Arapiraca, importante polo econômico, vive uma transformação impulsionada pela educação, que já gerou possibilidades reais de trabalho e crescimento no Agreste. A Gazeta ouviu reitores e diretores da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) e da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) sobre os avanços, o que ainda pode ser conquistado e os desafios do ensino superior no município.
O professor Odilon Máximo de Morais, reitor da Uneal, destacou a importância da descentralização do ensino superior. “Primeiro, por possibilitar às pessoas, especialmente àquelas com mais dificuldades econômicas de deslocamento, cursarem graduação e mestrado dentro do seu próprio território. Ou seja, não ter que sair da sua cidade e ir para a capital”, diz.
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Odilon lembra como a interiorização permite que pessoas com maiores dificuldades possam estudar, se qualificar e transformar suas vidas. “Outro ponto é que Arapiraca, sendo um polo educacional, transforma a cidade em diversos aspectos econômicos e sociais, eleva-se o nível cultural e faz com que a cidade tenha uma dinâmica maior no comércio”, completa.
Segundo o reitor da Uneal, a quantidade de alunos que se deslocam diariamente para Arapiraca para estudar, gastando com transporte e comércio, ajuda a economia local e faz com que a atração de empreendimentos, indústrias e serviços também se amplie. “Isso porque muitos desses serviços, dessas indústrias e comércios precisam de mão de obra qualificada”, reforça.
IMPACTO ECONÔMICO
“A oferta, especialmente pela Uneal, a partir dos anos 1970, foi um diferencial para a cidade de Arapiraca. Com o passar dos anos, instituições privadas e, mais recentemente, a Ufal chegaram à cidade, consolidando-a como um polo. Então, torna-se uma referência na formação de profissionais de nível superior”, diz Odilon Máximo. O reitor da Uneal também avalia que a situação poderia estar bem melhor se houvesse mais investimento. Ele lembra que faz quase 20 anos que a universidade estadual não abre um novo curso na cidade de Arapiraca e que o último foi instalado entre 2005 e 2007. “Teríamos como oferecer à juventude do município e dos arredores outras modalidades de cursos, para além das licenciaturas, que são os carros-chefes da Uneal, mas que pudéssemos também oferecer cursos tecnológicos, quem sabe, na área de saúde e engenharia”, reforça.
POLO EDUCACIONAL
Elthon Allex da Silva Oliveira, diretor acadêmico do campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), avalia que a descentralização do ensino superior representou (e representa) um avanço fundamental para garantir o acesso à educação pública de qualidade às populações historicamente marginalizadas.
“Ao levar a universidade para o interior, rompemos barreiras geográficas e sociais, proporcionando oportunidades que fomentam o desenvolvimento regional. O interior do Estado possui características e demandas únicas, e a presença de instituições de ensino superior permite que a universidade se conecte diretamente às realidades locais, fortalecendo uma educação comprometida com as demandas sociais e com a formação de cidadãos preparados para os desafios globais”, detalha.
O diretor acadêmico diz que tanto a Ufal quanto a Uneal têm desempenhado um papel crucial na transformação social e econômica do interior, especialmente do Agreste, Sertão e Baixo São Francisco. Ele avalia que essas instituições oferecem não apenas ensino de qualidade, mas também oportunidades de pesquisa e extensão que dialogam com as necessidades locais.
“O impacto disso é visto no crescimento de profissionais qualificados atuando em áreas fundamentais, como educação, saúde e tecnologia, gerando um ciclo virtuoso de desenvolvimento”, diz Elthon Allex.
São diversos alunos já formados no município e em outras cidades da região. Grasicley de Oliveira Rocha Rodrigues, 49 anos, é uma delas. Antes de se formar professora, ela cursou por cinco anos o ensino superior em Arapiraca. “Alcancei todos os meus objetivos. Para mim, foi de grande importância, porque superou todas as minhas expectativas. Eu aprendi bastante. Moro em uma cidade que fica a 50 quilômetros de Arapiraca. Eu só tenho coisas positivas para falar sobre o ensino, que, para mim, foi muito favorável”, diz.
MAIS INVESTIMENTO
O diretor acadêmico da Ufal lembra que Arapiraca possui potencial para receber mais investimentos no ensino superior, com uma demanda crescente por cursos e serviços que atendam às necessidades da população local e às demandas contemporâneas.
“Para que esse potencial seja plenamente alcançado, é fundamental que haja um esforço conjunto entre as esferas pública e privada para ampliar a infraestrutura física e tecnológica das instituições. Mais investimentos em laboratórios de ensino e pesquisa, bibliotecas e conectividade digital, por exemplo, são cruciais para garantir uma formação de excelência”, complementa Elthon Allex.
Ele reforça que, além disso, políticas públicas voltadas para a permanência estudantil, como bolsas de estudo e moradia universitária, são essenciais. “Dessa forma, poderemos garantir que a educação no interior continue avançando, impactando positivamente a vida de milhares de jovens e o desenvolvimento regional”, conclui.
Em entrevista à Gazeta, Arnaldo Tenório Júnior, diretor-geral do campus da Ufal de Arapiraca, avalia que o processo de interiorização foi positivo para a região e o Estado de Alagoas. “São inúmeras as oportunidades geradas, não somente para os jovens e adultos aprovados em nossos cursos de graduação e pós-graduação, mas também para toda a comunidade”, declara.
Para o diretor-geral, é imprescindível um maior investimento por parte do governo federal. “Isso resultará, sem dúvidas, em grandes benefícios para toda a sociedade”, conclui.
CURSOS E VAGAS
No campus da Ufal em Arapiraca estão 15 cursos e 2,3 mil estudantes matriculados em Administração (bacharelado); Administração Pública (bacharelado); Agronomia (bacharelado); Arquitetura e Urbanismo (bacharelado); Ciências Biológicas (licenciatura); Ciência da Computação (bacharelado); Educação Física (licenciatura); Enfermagem (bacharelado); Física (licenciatura); Letras - Português (licenciatura); Matemática (licenciatura); Medicina; Pedagogia (licenciatura); Química e Zootecnia. Já na Uneal, 4,2 mil estudantes estão matriculados nas 35 graduações regulares. São cerca de 1.800 estudantes.