
Dizem que o poder tem dono. E quando o dono não quer largar, ninguém entra. É difícil romper essa lógica, especialmente em estruturas que usam as regras do jogo para blindar seus próprios interesses. No futebol brasileiro, isso parece mais evidente do que nunca.
Ronaldo Nazário, o Fenômeno, que encantou o mundo com gols, dribles e títulos, ousou sonhar com um novo desafio: concorrer à presidência da CBF. Com um currículo que impõe respeito – eleito o melhor do mundo, bicampeão mundial, gestor de clubes no Brasil e na Europa – parecia ter todos os ingredientes para, ao menos, disputar o cargo.
Parecia.
Na prática, Ronaldo sequer conseguiu viabilizar sua candidatura. Em entrevista recente, revelou seu espanto com a barreira invisível – mas poderosa – que impede a renovação:
“O sistema não deixa ninguém entrar. Eu tentei entender, estudar, mas é um sistema muito fechado. É muito difícil entrar.”

A frase é forte, direta e mostra o quão blindado é o núcleo que controla o futebol brasileiro. Na estrutura da CBF, o poder está concentrado nas federações estaduais, que funcionam como fiéis escudeiras do presidente. Os clubes, por sua vez, dependem dessas federações para sobreviver no calendário, nos campeonatos e até em questões jurídicas e financeiras. A rede de dependência é densa – e sufoca qualquer tentativa de renovação.
E essa não é uma novidade. Desde Ricardo Teixeira, passando por Marin, Del Nero e Rogério Caboclo, o comando da CBF só mudou após escândalos e investigações. Nunca por um desejo de renovação. A lógica do sistema se manteve intacta. Apenas trocaram as peças – mas o jogo continua o mesmo.
O atual presidente, Ednaldo Rodrigues, domina esse tabuleiro com habilidade. Criou um escudo quase intransponível. Não importa se o nome vem da arquibancada, do campo ou da fama internacional. O sistema é feito para manter quem já está dentro – e barrar quem ousa bater à porta.
Isso não quer dizer que lá dentro seja tudo harmonia. As disputas internas existem, os conflitos também. Mas tudo é resolvido dentro do círculo fechado do poder. As divergências são abafadas. Os acordos, costurados. O ciclo se perpetua.