
Argentina 4 x 1 Brasil. Uma goleada que não pode ser explicada só pelos desfalques, declarações ou pela tal “safra fraca”. O que vimos foi uma seleção desmontada taticamente, vivendo de lampejos individuais e completamente alheia ao futebol moderno.
Com 12 minutos de jogo, a Argentina já vencia por 2x0 com 61% de posse de bola. O Brasil entrou num 4-2-4 suicida, sem compactação, sem ocupação racional dos espaços. Os números dos volantes mostram bem isso: André com dois desarmes, Joelinton com um. E só. Os dois estavam isolados no “latifúndio” do meio, enquanto Enzo Fernández e De Paul comandavam o jogo com liberdade.

O que vimos do outro lado foi uma equipe organizada, compacta e intensa.
A Argentina atuou num 4-4-2 de duas linhas, com os chamados “carrileros” — jogadores que cobrem lateral e meio com força física e inteligência tática, como um Ramires ou Paulinho no auge — e um “enganche”, aquele meia pensador que conecta os setores. Essa estrutura vem de uma linhagem tática que passa por Pellegrini, Bauza e hoje Scaloni, que bebe da fonte de técnicos como Simeone.
O Brasil, por outro lado, quis montar um time para potencializar Vini Jr, mas esqueceu do coletivo. O quarteto ofensivo não pressionava, não havia recomposição. Dos quatro atacantes, apenas Matheus Cunha voltou para marcar. Faltou intensidade, propósito e humildade tática. E quando só um corre, os buracos aparecem. Rápido.
O futebol moderno exige intensidade dos 11, seja pra atacar ou defender. O ataque rápido ao estilo Premier League — como o Liverpool de Klopp ou o Botafogo de Artur Jorge — não se sustenta só na velocidade com a bola, mas no sistema de pressão pós-perda. Atacar marcando e defender atacando são premissas básicas. A máxima “quanto mais rápido a bola vai, mais rápido ela volta” é real. E só sobrevive quem sabe o que fazer quando ela volta.

Faltou isso. Faltou ideia. Faltou comando. Faltou entrega coletiva.
Me lembrei do “Zé da Galera”, personagem do Jô Soares, pedindo pontas pro Telê em 82, no time de Zico, Sócrates, Falcão e Cerezo. Hoje pedimos o contrário: queremos um time com meio, com alma, com lógica.

Sonho em ver o Brasil num 4-4-2 em losango, com laterais que saibam defender e tenham pulmão pra apoiar. Cafu e Roberto Carlos marcaram época por isso: vigor, leitura, consistência, intensidade. O futebol precisa reencontrar esse espírito.
