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Entre o tabu e a necessidade: o dilema da educação sexual nas escolas

Defendido por entidades como a Unesco, prática educacional ainda não é tratada de forma clara nas unidades de ensino


				
					Entre o tabu e a necessidade: o dilema da educação sexual nas escolas
Psicóloga Aldynne Fernandes fala importância de abordar tema. Cortesia

O assunto é tabu, mas, para especialistas, precisa deixar de ser, considerando a importância de falar sobre educação sexual no ambiente escolar. Nos últimos dias, vários casos de denúncias feitas por crianças vítimas de abuso vieram à tona após orientações repassadas em escolas, colocando em discussão a necessidade de tratar de determinados temas junto à comunidade escolar.

Em União dos Palmares, no interior de Alagoas, um diácono foi denunciado por estupro de vulnerável, após a filha, de 13 anos, passar mal durante uma palestra na escola e contar à mãe que vinha sendo vítima de violência desde os 8 anos. Nessa última semana, em Coruripe, um agente socioeducativo foi preso por estupro após a escola em que a vítima, uma criança de 12 anos, estuda identificar uma mudança repentina no comportamento dela e chamar os pais. Em Goiânia-GO, um trabalhador rural foi preso suspeito de estuprar a enteada de 10 anos, que denunciou o caso após se sentir encorajada durante uma explanação na escola sobre crimes sexuais.

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Defendida por psicólogos e por entidades como a Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco), a abordagem da educação sexual na escola, ao contrário do que muitas pessoas possam pensar, passa longe de ser a sexualização de crianças e adolescentes. Trata-se do ensino, apropriado para cada idade, para que todos conheçam melhor o próprio corpo e saibam se proteger e se cuidar, compreendendo, por exemplo, as partes em que não se deve deixar outras pessoas tocarem.

Em um país onde mais de 300 crianças e adolescentes são explorados sexualmente a cada 24 horas, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), é mais que urgente ampliar as discussões sobre o tema e repensar o papel da escola nessa questão. Para a psicóloga clínica e escolar, Aldynne Fernandes, abordar o assunto na escola faz com que os estudantes aprendam sobre questões básicas, mas fundamentais, para que passem por essas fases da vida de forma saudável e tranquila.


				
					Entre o tabu e a necessidade: o dilema da educação sexual nas escolas
Pedagoga Valéria Paz explica que abordar tema é proteger crianças e adolescentes. Cortesia

“A educação sexual nas escolas, infelizmente, ainda é um tabu, e isso, de certa forma, acaba dificultando a implementação dessa prática educativa, o que explica o número baixíssimo de unidades de ensino que a têm implementada. Algumas pessoas ainda acham que é antecipar a curiosidade por relação sexual, quando, na verdade, não é nada disso. São práticas educativas, de acordo com a faixa etária de cada aluno, de cada criança, de cada adolescente, e que vai fornecer conhecimento, desenvolver habilidades em relação à sexualidade e à saúde sexual. Tem várias coisas que estão envolvidas”, destaca.

Além de trabalhar o autoconhecimento do corpo, esse tipo de abordagem no ambiente escolar também inclui a autoestima dos alunos, fazendo com que eles aprendam a ter uma relação saudável e respeitosa não só com o outro, mas também consigo mesmos.

“São muitos os benefícios que essa prática pode trazer para a saúde de crianças e adolescentes de uma maneira geral. São conhecimentos e habilidades que tratam do corpo, abordam sobre consentimento, relações saudáveis, fala de como eu devo me relacionar com o outro, trabalha a autoestima, o cuidado com o corpo, a prevenção de abuso e exploração sexual e o empoderamento de adolescentes para tomarem decisões mais conscientes. A educação sexual vai trabalhar relacionamentos saudáveis, as diferenças de cada um, os cuidados que é preciso ter, a aceitação dessas crianças e adolescentes, então são atividades também voltadas para a questão da autoestima e que ajudam bastante no desenvolvimento”, pontua Aldynne, destacando a importância de estar atento à abordagem adequada para cada faixa etária.

Em Alagoas, as escolas não abordam o tema de forma clara, e segundo algumas instituições procuradas pela reportagem, as “orientações são repassadas dentro das disciplinas regulares”. O Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal) informou que não tem conhecimento do ensino direto da educação sexual nas escolas do estado, apenas da abordagem de “alguns tópicos de forma superficial nas aulas de ciências, quando o assunto é o sistema reprodutor”.

A grande resistência para que o assunto seja tratado de forma natural no ambiente escolar passa pela não aceitação dos pais e, muitas vezes, pela falta de capacitação e conhecimento por parte da equipe da escola. E a parceria entre essas duas partes é fundamental.

“Qualquer prática a ser inserida em uma escola, está sujeita a ter pontos negativos. No caso da educação sexual, pode acontecer resistência cultural, falta de recursos e falta de profissionais preparados para esse momento. Uma forma de minimizar esses impactos é ter uma equipe preparada, treinada para ter um diálogo aberto com os pais, para explicar o que vai ser trabalhado na escola, falando de forma detalhada sobre o assunto, as ideias de atividades, o que é abordado e o que são as rodas de conversa. A equipe precisa ter argumentos e estar segura para falar e para lidar com os possíveis questionamentos dos alunos, para que eles sejam orientados da forma correta”, diz.

Ela fala, ainda, que a resistência dos profissionais existe, justamente, por eles não se sentirem preparados para os possíveis questionamentos. Já a questão dos pais está ligada à preocupação de adultizar essas crianças, antecipando a prática de relação sexual e até influenciando a orientação sexual.

“Nesse caso, os pais podem colaborar se inteirando sobre o que vai ser abordado e agindo de forma leve, não enxergando isso como uma coisa de outro mundo, porque é algo natural, que faz parte da nossa vida, da nossa saúde, do nosso desenvolvimento. Quanto mais naturalizada for essa relação, esse diálogo aberto com os filhos, e essa parceria com a escola, sem dúvida os benefícios serão maiores”, afirma Aldynne.

“Criança e adolescentes informados, são crianças e adolescentes protegidos”

A maioria dos casos de abusos contra crianças e adolescentes ocorre de forma intrafamiliar, sendo praticada por pais, padrastos, tios, avôs e vizinhos, por isso, muitas vítimas encontram na escola um local seguro, onde podem buscar apoio e acolhimento, por isso a importância de que os educadores estejam preparados para saber como proceder diante dessas e de outras situações.

A pedagoga e educadora sexual, emocional e de prevenção ao abuso, Valéria Paz, diz que, antes de tudo, é preciso que as pessoas entendam que sexo está inserido dentro da educação e sexualidade, mas que esse tema não se resume a isso. É um assunto riquíssimo, capaz de proteger crianças e adolescentes.


				
					Entre o tabu e a necessidade: o dilema da educação sexual nas escolas
Cortesia

“Cada criança, cada adolescente, tendo respeitada a sua fase de desenvolvimento, vai entender a sexualidade de uma forma distinta. Uma criança de dois anos, por exemplo, jamais teria repertório para entender o que é sexo, mas sobre o que é sentir prazer em alguns momentos, não o prazer sexual, mas o prazer de tomar um sorvete, de estar com os pais, tudo o que dá prazer enquanto ser humano, é educação e sexualidade. Por isso que, muitas vezes, a educação e a sexualidade estão entrelaçadas com a educação emocional, que é onde eu vou entender o que é meu corpo, quem pode tocar e quem não pode, quem é minha rede de proteção e como eu posso me defender. Quanto mais informados as crianças e adolescentes estiverem, mais protegidos eles se tornam”, afirma Valéria.

Ela conta que, quando trabalhava como pedagoga em uma escola particular de Maceió, se deparou com inúmeras situações nas quais a escola foi fundamental para solucionar problemas vivenciados pelas crianças e jovens. Em uma das situações, uma aluna acabou contando, dentro da unidade de ensino, que estava sofrendo abuso.

“Essa é a importância de termos profissionais capacitados dentro desse ambiente, onde o Conselho Tutelar vira parceiro nosso e da família. Um dos cuidadores era o abusador da estudante, e ela, quando nos contou, disse quem deveria ser procurado. Então, fomos até a outra parte, que deu toda a ajuda necessária. Mas se eu não tenho profissionais que estão preparados para essa demanda dentro das escolas, não sabem como lidar, como entender que ali pode está ocorrendo um abuso, isso vai passar despercebido”, afirma.

Para Valéria, a falta de ‘abertura’, por parte das escolas, para os educadores que trabalham na área da sexualidade e da educação emocional, é resultado, muitas vezes, da ausência de conhecimento sobre a importância da abordagem. “Precisamos entender que é primordial que a escola saiba lidar com esses temas. É urgente que as escolas abram as portas para essa educação, para essa orientação, que a gente jogue fora o tabu. Não é fácil, porque é um preconceito estrutural, mas educação e sexualidade é protetiva. Criança informada, é criança protegida”, diz.

Ela atualmente trabalha dando palestras em escolas, hospitais, igrejas e comunidades. Em suas abordagens, Valéria faz uso de vários recursos lúdicos, como músicas, fantoches e livros. Também trata, com crianças, sobre questões como as quatro regras de proteção e noção de público e privado. Entre os adolescentes, são realizadas rodas de conversas que abordam, entre outros assuntos, as emoções, o autoconhecimento e o respeito pelo próprio corpo.

“Há adolescentes de 13, de 14 anos, que não têm noção de que estão sendo abusados. Isso é incrível, porque não se fala sobre isso. Se a gente falasse nas escolas, esses jovens iriam entender mais sobre o que está acontecendo com eles. Eu já fui dar palestra para adolescentes, em uma escola pública aqui em Maceió, e quando estava lá, falando sobre o amor próprio, vi quando uma pessoa passou chorando e foi ao banheiro. Terminei a palestra e pedi para falar com essa pessoa. Ela me disse que tinha sofrido um abuso e que nunca esqueceu. Então, são traumas que poderiam ser evitados se as crianças e adolescentes fossem informadas dentro das escolas, sobre como se proteger, sobre o que fazer”, conclui Valéria.

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