
A adaptação escolar costuma ser um momento desafiador para muitas famílias. Para algumas crianças, esse processo acontece com mais tranquilidade, enquanto para outras pode ser um período de grande estresse. Mas o que determina essa diferença?
Mais do que a escola em si, a adaptação está diretamente ligada à capacidade da criança de confiar nas novas relações e no ambiente. Esse processo não começa no primeiro dia de aula, mas sim na construção do vínculo seguro em casa, nos primeiros anos de vida.
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Mas afinal, o que é um vínculo seguro e por que ele é tão importante para o desenvolvimento infantil?
O que é um vínculo seguro?
Os bebês nascem com um forte instinto de se conectar com seus cuidadores, pois essa proximidade é essencial para sua sobrevivência. Ao longo do tempo, essa conexão vai além do físico e se transforma em um sistema emocional de segurança.
Ou seja, quando a criança se sente protegida, acolhida e compreendida pelos pais ou cuidadores principais, ela desenvolve a confiança de que suas necessidades serão atendidas. Isso gera uma sensação de segurança interna, permitindo que ela explore o mundo ao seu redor sem medo.
Vínculo seguro não significa dizer "sim" para tudo, mas sim garantir que a criança possa contar com os pais emocionalmente.
O que acontece quando a criança tem um vínculo seguro?
Pesquisas mostram que crianças com apego seguro tendem a:
- Ser mais confiantes e independentes;
- Desenvolver maior controle emocional;
- Lidar melhor com frustrações e desafios;
- Criar relacionamentos saudáveis na vida adulta;
- Apresentar melhor desempenho escolar e social.
Por outro lado, quando o vínculo não é seguro, a criança pode desenvolver ansiedade, insegurança ou comportamentos desafiadores, pois não tem certeza de que será acolhida e compreendida quando precisar.
Como construir um vínculo seguro?
A boa notícia é que o vínculo seguro não depende da perfeição dos pais, mas da consistência e previsibilidade na forma como interagem com seus filhos. Pequenas ações no dia a dia fazem toda a diferença.
1. Responda às necessidades emocionais do seu filho
Desde o nascimento, os bebês se comunicam através do choro. Quando um bebê chora e o cuidador responde com acolhimento, ele começa a entender que suas emoções são importantes e que pode contar com os pais.
Com o tempo, essa percepção se fortalece. Se a criança está com medo, frustrada ou ansiosa, acolha antes de corrigir. Reconhecer as emoções não significa permitir tudo, mas mostrar que sentimentos são bem-vindos.
Exemplo prático: Seu filho caiu e se machucou. Em vez de dizer “Não foi nada, levanta!”, tente reconhecer o que ele sente primeiro: “Eu vi que doeu, né? Vem cá, vou te ajudar”. Isso ajuda a criança a processar suas emoções de forma saudável.
2. Esteja presente de forma qualitativa
Muitas vezes, os pais se preocupam com a quantidade de tempo que passam com os filhos, mas também é importante é a qualidade desses momentos.
Estar presente de verdade significa olhar nos olhos, escutar ativamente e demonstrar interesse no que a criança está compartilhando.
Exemplo prático: Na hora de dormir, evite mexer no celular enquanto conversa com seu filho. Reserve um momento para um momento exclusivo de conexão, ouvindo como foi o dia dele.
3. Crie rituais de conexão
As crianças se sentem mais seguras quando há previsibilidade no dia a dia. Pequenos rituais ajudam a fortalecer o vínculo e trazem segurança emocional.
Algumas ideias de rituais: uma forma carinhosa de acordar; um momento de leitura juntos antes de dormir; uma forma só de vocês (aperto de mão ou palavra especial) na hora da despedida; um tempo de brincadeira livre sem interrupções.
Esses momentos ensinam à criança que o amor não depende do comportamento, mas está sempre presente.
Criar um vínculo seguro não significa ser um pai ou mãe perfeita, mas sim oferecer consistência, acolhimento e previsibilidade.
Quando a criança se sente segura, ela se abre para aprender, explorar o mundo e construir relações saudáveis. E o mais bonito? O vínculo seguro formado na infância se reflete em toda a vida adulta.
Com carinho,
Beatriz Samaia - Orientadora Parental especializada em Psicopedagogia (@beatrizsamaia)
*Os artigos assinados são de responsabilidade dos seus autores, não representando, necessariamente, a opinião da Organização Arnon de Mello.