"E vou pegar você. E se eu não te matar. Eu vou te prender". Esses e outros versos de uma canção com mensagem de ódio foram apresentados a alunos de um colégio militar de Paranã, no sudeste do estado, e geraram polêmica pela apologia à violência. Após um vídeo viralizar na internet, medidas foram tomadas para responsabilizar a escola e militares envolvidos.
Atividade extracurricular
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A atividade extracurricular com cantos de ódio aconteceu no Colégio Militar Euclides Bezerra Gerais, que atende 400 alunos dos 11 e 15 anos, na quinta-feira (21).
Equipes da Força Tática, da Polícia Militar (PM), participaram de um evento cujo foco era apresentar uma palestra que abordava o combate à violência contra crianças e adolescentes, dentro das ações da Operação Hagnos, realizada em todo o estado pelas forças e segurança.
'Corridão' com alunos
Antes da palestra, os militares fizeram o chamado 'corridão' com os estudantes. Uma servidora da escola relatou que as crianças foram chamadas de sala em sala para participarem da atividade extracurricular.
Fardados, com o uniforme da escola, os estudantes foram enfileirados do lado de fora do colégio, sendo que pelo menos três policiais os acompanhavam. Eles andavam em marcha e enquanto um dos militares cantava, os alunos repetiam a letra da música polêmica.
Música com palavras de ódio
Veja os versos cantados pelos militares e repetidos pelos alunos:
"Tu vai lembrar de mim
Sou taticano maldito
E vou pegar você
E se eu não te matar
Eu vou te prender
Vou invadir sua mente
Não vou deixar tu dormir
E nas infiltrações você vai lembrar de mim"
Reclamações de servidores e pais
Uma servidora do colégio, que não quis se identificar, comentou que a ação foi divulgada em um grupo de WhatsApp interno da escola.
"A Polícia Tática chegou [...] e começou a fazer exercício físico com os meninos na porta da escola e depois começaram a falar essas frases de ordem, porque isso não é uma música, não é uma canção, são frases de ordem e são frases violentas, que falam em matar", destacou a servidora.
A mãe de um dos alunos também questionou a atividade: "No mundo que nós estamos vivendo hoje, já oferece coisas de violência. De maldade. Então, quando a gente leva os filhos da gente para a escola acredita que vai ter coisas boas, educação boa, disciplina boa. Eu não concordei com o ato da música, a letra da música", comentou a mãe, que também não quis se identificar.
'Crianças não são soldados e escola não é um quartel'
O professor doutor em educação José Lauro Martins comentou que durante a atividade foram usadas palavras que não são apropriadas para a idade dos alunos e para o ambiente. "Elas estão sendo submetidas a um processo de adestramento, propriamente dito, e não de educação. Além de tudo, essas crianças estão repetindo um palavreado que não é apropriado para a escola, muito menos para a idade deles", afirmou.
Também pontuou que a escola não deve ser encarada como um quartel. "Essas crianças, elas estão sendo, de alguma forma, vitimadas por algumas pessoas despreparadas para o processo educativo, e elas estão repetindo ali palavras que conduzam ao sentimento de ódio, de apologia, violência e assim por diante. Essas crianças não são soldados, a escola não é um quartel, está tudo fora de lugar nesta imagem ou nesse recorte dessa escola", completou o professor José Lauro.
Escola e PM prometem investigar
No dia da atividade com os alunos de Paranã, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informou em nota que repudia a conduta inadequada ocorrida no colégio em que "estudantes foram incentivados a proferir frases incompatíveis com o ambiente escolar". A Seduc disse que irá notificar a Polícia Militar para tomar as medidas cabíveis.
Já a PM informou está apurando a conduta dos policiais militares envolvidos e esclareceu que a atividade em questão se tratou de uma ação pontual, que não faz parte da rotina diária da unidade escolar (veja notas da Seduc e PM na íntegra abaixo).
Diretor e PMs envolvidos foram afastados
Na sexta-feira, o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) determinou o afastamento do diretor do Colégio Militar Euclides Bezerra Gerais e dos militares envolvidos no 'corridão' com os alunos. A medida foi publicada no Diário Oficial do Estado.
Em nota enviada pelo Governo do Estado, o governador também cobrou que o caso seja apurado e que todas as medidas cabíveis sejam tomadas, conforme os trâmites legais e disciplinares da instituição.
Íntegra das notas da Seduc, PM e o Governo do Tocantins
Governo do Estado
O Governo do Tocantins repudia com veemência o ocorrido nesta quinta-feira, 21, no Colégio Militar Euclides Bezerra Gerais, no município de Paranã, que está em total desacordo com os valores de respeito e cidadania que devem ser cultivados no ambiente escolar.
Tão logo soube do caso, o governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, determinou à Polícia Militar (PM/TO) o imediato afastamento do diretor da instituição escolar e demais militares envolvidos das atividades escolares, além de cobrar que o caso seja apurado e que todas as medidas cabíveis sejam tomadas, conforme os trâmites legais e disciplinares da instituição. Em relação à Secretaria de Estado da Educação (Seduc), foi determinado a instauração de uma comissão de apuração, para investigar a situação e garantir que tal ocorrência não se repita.
É importante ressaltar que este episódio é um caso isolado e não reflete a realidade das Escolas Cívico-Militares, que desempenham papel fundamental na formação educacional no Estado do Tocantins. Essas instituições são comprometidas com a educação de qualidade, baseada no respeito, na ética e no desenvolvimento integral dos estudantes.
O Governo do Tocantins reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente educacional saudável e seguro, onde prevaleçam os princípios de disciplina, cidadania e respeito mútuo.
Polícia Militar
A Polícia Militar do Estado do Tocantins informa que, nesta quinta-feira, 21, tomou conhecimento, por meio de vídeos divulgados nas redes sociais, de uma atividade extracurricular realizada no Colégio Militar do Estado do Tocantins – Escola Estadual Euclides Bezerra Gerais, no município de Paranã-TO.
A Instituição esclarece que a atividade em questão se tratou de uma ação pontual, que não faz parte da rotina diária da unidade escolar.
A Polícia Militar já está apurando os fatos com rigor, avaliando a conduta dos policiais militares envolvidos, e informa que serão adotadas as medidas cabíveis, em conformidade com os procedimentos legais e disciplinares previstos no âmbito institucional. Um procedimento investigativo preliminar está em curso para garantir a análise criteriosa da situação.
Após determinação do Governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, a Polícia Militar afastou o Diretor da instituição escolar e demais militares envolvidos na atividade extracurricular.