
A Lagoa Mundaú, que margeia várias cidades de Alagoas, desempenha um papel importante na vida e na economia das comunidades da região. Rica em biodiversidade, a lagoa é lar de diversas espécies de peixes e moluscos, destacando-se o sururu, que é mais que uma fonte de alimento, um recurso econômico vital. Em 2014, ele se tornou patrimônio imaterial de Alagoas.
Por décadas, a pesca na Lagoa Mundaú tem sido a principal atividade econômica para muitas famílias que dependem de suas águas para o sustento. A extração do sururu, inclusive, é uma tradição passada de geração em geração, sustentando famílias inteiras, incluindo pescadores, marisqueiras, comerciantes e pequenos negócios locais. No entanto, a qualidade da água da lagoa tem sido severamente impactada por poluentes, ameaçando a pesca e, consequentemente, a sobrevivência e a economia dessas comunidades.
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Em meio a essa situação, um projeto de monitoramento de pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) tem trazido esperanças concernente à recuperação da lagoa. Recentemente, sinais de melhora na qualidade da água têm sido observados, resultando no retorno do sururu após um período de escassez. A mudança impulsiona a economia local e fortalece as comunidades que dependem da lagoa.
De acordo com o pesquisador Emerson Soares, o monitoramento abrange uma área de 27 quilômetros, cobrindo toda a Lagoa Mundaú. A cada dois meses, são realizados estudos em 17 pontos específicos, analisando metais pesados, contaminação por poluentes emergentes, esgotos, agrotóxicos, além de parâmetros físico-químicos e microbiológicos.
“A qualidade da água tem mostrado uma leve melhora”, afirma Soares, que explica que fatores sazonais, como as chuvas e a circulação de ventos, contribuem para a diluição de nutrientes e melhoria da qualidade da água. “A circulação de ventos e de correntes, juntamente com a aerodinâmica da região, muda um pouco e favorece a diluição dos nutrientes, melhorando a qualidade da laguna”, diz o pesquisador.
DESAFIOS
Apesar das melhorias observadas, ainda existem grandes desafios. Entre eles está a presença de metais como mercúrio e chumbo, além dos níveis elevados de coliformes fecais e outras bactérias que ameaçam a saúde pública. “A qualidade microbiológica em termos de algumas bactérias é elevada; há coliformes fecais muito altos, problemas com solventes e outros produtos lançados na água”, destaca Soares, alertando que esses contaminantes podem causar doenças.
A boa notícia é que o sururu, um dos principais recursos econômicos e alimentares da região, voltou a aparecer em maior quantidade. Anteriormente, os pescadores conseguiam retirar apenas 5 a 6 latas de sururu, mas agora esse número subiu para 20 a 25.
“Verificamos que os índices de alguns sais e o teor de alguns nutrientes aumentaram 4, 5, 6 vezes mais do que no ano passado”, afirma Soares. Nutrientes como cálcio, magnésio, fósforo, potássio e cloreto são essenciais para o desenvolvimento do sururu, e suas concentrações aumentaram significativamente.
“Essas condições estão melhores devido às correntes que entraram, promovendo a circulação de água e a melhora na quantidade de nutrientes e alguns compostos como o oxigênio dissolvido, com a diminuição da sedimentação, o que favorece o crescimento do sururu.”
No entanto, essa tendência de crescimento pode não se manter. A entrada de água doce e o aumento das chuvas reduzem a concentração de nutrientes, o que pode afetar a produção de sururu nos próximos meses. “O sururu cresce com o aumento de cloreto e de alguns sais e magnésio, mas as chuvas diminuem a intensidade desses nutrientes, resultando na queda do sururu”, alerta Soares.
Para garantir a continuidade do crescimento do molusco e a melhoria da qualidade da água na lagoa, Soares aponta para a necessidade de investimentos em saneamento básico, tratamento de efluentes e redução do assoreamento. Além disso, a gestão do lixo e a regulamentação da atividade de extração do sururu são cruciais.
“O importante é ter essa previsão do que pode acontecer nos próximos anos, com base nesse monitoramento contínuo, para pensar em soluções e resolver o problema”, conclui o pesquisador.