
Para cada R$ 1 de lucro obtido pela indústria tabagista, o Brasil gasta 2,3 vezes esse valor com o tratamento de doenças relacionadas ao tabaco e desde 2016, e observa aumento anual na produção de cigarros.
Os dados fazem parte do estudo "A Conta que a Indústria do Tabaco não Conta", feito pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e divulgados nesta semana pelo Ministério da Saúde, por conta do Dia Mundial sem Tabaco, lembrado neste sábado, 31 de maio.
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Com ele, os pesquisadores buscaram atualizar as informações nacionais sobre o comportamento de fumantes para mensurar o tamanho dos custos diretos e indiretos com o tratamento de doenças relacionadas ao tabaco frente ao lucro obtido pela indústria fumageira.
Para isso, foi levado em consideração mortes associadas a doenças cardíacas isquêmicas, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), acidente vascular cerebral (AVC) e câncer de pulmão e concluiu-se que o Brasil está enfrentando desafios para proteger a Política Nacional de Controle do Tabaco (PNCT) contra a interferência da indústria.
Outra constatação do estudo é que a epidemia de tabagismo causa 174 mil mortes anuais no Brasil, representando um custo de R$ 153,5 bilhões por ano.
Para justificar essas afirmações, o estudo usa como exemplo os recursos gastos pela indústria tabagista para pressionar a liberação dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), conhecidos como vapes. Eles esão proibidos pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, mas são vendidos abertamente no comércio.
O Inca conseguiu mensurar que em 2019, as mulheres grávidas estavam usando os vapes em uma proporção 50% superior à das mulheres não grávidas.
Outro dispositivo que se popularizou foi o narguillé. Houve um aumento de 700% nos novos registros de fumo de tabaco para narguilé com aditivos entre 2014 e 2020. A proporção de jovens buscando essa modalidade de fumo cresceu 300% entre 2013 e 2019.
O Brasil tem uma meta oficial para 2030 de reduzir a prevalência do tabagismo em até 40%. Esse objetivo está de acordo com o controle de tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS) e com o ODS Saúde e Bem-Estar dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Em 2019, havia ao menos 20 milhões de fumantes no país.
Uma forma do poder público de medir o hábito do fumo entre a população é com o Vigitel do Ministério da Saúde. Ele foi implantado em 2006 nas capitais estaduais e no Distrito Federal para monitorar a saúde do brasileiro e medir os principais fatores de risco e proteção para as seguintes doenças: diabetes, câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias.
Os dados levantados mostram que entre 2006 e 2018, o número de fumantes caiu todos os anos, saindo de 15,7% para 9,3%. No entanto, a partir de 2019, esse número variou para cima (até 9,8% em 2020) e voltou para os mesmos 9,3% em 2023.
Olhando para o recorte de gênero, homens fumam mais que as mulheres. Eles são 11,7% dos fumantes, enquanto as mulheres são 7,2%.
Pessoas entre 35 e 44 anos, independente do gênero, são as mais fumantes (10,4%), seguidas por 25 a 34 anos (9,8%) e 55 a 64 anos (9,7%).
Os menos escolarizados também são mais tabagistas. Quem possui somente até 8 anos de escolaridade, são 12,2% dos usuários de tabaco. Em contrapartida, quem tem 12 anos ou mais de estudo, fica em último lugar (7,4%).