O coronavírus chegou ao Brasil antes do que se sabia e já havia transmissão comunitária também antes do que o detectado, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores de Brasil e Uruguai. Segundo o trabalho, ainda não revisado por outros cientistas e publicado pela Fiocruz, já no início de fevereiro o vírus começava a circular no país.
O início da disseminação antecederia em mais de 20 dias a confirmação do primeiro caso oficial, em 26 de fevereiro, o que significa que, embora não se soubesse, o coronavírus já circulava no Brasil durante o carnaval.
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Uma das últimas regiões do mundo a declarar casos de Covid-19, a América do Sul teria começado a sofrer uma disseminação do vírus na mesma época em que a doença se expandia na América do Norte, afetando principalmente os EUA, e crescia rapidamente na Europa.
No estudo, os autores analisaram a China e países da Europa ocidental, América do Norte e do Sul mais afetados até o dia 5 de abril: Bélgica, França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos e Brasil.
Em todos eles, chegou-se à conclusão de que o contágio local começou bem antes do reconhecimento oficial e da adoção de medidas de distanciamento social e restrições de viagens, essenciais para a contenção do vírus.
Os pesquisadores estimaram o provável início da transmissão comunitária do novo coronavírus fazendo um cálculo regressivo a partir dos dados das mortes registradas no início da epidemia em cada país. Consideraram que uma pessoa morre cerca de 20 dias após ter sido contaminada, e aplicaram uma taxa média de letalidade de 1% em sua fórmula.
Através das análises, o estudo determinou que a transmissão comunitária teria sido iniciada na China no início de dezembro de 2019 e no começo de fevereiro deste ano em Nova York. Na Europa, o primeiro país atingido foi a Itália, no meio de janeiro. Entre o final de janeiro e o começo de fevereiro, os demais países europeus analisados tiveram seus primeiros casos de transmissão local.
Assim como no caso do Brasil, Itália e Holanda também já tinham transmissão comunitária antes mesmo de detectarem seus primeiros casos de Covid-19, com uma diferença entre duas a quatro semanas. Para os demais europeus analisados, as datas de transmissão local se aproximam da detecção dos primeiros casos importados.
Na conclusão do estudo, os cientistas destacam a importância da adoção de medidas rigorosas logo que o primeiro caso é identificado, considerando que, ao decretar as medidas restritivas que ajudaram a evitar a propagação, todos os países analisados já estavam com o vírus circulando.
Segundo eles, isso é especialmente importante levando em conta análises que mostram que o coronavírus deve entrar em um ciclo de ondas, causando surtos recorrentes nos próximos anos, cujas frequência e intensidade ainda não são conhecidas.