
O pesquisador Marcelo Reis, nascido em Porto Alegre, residente em Maceió desde os 14 anos, desenvolveu, durante seu doutorado em Oceanografia na Universidade de Sydney, na Austrália, uma técnica capaz de fazer uma análise ecológica, focada na atividade pesqueira. A tese evita a pesca acidental de tubarões e raias, diminuindo o risco de extinção dessas espécies. O biólogo é formado pela Universidade Federal de Alagoas e se considera alagoano de coração.
“Essa pesquisa só foi possível porque existem dados da Australian Fisheries Management Authority’ (AFMA), basicamente seria uma secretaria de pesca deles [australianos], em que as pescas comerciais são reguladas. Existem requisitos para se ter uma licença de pesca, ter o seu barco, ter um limite de pesca de acordo com algumas espécies”, explica.
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De acordo com Marcelo, atualmente, as autoridades, responsáveis pelo setor pesqueiro, atribuem aos pescadores comerciais a obrigação de descreverem a localização geográfica, quais foram as espécies apreendidas e o peso total dos animais.
“Relacionando essas ocorrências práticas com a probabilidade feita pela literatura e, principalmente, pela fonte do AquaMaps, consegui cruzar os dados e chegar até essa fórmula”, esclarece.
Ele ressalta que a conservação de tubarões e raias enfrenta estigma, apesar de estatísticas mostrarem que são menos letais do que outros animais. O biólogo menciona o efeito criado pelo filme “Tubarão”, de Steven Spielberg.
“O efeito cria métodos de conservação, políticas públicas para a questão da preservação dos animais, baseado nesse medo intrínseco que foi criado por conta dessa mitificação do filme. Existem mais de 400 espécies de tubarões e raias, e eu diria que 5 ou 6 deles são espécies realmente perigosas para o ser humano”, orienta.
No Brasil, há várias espécies que estão na lista vermelha de mais ameaçadas no mundo. Entre elas, Reis citou o tubarão azul, o tubarão-tigre, tubarão de cabeça chata - espécie que cataloga os ataques sofridos em Recife (PE). Depois, o biólogo ainda comparou com a realidade alagoana.
“A maior parte dos ataques de tubarão em Recife começou a acontecer depois da criação do Porto de Suape que mudou a dinâmica das ondas, do ecossistema. Nós temos tubarões na costa alagoana, mas a vantagem que temos aqui em Maceió, que não existe em Recife, é que nós temos uma barreira de corais bem distribuída na costa, principalmente na área mais central da cidade”, informa.