A Amazônia já superou neste ano a mesma quantidade de queimadas registrada em todo o ano de 2023. Até a última quarta-feira (25/9), foram registrados 102.993 focos de calor no bioma. Em todo o ano de 2023, houve 98.646 queimadas. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Seguindo a curva da média histórica, este mês de setembro já é o com mais queimadas no ano também. Até quinta, foram 39.804 focos de calor, número acima da média histórica de 32,2 mil para o mês. O recorde anual aconteceu em 2004, quando o fogo foi identificado 218.637 vezes. As queimadas são monitoradas pelo Inpe desde junho de 1998.
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No acumulado de janeiro a agosto deste ano, houve 63.189 queimadas. O número é mais do que o dobro do que foi registrado no mesmo período de 2023: 31.489
Pelo histórico, a tendência é que o fogo diminua em outubro. Na média, o mês costuma registrar metade das queimadas de setembro. O fim do verão amazônico é a explicação, pois com as chuvas, reduz-se de maneira importante o fogo no bioma.
Seca
As queimadas neste ano, no entendimento da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, são impulsionadas pela seca histórica.
“Nós estamos diante de uma situação, só para você ter uma ideia, de uma área de quase 5 milhões de km², com matéria orgânica muito seca, em processo de combustão muito fácil em função da baixa umidade, da alta temperatura e da velocidade dos ventos”, disse a ministra em entrevista sobre o assunto.
A fala da ministra encontra amparo em dados científicos. O Monitor de Secas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) identificou, no levantamento mais recente, que em agosto havia 3.978 municípios com algum grau de seca. O Brasil tem 5.570 cidades.
A seca tem relação com a atuação do El Niño em 2023 e nos primeiros meses de 2024. Ele atua reduzindo precipitações no Norte e Nordeste do Brasil.
“O El Niño que é um fenômeno climático que naturalmente faz com que o período seco seja mais severo do que o normal (…), em 2023, foi um El Niño severo”, explica a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar.
Se por um lado, a seca atua a favor das queimadas, a redução no desmatamento é um ponto que costuma puxar o número de queimadas para baixo. Em 2023, a redução na perda de vegetação foi de 50% na comparação com 2022, o que indica que a situação poderia ser ainda pior.
Resposta
O fenômeno climático da seca extrema, no entanto, não explica por si só o aumento nas queimadas. A própria ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima admitiu que as ações governamentais para conter o fogo na Amazônia estavam aquém do necessário.
“Estamos descobrindo agora é que (o planejado) não foi suficiente. E ter essa clareza e essa responsabilidade de não querer mascarar a realidade ou minimizar a realidade faz parte de uma postura republicana”, disse a ministra na segunda-feira (23/9).
A especialista do Ipam destaca medidas importantes para conter o fogo. “Essa questão de restringir o crédito nas áreas que foram queimadas, evitar com que as áreas de florestas públicas que foram queimadas sejam regularizadas ou passíveis regularização no futuro, aumentar as penas para quem provoca incêndios”, relaciona Alencar.
O fogo também avança sobre o Cerrado. O bioma teve 66.868 queimadas do início do ano até a quarta, número 87% maior do que os 35.738 registros no mesmo período em 2023. Outro bioma com alta expressiva do fogo é o Pantanal, onde houve 11.485 focos de calor neste ano, contra 650 de igual período em 2023, aumento de 1.666%. Em todo o Brasil, são 205.176 queimadas.