*Aprigio Vilanova
O filme Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, baseado no romance homônimo do escritor Graciliano Ramos, completa meio século este ano. É o filme brasileiro mais premiado internacionalmente.
Houve um caso inusitado, no festival de Cannes em 1964, após a exibição de Vidas Secas e que o cineasta Luis Carlos Lacerda, o bigode, amigo de Nelson e co-diretor de For All – O Trampolim da Vitória contou na 8ª Mostra de Cinema que está acontecendo em Ouro Preto, Minas Gerais.
A exibição do filme Vidas Secas causou o maior burburinho. E foram muitos os motivos para os rebuliços, a proposta estética do cinema novo, o drama vivido nos rincões brasileiros, e a morte da cachorra Baleia.
Uma senhora francesa membro de uma instituição defensora dos direitos dos animais repudiou a cena que a cadela é sacrificada e afirmou que Baleia tinha sido morta na gravação. Nelson Pereira dos Santos explicou que a cachorra estava viva e em perfeitas condições de saúde, mas mesmo assim a senhora permaneceu irredutível.
A declaração do cineasta não foi suficiente, tiveram que levar Baleia à Cannes para que ficasse comprovado que estava viva. Foi aí que aconteceu um dos casos mais pitorescos envolvendo o cinema brasileiro.
Uma verdadeira operação de guerra foi montada para garantir a ida da cadela a Europa. Era preciso garantir o mais rápido possível a viagem à França, conseguiram o vôo e então foi Baleia para sua viagem internacional.
A imprensa francesa aguardava em polvorosa a chegada de Baleia. Era uma pauta um tanto inusitada, o desembarque de uma cadela. Mas não era qualquer cadela, era Baleia a cadela- artista.
A chegada foi triunfal, mas não teve direito a tapete vermelho. A quantidade de flashes não assustou Baleia que a essa altura já era artista de respeito e estava familiarizada com o assédio das câmeras.
Nem com a cadela na França a senhora sossegou, para a ativista dos direitos dos animais cachorros ‘vira-lata’ são todos iguais.
*estudante de Jornalismo da Universidade federal de Ouro Preto - Ufop