiro. Elas responderam com gritos de "machistas" e "golpistas não passarão" e chegaram a correr atrás dele.
Já na rodoviária, um motorista deu sinal com os dedos para os manifestantes pró-governo. O grupo reagiu jogando uma garrafinha na direção do carro. Um dos militantes chegou a partir para cima do homem, mas foi contido por uma policial militar.
Segurança
Cerca de 1,5 mil policiais militares fazem a segurança na Esplanada nesta quarta-feira. Segundo o governo do DF, 150 policiais civis vão atuar durante o processo. Haverá reforço na 5ª DP, na Asa Norte, delegacia que atende as ocorrência da Esplanada dos Ministérios. O GDF vai destacar 160 bombeiros, 44 agentes de trânsito e dez servidores operacionais.
O muro que divide os manifestantes pró e contra o impeachment no gramado da Esplanada foi erguido entre a Catedral e o Congresso. O mesmo esquema foi adotado durante a votação do processo na Câmara Federal.
Favoráveis ao afastamento da presidente ficam ao lado esquerdo do Congresso e se concentram perto do Teatro Nacional. Manifestantes pró-impeachment ficam ao lado direito, com concentração no Museu da República.
Máscaras, lenços, bandanas e outros adereços que escondam o rosto estão proibidos. O mesmo vale para objetos cortantes e fogos de artifício. Não será permitida a venda de bebidas alcoólicas no local.
Os participantes só poderão ficar até a Alameda dos Estados. O espaço entre a Praça dos Três Poderes, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto, o Itamaraty e o Ministério da Justiça será restrito para as forças de segurança.
Votação no Senado
Os parlamentares vão votar nesta quarta o parecer do relator da comissão especial do impeachment no Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), que defende a abertura do processo de afastamento.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou nesta terça-feira (10) que Anastasia (PSDB-MG) e o advogado-geral da União, ministro José Eduardo Cardozo, devem ser os últimos a falar - por 15 minutos cada um - na sessão desta quarta-feira (11) que pode afastar a presidente Dilma Rousseff por até 180 dias.
Os senadores vão decidir se o Senado abre ou não o processo de impeachment da presidente. Se a maioria simples (metade dos presentes mais um) aprovar a instauração do processo, Dilma será afastada, e o vice Michel Temer assumirá a Presidência da República. Se o parecer for rejeitado, o processo é arquivado.
Orientação de bancadas
O presidente do Senado disse que não é "bom" que os líderes partidários orientem as bancadas sobre a votação a favor ou contra a admissibilidade do processo pelo Senado. "Eu acho que não é necessário. Como é um julgamento, qualquer orientação partidária acaba ajudando a partidarizar um assunto, o que não é bom que aconteça", disse Renan.
Notificação de Dilma
Renan não quis dar detalhes de como e quando a presidente Dilma Rousseff será notificada da decisão dos senadores. O presidente da Casa disse que ela deve ser informada oficialmente pelo primeiro secretário da Mesa do Senado, o senador Vicentinho Alves (PR-TO). A tendência é que a notificação aconteça na quinta-feira.