Arnon Affonso de Farias Mello nasceu em 19 de setembro de 1911, no Engenho Cachoeirinha, em Rio Largo, Alagoas. Filho de Manuel Affonso Calheiros de Mello e Lúcia Farias Mello, proprietários de dois engenhos, a família buscava melhores oportunidades em Maceió, onde começou a trabalhar com a exportação de açúcar. No entanto, o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, interrompeu o comércio, deixando a família em dificuldades. Esse cenário desafiador marcou o início da trajetória de Arnon, que superou os obstáculos para construir uma carreira de sucesso.
Desde cedo, o menino de engenho se mostrava curioso e determinado. Começou a trabalhar como office boy e, aos 14 anos, vendia assinaturas do Jornal de Alagoas, onde, mais tarde, atuou como revisor. Pelo olhar criterioso do garoto passaram textos de nomes como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, entre outros que se projetavam nas letras.
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Aos 15 anos, fundou seu primeiro jornal, chamado O Eco, enquanto estudava no Ginásio de Maceió. Ainda na adolescência, virou repórter e já publicava poemas, críticas literárias e reportagens, consolidando sua paixão pelo jornalismo.
Não demorou muito para que o Brasil percebesse o talento do jovem Arnon. Aos 21 anos, ele recebeu a missão de viajar a São Paulo num trem que levava militares ao combate, em 1932. Arnon de Mello acompanhou as tropas, registrou as estratégias e decisões políticas, além do repúdio ao cerceamento da liberdade. Era a “revolução constitucionalista”.
Arnon redigiu um diário, que resultaria no livro São Paulo venceu!, publicado em 1933. Como correspondente de guerra, descreveu com talento a luta dos paulistas contra a era Vargas. Sobre o livro, lançado pelo jovem e talentoso repórter, o jornalista Costa Rego, que foi governador de Alagoas, afirmou: “É realmente uma descrição minuciosa que o autor nos faz. A narração empolga, pois Arnon de Mello não é só um repórter, mas um escritor que se firma”.
Após 10 anos no Rio de Janeiro, então capital federal, Arnon voltou para Alagoas. Na bagagem trazia livros publicados e o reconhecimento nacional. O menino de Rio Largo se destacou por suas grandes reportagens para os veículos da cadeia dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand.
Anos mais tarde, já contribuindo com a Gazeta, resolveu adquirir o veículo e transformá-lo em algo completamente novo, recuperando a pujança do matutino e acabando para sempre com o costume dos alagoanos de se informarem por jornais pernambucanos ou do Sudeste. Daquele momento em diante, Alagoas tinha um jornal com a sua cara e a chancela do jornalista best-seller e orgulho local.
Esses foram os primeiros passos de um alagoano obstinado em sua busca por mudar o mundo e que se tornaria o 14º governador de Alagoas, além de proprietário do maior complexo de comunicação do estado e um dos mais importantes do Brasil: a Organização Arnon de Mello.
VIDA PÚBLICA E LEGADO
Em 1950, Arnon foi eleito governador de Alagoas, um marco em sua trajetória política. Seu governo, de 1951 a 1956, foi caracterizado por investimentos pioneiros em infraestrutura, educação e saúde. A construção da rodovia que liga Maceió a Palmeira dos Índios e do Centro Educacional de Alagoas (CEPA) são legados que permanecem até hoje. Arnon também incentivou a cultura, criando organizações como a Sociedade de Cultura Artística e a Associação de Cultura Franco-Brasileira.
Após seu mandato como governador, Arnon foi eleito senador em 1962, cargo que ocupou por três legislaturas consecutivas. No Senado, destacou-se por seu interesse em ciência e tecnologia, sendo um dos primeiros a reconhecer a importância das descobertas científicas para o futuro do Brasil. Além disso, publicou mais de 30 livros, nos quais prestava contas de suas atividades políticas e compartilhava suas reflexões.
À frente de seu tempo, Arnon já falava em sustentabilidade, aquecimento global e preservação do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural. A mente era de um verdadeiro gênio, conforme relatam contemporâneos e parceiros comerciais que conviveram com o jornalista. Inspirado pela esperança em um futuro melhor e disposto a arregaçar as mangas para construir esse novo amanhã, o empresário se tornou saudade há 41 anos, quando faleceu, em 29 de setembro de 1983, aos 72 anos.
A marca de um grande homem, porém, não desaparece. O nome de Arnon de Mello continua sendo reverenciado por sua visão pioneira, dedicação ao serviço público e amor pelo jornalismo. Sua contribuição para o desenvolvimento de Alagoas e para a construção de um Brasil mais próspero e conectado com o futuro são apenas alguns dos elementos do vasto legado do alagoano, que saiu de um engenho em Rio Largo e entrou para a história.