Após os excessos do Carnaval, retomar o foco na alimentação e nos objetivos de emagrecimento pode parecer desafiador. Mas e se o segredo estiver em entender como o seu cérebro lida com as recompensas, transformando a culpa em uma poderosa aliada na sua jornada de transformação?
O Carnaval é um dos feriados mais aguardados pelos brasileiros. Época de festa, alegria e, muitas vezes, de exageros na alimentação e no consumo de bebidas alcoólicas, o que, de certa forma, acaba fazendo parte da nossa rotina nesses momentos, e tá tudo bem viver o equilíbrio. No entanto, com o fim da folia, chega o momento em que todos dizem: “Agora vai!” e desejam retomar o foco na saúde e nos objetivos de emagrecimento. Mas por que parece tão difícil voltar à rotina saudável? A resposta pode estar no funcionamento do nosso cérebro.
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O papel do cérebro na motivação e recompensa
De acordo com o estudo de Wolfram Schultz (2010), o cérebro humano processa recompensas de forma subjetiva, especialmente quando se trata de prazos mais longos. Esse fenômeno, conhecido como "desconto temporal", faz com que recompensas futuras pareçam menos atraentes do que aquelas imediatas.
Em termos mais simples, é mais fácil se entregar ao desejo de um pedaço de bolo agora do que pensar nos benefícios de longo prazo de uma alimentação equilibrada. O prazer associado ao bolo é obtido quase que imediatamente após o consumo, enquanto o prazer associado a resistir a ele certamente não virá do dia para a noite. Isso ocorre porque os resultados das escolhas saudáveis só são percebidos no futuro.
Entendendo o desconto temporal
O desconto temporal é o processo pelo qual o valor subjetivo de uma recompensa diminui à medida que ela se distancia no tempo. Em um experimento com macacos, citado por Schultz, foi possível observar que os animais preferiam pequenas recompensas imediatas a grandes recompensas futuras. Essa tendência se reflete nos nossos comportamentos humanos cotidianos, como optar por alimentos mais calóricos e saborosos em vez de seguir uma dieta saudável, já que o prazer imediato fala mais alto do que os benefícios a longo prazo.
Como superar as armadilhas do cérebro?
Entender que o nosso cérebro é adaptativo e pode ser treinado para melhorar a relação com as recompensas é a chave. Segundo Schultz, criar pequenas recompensas intermediárias e modificar o ambiente ao redor podem ajudar a manter a motivação.
Por exemplo, se o objetivo é perder peso, celebrar cada pequeno avanço com recompensas não alimentares (ou seja, não cair na armadilha de dizer “já que consegui isso, vou fazer isso”), como assistir a um filme favorito ou comprar algo que você deseja, pode reforçar o comportamento positivo.
Dicas práticas para manter o foco no emagrecimento
Estabeleça Metas Reais: Defina objetivos claros e possíveis de serem alcançados. Nada de se prometer “vou emagrecer 10 kg em um mês”, pois, apesar de ser possível, é insustentável a longo prazo, visto as enormes restrições que você precisará fazer para obter isso. Prefira metas menores e mais sustentáveis, como “vou emagrecer 2 kg em um mês”, e foque no fato de que, se você for consistente, mesmo que tenha uma recaída aqui e outra ali, perderá os mesmos 10 kg em 5 meses, só que de forma muito mais sustentável e não terá tanta facilidade em recuperá-los, pois manteve hábitos saudáveis por 5 meses, ao invés de apenas 1 mês, e adaptou seu cérebro.
Crie Recompensas Intermediárias: Reforce cada conquista com pequenas gratificações. Notou que uma roupa que não cabia em você há muito tempo passou a caber? Autoparabenize-se, fique feliz, aproveite a sensação de vitória.
Modifique o Ambiente: Facilite as escolhas saudáveis, deixando alimentos nutritivos à vista e eliminando tentações. Não compre aquilo que você sabe que não é capaz de resistir; deixe para momentos especiais.
Pratique a Paciência: Lembre-se de que o início sempre parece mais difícil, mas a persistência trará resultados.
Cultive o Autoconhecimento: Entenda seus gatilhos emocionais e crie estratégias para lidar com eles.
O período pós-Carnaval pode ser uma excelente oportunidade para ressignificar seus hábitos alimentares e alcançar seus objetivos de saúde. Ao entender como o cérebro lida com recompensas e motivação, é possível superar a culpa e construir uma jornada mais leve e eficaz rumo ao emagrecimento.
Procure uma nutricionista para auxiliá-lo no processo!
Artigo científico utilizado como base:
Schultz, W. (2010). Subjective neuronal coding of reward: temporal value discounting and risk. European Journal of Neuroscience, 31(12), 2124-2135. doi:10.1111/j.1460-9568.2010.07282.x.
Thaisa Araújo
Nutricionista comportamental e clínica
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*Os artigos assinados são de responsabilidade dos seus autores, não representando, necessariamente, a opinião da Organização Arnon de Mello.