Já se foi o tempo em que o fato de roncar não passava de mero aborrecimento para o cônjuge. Nos dias atuais, roncar pode ser considerado como fator de risco para doenças cardiovasculares e, portanto, a qualidade de sono é considerada um marcador de saúde.
Pesquisas comprovam que pessoas que tem distúrbios do sono tem uma chance maior de ter Acidente Vascular Cerebral (AVC). Um estudo, publicado em 2023, analisou mais de 4 mil pessoas com relação ao diagnóstico de distúrbio de sono e o risco de desenvolver AVC. Os resultados são impressionantes, demonstrando que tanto a quantidade quanto a qualidade do sono podem influenciar no risco de desenvolvimento da doença.
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O risco é 3 vezes maior em quem dorme pouco (< 5 horas de sono por noite) e 2 vezes maior em quem dorme demais (> 9 horas de sono por noite). Já em relação à qualidade do sono, a chance varia de 2 a 3 vezes mais naqueles com sintomas de apneia obstrutiva do sono grave.
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um problema ainda muito menosprezado pela população de uma forma geral, que ainda associa uma das suas principais manifestações, o ronco, apenas como algo desconfortável no ambiente de intimidade daqueles que compartilham o mesmo quarto. Na contramão desse pensamento, hoje sabemos que a AOS está diretamente correlacionada ao AVC, podendo funcionar tanto como fator de risco para o AVC como também ser piorada em pacientes que já apresentaram um AVC.
O estudo que mencionei acima também demonstrou uma forte associação entre o número de desordens do sono e o risco para a doença, ou seja, quanto mais sintomas, maior o risco, podendo atingir 5 vezes mais chance quando comparado a pessoas que dormem em torno de 7 horas por noite.
As causas exatas de como o sono aumenta o risco para as doenças cerebrovasculares ainda não estão totalmente elucidadas e são alvo de várias pesquisas atuais no nosso meio. Já existe associação de problemas de sono com aumento do risco de arritmias, progressão de aterosclerose (depósito de gordura na parede dos vasos sanguíneos), piora do padrão de tolerância à glicose, entre outros, todos esses sendo listados como possíveis incriminados pelo aumento do risco de eventos vasculares. Além disso, dormir mal está associado a outras doenças neurológicas degenerativas como a demência e o Parkinson.
A mensagem que tento disseminar hoje em dia é: o sono deve ser avaliado nas consultas neurológicas como um MARCADOR DE SAÚDE. Se você não dorme bem, algo precisa ser feito com urgência, e o momento para começar é hoje. Você pode começar seguindo algumas dicas simples da chamada “higiene do sono”:
- banir a televisão do quarto e reduzir o uso de telas a noite
- evitar alimentos termogênicos no período noturno
- rotina de horário para dormir e acordar
- evitar medicações como os remédios “tarja preta”
- fazer atividade física regular e perder peso
O diagnóstico dos distúrbios de sono pode envolver outros especialistas além do neurologista, como o psiquiatra, o otorrinolaringologista e o dentista, mas o tratamento costuma ser bastante eficaz.
Lembre-se, DORMIR É NECESSÁRIO e faz parte da fisiologia humana, por isso, se você tem problema para dormir não minimize seus sintomas, procure ajuda. Sua saúde agradece.
Fonte: Mc Carthy CE et al. for INTERSTROKE. Sleep Patterns and the Risk of Acute Stroke: Results From the INTERSTROKE International Case-Control Study. Neurology. 2023 May 23;100(21):e2191-e2203. doi: 10.1212/WNL.0000000000207249. Epub 2023 Apr 5. PMID: 37019662; PMCID: PMC10238154.
*Os artigos assinados são de responsabilidade dos seus autores, não representando, necessariamente, a opinião da Organização Arnon de Mello.