
No dia 20 de agosto de 1975, o CSA bateu o Grêmio por 1 a 0 , gol do saudoso Enio Oliveira, no Rei Pelé. Eram outros tempos. O futebol ainda era preto e branco na televisão, mas colorido nas arquibancadas. Desde então, a camisa azul não mais havia superado a tricolor em partidas oficiais. Quase cinco décadas de jejum. Até que, numa noite de Copa do Brasil, o tabu caiu com um estrondo.
CSA 3, Grêmio 2. Jogo grande, jogo de viradas, jogo para entrar na história.

A escalação já trazia sinais do plano de Higo Magalhães. Silas entrou no time para formar um trio de volantes com Nicola e Camacho, reforçando o corredor central — uma leitura clara para fechar os espaços do setor onde o Grêmio costuma construir com Edenilson e Dodi. O CSA era agressivo, compacto, intenso. E começou o jogo engolindo o adversário, com uma marcação alta e de posse de bola o portador da bola sempre tinha opções de passe.
Aos 12, a estratégia virou gol. Camacho lançou Cachoeira na esquerda, que se projetou como extremo, atraiu a marcação e serviu Enzo em profundidade. O jovem lateral devolveu para o meio e Tiago Marques, como manda o manual do centroavante, apareceu para empurrar. O Rei Pelé explodiu.
O Grêmio sentiu, mas reagiu com técnica. Braithwaite empatou aos 22, após jogada bem articulada por Monsalve e um corta-luz inteligente de Cristian Oliveira. O jogo ganhou um ritmo mais cadenciado. O CSA se retraía um pouco mais, e o Grêmio começava a entender os espaços.
No segundo tempo, Mano Menezes mexeu para tentar destravar a partida. Trocou o corredor direito — João Pedro e Monsalve saíram, entraram Igor Serrote e Alysson, um canhoto para jogar na direita. Tentativa de inverter o lado forte do CSA. Funcionou parcialmente: Alysson quase marcou, mas Gabriel Félix fez uma defesa antológica.

Higo respondeu com substituições diretas, mas a virada gremista veio. Um erro fatal de Guilherme Cachoeira, que limpou a bola para a zona do funil, e Dodi — que não marcava desde 2022 — soltou uma bomba no ângulo. 2 a 1 para o Grêmio. O Rei Pelé silenciou.
Mas Higo Magalhães nunca joga para empatar.
Tirou Cachoeira, colocou Marcelinho. Reposicionou Bryann por dentro. Botou Baianinho. E foi para cima. Aos 42, Felipe cruzou da direita, Jemerson falhou e Marcelinho — que havia acabado de entrar — mostrou estrela: 2 a 2. Mas o roteiro ainda reservava o ato final.

Últimos segundos. Falta perto da área. Kanemann agarra Igor Bahia, e o árbitro, que ignorou lances semelhantes durante todo o jogo, finalmente apita. É agora. Bryann ajeita. Olha. Bate. A bola faz a curva e encontra o ângulo. Volpi salta, mas não alcança. Gol. Gol histórico. Gol para reescrever uma página de 49 anos.

CSA 3, Grêmio 2. Pela primeira vez desde 1975, o Azulão vence o Tricolor Gaúcho. E não foi por acaso. Teve estratégia, teve coragem, teve dedo de treinador. Higo Magalhães foi o maestro dessa noite mágica.
Enzo foi o dono do jogo, vencendo duelos, criando e defendendo. Bryann decidiu. Gabriel Félix segurou o que pôde.
E o Rei Pelé — que já viu muita coisa — explodiu como nos velhos tempos.
