Segundo o dicionário Aurelio FELICIDADE é definida como "êxito, sucesso, satisfação pessoal ou do outro. Felicidade pode ser definida ainda por um momento em que há a percepção de um conjunto de sentimentos prazerosos ou como a paz de espírito ou por um estado durável de emoções positivas. Já o psiquiatra Sigmund Freud, o criador da psicanálise, defendia que todo ser humano é movido pela busca da felicidade, através do que ele denominou “princípio do prazer”. Porém essa busca seria fadada ao fracasso, devido à impossibilidade de o mundo real satisfazer a todos os nossos desejos. A isto, deu o nome de "princípio da realidade". Segundo Freud, o máximo a que poderíamos aspirar seria uma felicidade parcial.
Creio que a maioria dos leitores já ouviu falar nos “Hormônios da felicidade”, que na realidade são neurotransmissores (ou seja, mensageiros químicos do cérebro e responsáveis por passar informações entre um neurônio e outro), sendo estes, capazes de gerar sensações como alegria, recompensa e bem-estar. Entre os mais importantes estão a serotonina, a endorfina, a dopamina, a ocitocina e a noradrenalina.
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Quando se fala em FELICIDADE, o mais citado deles é a SEROTONINA que é frequentemente associada a sensação de felicidade, porém isso não necessariamente é verdade. Este neurotransmissor além de atuar como um regulador do humor, atua ainda no sono, apetite, libido, memoria, aprendizagem, temperatura corporal, movimentos intestinais, saúde cardiovascular e ansiedade.
A DOPAMINA é o verdadeiro neurotransmissor do bem-estar, pois está relacionada ao sistema de recompensa do cérebro e é o principal neurotransmissor responsável pela SENSAÇÃO DE PRAZER, mas também está relacionado à aprendizado, cognição, memoria, motivação e ao vício. Muitas drogas aumentam os níveis de dopamina, trazendo aquela sensação de prazer IMEDIATO, porém aos poucos, o sistema de recompensa do cérebro associa que se pode ter uma grande quantidade de prazer sem precisar se esforçar tanto, o que reforça o comportamento de usar a droga e gerar o vício.
A ENDORFINA atua como um poderoso analgésico, sendo liberada pelo organismo em situações de dor, estresse, atividade física. Auxilia ainda na resposta do corpo ao estresse e auxilia em situações de desconforto.
A OCITOCINA está associada a redução da ansiedade, sentimentos de calma e segurança, o que a fez ser classificada como o “hormônio do amor” e exerce forte influência na saúde sexual. É também o hormônio presente na hora do parto, estimulando as contrações uterinas e a liberação do leite materno.
Além desses, as catecolaminas, Noradrenalina e adrenalina também exercem funções essenciais no cérebro e no corpo. A noradrenalina é um neurotransmissor ligado ao estado de vigília, bem como à resposta de luta ou fuga diante de situações desagradáveis e ameaçadoras. Em suma, seu papel é preparar o cérebro e o corpo para lidar com situações de perigo ou estresse. Em geral, os níveis de noradrenalina são baixos durante o sono e atingem seu pico durante momentos de estresse. A diminuição da quantidade de noradrenalina no cérebro tem sido associada a quadros depressivos, já que esse neurotransmissor é responsável por manter o corpo alerta durante o dia.
As irregularidades constantes na produção e liberação desses neurotransmissores se traduzem em mudanças de estado de humor, medo, angustia, ansiedade, compulsão, depressão e infelicidade.
A Neurociência é o estudo do sistema nervoso para entender as bases biológicas do comportamento e do cérebro.
Evidências emergentes da neurociência revelaram envolvimento de vários mecanismos fisiopatológicos associados ao estresse, ansiedade, depressão, dentre eles:
- A neuroinflamação (inflamação no cérebro);
- o estresse oxidativo (aumento geração radicais livres no corpo);
- o comprometimento mitocondrial (mitocôndria são nossas usinas geradoras de energia), gerando deficiência de ATP (energia);
- excitotoxicidade do glutamato (um neurotransmissor considerado excitatório para cérebro);
- disfunção do BNDF (fator neurotrófico derivado do cérebro), uma substância essencial para sobrevivência e diferenciação do neurônio;
- deficiência de serotonina;
- distúrbio do eixo microbiota-intestino-cérebro (disbiose intestinal);
- desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenocortical (com aumento do cortisol).
Todos esses fatores nos inspiram a buscar vários caminhos (e não apenas o uso do medicamento ansiolítico ou antidepressivo, por exemplo) para auxiliar na prevenção e tratamento dessas desordens emocionais e auxiliar na busca pela saúde mental e “felicidade”.
Nesse contexto, dois conceitos têm sido muito estudados dentro da neurociência e saúde cerebral que são: NEUROGÊNESE E PLASTICIDADE CEREBRAL.
- O primeira mostra um potencial que indivíduo têm de formar novos neurônios mediante aos estímulos certos.
- O segundo conceito é o de plasticidade neuronal, que é a capacidade de formar novos circuitos neuronais, trazendo novas percepções, comportamentos e emoções, algo que só acontece mediante estímulos desafiadores.
O estudo da neurociência, plasticidade cerebral, neurogênese e inteligência emocional sugerem a adoção de algumas estratégias para auxiliar na produção dos “hormônios da felicidade” e do BDNF que vou chamar de pílulas da felicidade:
- Exposição a luz solar;
- Ouvir música;
- Golding/aterramento – contato com a natureza;
- Prática de leitura;
- Exercício físico;
- Ter um sono reparador;
- Ter contato social e virtual;
- Ter fé;
- Fazer algo novo, sair da zona de conforto;
- Massoterapia;
- Aromaterapia;
- Tomar banho frio;
- Praticar autocuidado;
- Conectar-se com pessoas que te fazem feliz;
- Praticar atividades que te dão prazer;
- Ter um hobby, um lazer;
- Praticar meditação,
- Acupuntura, Yoga;
- Psicoterapia;
- Manter a saúde intestinal;
- Praticar mindful eating (comer com atenção plena);
- Adotar hábitos alimentares saudáveis.
Dentre os padrões dietéticos mais estudados para saúde cerebral podemos citar a Dieta estilo mediterrâneo e a dieta MIND (publicamos em artigo anterior – existe a melhor dieta para saúde cerebral). A “Dieta Mediterrânea” é composta pelo alto consumo de gorduras consideradas benéficas, principalmente as monoinsaturadas, proveniente do azeite de oliva, abacate, ricas em ômega 3 proveniente de peixes de águas profundas, e das oleaginosas (castanhas, nozes), além de frutas e vegetais frescos e vinho com moderação. E o mais recente padrão dietético em estudo é a “Dieta MIND” esse padrão dietético foi desenvolvido para proteger o cérebro e é basicamente uma dieta Mediterrânea, com ênfase também em alimentos naturais à base de plantas e ingestão limitada de alimentos de origem animal e ricos em gordura saturada, além de priorizar o consumo dos vegetais verdes escuros e frutas vermelhas.
Adicionalmente, priorizar consumo de alimentos, nutrientes, compostos bioativos e fitoterápicos que auxiliem na síntese dos neurotransmissores, no controle da neuroinflamação, do estresse oxidativo e da saúde intestinal tais como: magnésio, vitaminas do complexo b, vitamina d, zinco, selênio, ômega 3, probióticos, probióticos, 5 htp, L teanina, açafrão espanhol, cúrcuma, resveratrol, cacau, entre outros.
Um artigo publicado em 2018 identificou um Antidepressant food score (escore de alimentos antidepressivos) e listou os alimentos considerados mais antidepressivos, em ordem decrescente (do maior para o menor) podemos citar:
- Agrião, espinafre, mostarda, folhas beterraba, alface, acelga, chicória, pimenta, couve kale, brócolis, acerola, mamão, limão, morango, ostra, frango, polvo
Para muito além disso, creio felicidade é um estado de espirito, e algo muito intrínseco, pessoal e diria intransferível. Mas que muitas vezes está bem perto de nós e sequer nos damos conta, talvez por estarmos com um alto grau de insatisfação ou em busca da perfeição inatingível. Desejo que você encontre o real sentido da felicidade e que a descubra nas coisas mais simples do dia a dia, mas lembre-se não se contente apenas com migalhas de felicidade, você merece muito mais.
E para você, o que é FELICIDADE? Me conta aqui...
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