
Futebol, eu te amo. Mas o que fazem contigo às vezes é cruel.
Quando o Bayern venceu o Flamengo, a manchete pronta voltou à tona: “a distância é abissal”, decretaram. Mas esqueceram que dados também contam histórias — e essa, eles preferiram não ver.

Ignoraram que o Bayern, dono de média de 70% de posse na temporada, teve 49%. Que trocou menos passes que o Flamengo. Que perdeu em posse total (25'03" x 25'35"), nos passes certos dentro da área e na taxa de finalização de ataques posicionais (13% do Flamengo contra 7% do Bayern).
Mas quem leu isso por aí? Ninguém. Porque não dá ibope dizer que o Flamengo impôs desconforto ao gigante alemão. Preferem a narrativa fácil: “não dá pra competir com europeu”.
Mas deu. Em muitos momentos do jogo, deu.

O Bayern viveu algo raro: ficar desconfortável com a posse. Teve que jogar sem sua principal ferramenta — a bola —, que, por alguns bons trechos, foi mais do Flamengo.
O time alemão foi cirúrgico na recuperação em campo ofensivo e mostrou excelência em pressão alta e tomada de decisão próxima à área adversária — mérito puro.
Essa foi a real diferença: a capacidade brutal de punir o erro. Mas dizer que o jogo foi “fácil”, “abissal”, “sem comparação”... é trair o que se viu em campo.
O Flamengo não quis se fechar. Quis competir com sua ideia de jogo.
E isso, sim, é coragem. Isso, sim, é grandeza.
O problema é o de sempre: a obsessão pelo placar que nega o jogo. Não é análise — é comodidade.
E logo depois, o futebol fez o que sempre faz: quebrou certezas.
O menos badalado Fluminense derrubou a Inter de Milão, vice-campeã da Champions League.

O Al Hilal, com brasileiros como Renan Lodi, Malcom e Marcos Leonardo, eliminou o Manchester City de Haaland, Rodri (atual melhor jogador do mundo pela FIFA) e Guardiola.

E aí? Cadê os que falavam em "safra fraca"? Reformulam o discurso… ou seguem ignorando a essência do futebol?
É curioso como se apressa para dizer que o futebol brasileiro “não compete mais”, e se silencia quando ele incomoda — ou até vence — os gigantes.
Vale lembrar: o atual campeão do mundo é sul-americano. É a Argentina.
Não se trata de comparar continentes. Mas de respeitar o jogo.
O futebol não é vencido por quem tem mais mídia ou orçamento — é vencido por quem joga melhor naquele dia.
Quem ama o futebol precisa parar de tratá-lo como estatística de aposta ou viral de rede social.
O placar importa. Mas não sozinho.
Porque o que dá sentido ao futebol é a história contada entre o apito inicial e o final.
E essa, meu amigo, os números revelam — se você estiver disposto a ver.