Imagem
Menu lateral
Imagem
Gazeta >
Imagem
GZT 94.1 | Maceió
Assistir
Ouvir
GZT 101.1 | Arapiraca
Ouvir
GZT 101.3 | Pão de Açúcar
Ouvir
MIX 98.3 | Maceió
Ouvir
GZT CLASSIC | Rádio Web
Assistir
Ouvir
Imagem
Menu lateral Busca interna do GazetaWeb
Imagem
GZT 94.1
Assistir
Ouvir
GZT 101.1
Ouvir
GZT 101.3
Ouvir
MIX 98.3
Ouvir
GZT CLASSIC
Assistir
Ouvir
HOME > blogs > BLOG DO BOB
Roberto Villanova

BLOG DO
Blog do Bob

Na noite que Elísio Maia chorou fazia frio em Pão de Açúcar

Fomos para Pão de Açúcar com a pauta definida numa só pergunta para ser feita ao saudoso  e famoso Elísio Maia.

- O senhor mandou matar o prefeito Ênio Ricardo?

A pergunta era essa e exigia jeito para ser feita. Fomos com o repórter fotográfico Dárcio Monteiro e o Nelson, que era o motorista.

 Chegamos quase que no final da tarde e decidimos procurar o “seu Elísio” no dia seguinte; eu sabia que ele se recolhia cedo para dormir e também acordava cedo

Já estávamos na estrada para a Fazenda Torrões e decidimos parar num barracão, onde havia uma festa. Logo reconheceram o carro da Gazeta.

- O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou o dono do barracão.

- Viemos entrevistar o seu Elísio, mas já está escurecendo e ele dorme cedo. A gente decidiu entrevistá-lo amanhã de manhã.

Cerca de 20 minutos depois aparece um portador montado num cavalo e diz pra gente que o seu Elísioestá nos esperando na fazenda. Já estava escuro e fazia muito frio, mas fomos lá.

Seu Elísio nos recebeu na varanda da casa grande, de pijama azul, o revólver na cintura, mas solícito. Um dos seguranças dele cismou com o Nelson, porque não saiu de dentro do carro; o Nelson estava com frio e procurava se agasalhar.

Mas nada sério; o segurança logo entendeu.

Fizemos várias perguntas e deixamos a principal, a que moveu a pauta, por último. Aí eu criei coragem:

- Seu Elísio, o senhor mandou matar o prefeito Ênio Ricardo?

Foi o momento mais tenso. Seu Elísio ensaiou se levantar da cadeira e tornou a se sentar, mas bradou de dedo em riste:

- Caboclo! Me respeite! Eu recebo você na minha casa e você vem perguntar uma coisa dessa? Eu não mandei matar ninguém, ta ouvindo caboclo!

A coragem já estava se esvaindo, mas ainda pude explicar:

- Seu Elísio, eu tinha que fazer essa pergunta ao senhor. Eu vim aqui para isso. Mas com todo respeito.

Gente! Temos aí como testemunhas o companheiro Dárcio Monteiro e o Nelson. O seu Elísio decidiu contar-me a vida dele desde o assassinato do líder político de Pão de Açúcar, Joaquim Rezende, pai do ex-deputado estadual e ex-prefeito Cacalo.

Contou e chorou. Parecia uma despedida, porque foi a última entrevista dele; foi a última vez que recebeu e conversou com um jornalista.

Seu Elísio enxugava as lágrimas na camisa do pijama; não sei se era choro de arrependimento ou de pedido de perdão. E eu ainda tive a ousadia de perguntar:

- Por que o senhor matou o Joaquim Rezende?

- Porque ele me empurrou. Ele estava discutindo com meu irmão e eu cheguei, e ele me empurrou dizendo: sai pra lá, Elísio! Me empurrou assim, com as mãos no meu peito.

E assim nós podemos dizer que vimos o Elísio Maia chorar. Não sei se outras pessoas viram outras vezes, mas naquela noite fria na Fazenda Torrões só estavam eu, o Dárcio, o Nelson, três seguranças dele e a empregada.

Ao sairmos, um dos seguranças pegou-me pelo braço e pediu para não divulgar nada na GAZETA. E eu concordei e cumpri. Pelo menos, enquanto o seu Elísio esteve vivo.

Tags

X