
Não é de hoje que Arapiraca tende a crescer verticalmente. Esse modelo de desenvolvimento já é algo real na cidade, mesmo que de forma ainda tímida, com os prédios verticais distribuídos no centro urbano e em bairros adjacentes.
Para o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de Alagoas (Sinduscon), Alfredo Brêda, por todas as suas características, Arapiraca tende a ser um município onde tudo deve acontecer nos próximos anos. “Eu acredito que é um local onde as coisas deverão acontecer no Estado de Alagoas, porque é um município que agrega todos os outros do Agreste. É uma cidade âncora, uma cidade-polo da região”, afirma.
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Assim como aconteceu em Maceió, onde a instalação de um shopping atraiu inúmeros outros empreendimentos para a região Norte, a chegada de um centro de compras no município do Agreste também tem atraído investimentos imobiliários e já é possível encontrar torres residenciais na região. Há também uma expansão verticalizada na área da Avenida Ceci Cunha, onde os antigos casarões de famílias tradicionais da cidade estão sendo substituídos por prédios verticais.
Apesar de tudo o que já pode ser visto na cidade, a verticalização ainda não é predominante. Além de proporcionar a otimização do solo, permitindo um melhor aproveitamento do espaço urbano, o aumento da oferta habitacional, a valorização imobiliária e o desenvolvimento econômico, esse movimento do mercado também tende a estimular o poder público a fazer novos investimentos, pensando em um futuro eficiente e sustentável.
De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Arapiraca, o crescimento da cidade tem gerado uma demanda cada vez maior por transporte público, serviços de manutenção de vias urbanas, ampliação da coleta de lixo, iluminação pública e acesso aos equipamentos públicos e áreas comerciais e de serviços.
“Sabemos que a verticalização é uma realidade para muitas cidades do porte de Arapiraca e que esse processo pode trazer benefícios importantes para o desenvolvimento urbano sustentável das cidades, como a redução dos deslocamentos e dos investimentos públicos em manutenção, à medida em que a população se concentra nas áreas já dotadas de infraestrutura e equipamentos, reduzindo assim o crescimento horizontal da cidade”, informa a pasta, ao detalhar que apenas parte desse incentivo vem do Poder Público, que está investindo em várias frentes, com foco na mobilidade urbana.
Além disso, o município informa que já foram iniciadas as etapas para a atualização do Plano Diretor e de toda a legislação urbanística. “Quando falamos em verticalização, precisamos adotar os cuidados necessários para que essas novas tipologias construtivas aconteçam de maneira responsável, sem agredir o meio ambiente natural e urbano. A legislação tem papel fundamental nisso, na definição de parâmetros construtivos, como recuos, gabarito das edificações e taxas de impermeabilização do solo”, pontua o município, por meio de nota.
A professora Simone conta que o Plano Diretor em vigor atualmente não desenvolve o tema da verticalização, mas aborda questões relacionadas ao desenvolvimento da cidade para que ele seja feito de modo sustentável.
“Existe uma particularidade em Arapiraca em relação ao Plano Diretor e à Agenda 21. Como o Plano Diretor do município está associado à agenda de sustentabilidade da ONU, a Agenda 21 local pactua o direito à cidade com sustentabilidade. Então, ele tem uma visão de futuro conectada a ideais contemporâneos. O Plano Diretor enfatiza a necessidade de permeabilidade urbana por meio da criação de espaços públicos que ofereçam áreas verdes em lugares mais habitados e que preservem sua natureza. De modo que essas áreas verdes estejam nos principais eixos de circulação viária, nas ruas, nas calçadas, e que favoreçam e incentivem a prática de modos de transporte não motorizados, como andar a pé ou de bicicleta, estimulando o estilo de vida saudável das pessoas”, explica.
Outro ponto citado pela secretaria são os investimentos para a criação de uma rede de esgotamento sanitário centralizada, que deverá eliminar a necessidade de soluções de esgotamento individualizadas ou das estações de tratamento por empreendimento. “Atualmente, as soluções de esgotamento sanitário para edificações verticalizadas são limitadas do ponto de vista ambiental e, muitas vezes, onerosas, o que dificulta e, por vezes, inviabiliza a implantação dessa tipologia construtiva”, conclui a pasta.
Esses fatores estruturais são, justamente, os apontados pela professora Simone Romão como prioritários para o processo de verticalização. Ela defende que a verticalização deve ser considerada não mais como uma tendência, mas como um fato real, que requer das autoridades públicas competentes, do setor privado que investe no mercado imobiliário, dos profissionais atuantes da construção civil e de todas as instituições que atuam nesta área, uma maior expertise para que a cidade realmente se torne a cidade do futuro, com sustentabilidade. “Portanto, é essencial que haja um planejamento urbano sustentável, integrado e participativo, onde a comunidade tenha voz nas decisões. A verticalização, quando bem planejada, pode ser uma solução viável e inteligente para enfrentar os desafios urbanos do futuro da nossa e das próximas gerações”, conclui Simone Romão.