Quantas vezes diante de uma refeição, você olhou para seu prato, analisou o alimento que está ali e pensou na origem dele?! Pois é. Poucas vezes.
Obviamente, isso se deve a inúmeros fatores, desde a rotina cotidiana acelerada, a qual torna o momento da alimentação automático, até a cultura alimentar dos ultraprocessados.
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O movimento “farm-to-table”, traduzido para a língua portuguesa: Da fazenda à mesa, busca a reconexão do ser humano com a origem do alimento existente no prato, valorizando a produção e consumo de alimentos locais e sazonais, de forma a promover a aproximação dos agricultores, cozinheiros e consumidores.
“Da fazenda à mesa” é praticado há séculos ao redor do mundo, antes da criação da nomenclatura, por comunidades rurais que consumiam alimentos cultivados localmente. Mas, o início do movimento, com denominação própria, se deu nos Estados Unidos da América, no século XIX, mais especificamente na década de 1970.
Acredita-se que a chef Alice Waters, defensora apaixonada da culinária sazonal e local, proprietária do famoso restaurante Chez Panisse em Berkeley, Califórnia, foi uma das primeiras profissionais da gastronomia a formalizar o movimento com a criação do “Locavore”, junção da palavra local com o sufixo vore (comer).
Na atualidade, ainda no panorama internacional, vale citar Dan Barber – chef do restaurante Blue Hill, em Nova York, e do Blue Hill at Stone Barns, um dos maiores expoentes do “farm-to-table”, trazendo inúmeras reflexões acerca da cadeia de produção alimentícia, o modelo industrial e as monoculturas da agricultura convencional.
Ao leitor com interesse no assunto, vale assistir ao episódio 2, da temporada 1, da série “Chefs Table” – disponível na plataforma Netflix, o qual conta um pouco da história do chef Dan Barber ou até, para quem quiser se aprofundar, tem o livro “Third Plate” (Terceiro Prato) – escrito por Dan Barber, o qual se trata de uma pesquisa do chef acerca da revolução da produção e consumo dos alimentos.
Aqui no Brasil o movimento ainda é muito tímido, mas temos alguns chefs e instituições que têm observado, tais como Alex Atala e o Instituto Maniva, este último é uma organização não governamental que busca renovar os laços perdidos entre agricultores, alimentos, cozinheiros e consumidores.
O interessante do movimento “farm-to-table” é tirar o ser humano do “piloto automomático” em relação ao ato de se alimentar, criando uma reconexão com o ciclo natural da comida, diante da compreensão da cadeia produtiva dos alimentos que estão ali no prato.
Para além do ser humano propriamente dito, existem inúmeros benefícios ao meio ambiente, uma vez que, por intermédio de práticas agrícolas sustentáveis, os agricultores locais manejam o cultivo das frutas/vegetais/hortaliças de forma responsável. Assim como, há redução a pegada de carbono, tendo em vista o encurtamento da distância que os alimentos viajam até chegar à nossa mesa.
Você aí na sua casa pode praticar o “farm to table” na sua rotina, basta freqüentar e consumir da feririnha de orgânicos e produtores locais ou até ter uma mini hortinha em casa. Com essas iniciativas haverá uma maior conexão com o alimento e o ato de se alimentar, encurtando o caminho industrial da produção da refeição. Com absoluta certeza sua relação com a comida será outra e o prazer em comer também!
Que tal tentar introduzir a prática “da fazenda à mesa” no seu cotidiano?!
Referências:
• BRAIN, Roslynn. The Local Food Movement: Definitions, Benefits & Resources. Utah State University: Department of Environment & Society, Set 2012.
• BRITO, B. A.; COSTA, L. A. S. Da colônia ao gourmet: uma análise do surgimento da nova cozinha brasileira, seus lastros históricos e tendências. Revista Cientifico, v. 18, n. 37, p. 153-170, jan/jun 2018.
• PINTO, N. L. Apetite por mudança: gastronomia e sustentabilidade em diálogo. 2018. Tese (Doutorado em Ciências Humanas) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018
• Darryl Benjamin e Lyndon Virkler, "Farm to Table: The Essential Guide to Sustainable Food Systems for Students, Professionals, and Consumers".
• Barber, Dan. "The Third Plate".
*Os artigos assinados são de responsabilidade dos seus autores, não representando, necessariamente, a opinião da Organização Arnon de Mello.