
Ao ver que o goleiro Caio Baroni deu rebote após um chutaço de Wemerson, Ruan explodiu em direção à bola e mandou para a rede. O chute de canhota riscando a grama foi a mola propulsora para que o Zumbi chegasse no segundo tempo com chances de conseguir a virada contra o Flamengo na segunda rodada da primeira fase da Copinha, na última quarta (8).
Igor cruzou do lado esquerdo do ataque, Ruan fez um corta-luz e Cauã finalizou, também de canhota, garantindo a virada em 2 a 1. A companhia elétrica já estava desligando as luzes quando Germano, do Flamengo, ainda cobrou pênalti, mas mandou para longe, o que classificou o time alagoano para a próxima fase da competição com uma rodada de antecedência.
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O que pouco se sabe é que o processo de construção desse elenco do Zumbi envolveu buscar por atletas que talvez não fossem escolhidos em outros clubes. Não entenda isso como se os meninos não fossem talentosos, porque são, e se provaram contra um clube que investiu, de 2019 a 2024, mais de R$ 180 milhões somente nas categorias de base.
É que o futebol, como todas as coisas na vida, tem seus pormenores. Se um jovem é baixo demais ou magro demais, as equipes não têm tempo de prepará-los para que atinjam o potencial. O Zumbi foi no caminho inverso, investindo em um trabalho de condicionamento físico, suplementação e academia feito dentro do próprio clube.
Ruan, autor do primeiro gol, ganhou 8 kg de massa magra após sete meses de trabalho. Felipe Andrade chegou ao clube com déficit nutricional e, em seis meses, elevou sua massa muscular em 7,5 kg. Cauã evoluiu dos 64 kg para 70 kg, assim como João Gabriel saiu de 63 kg para 69,7 kg.
Os resultados empolgantes podem enganar, mas de acordo com o presidente do Zumbi, Djair Lucena, o trabalho nas categorias de base começou apenas em 2022. A equipe sub-20, que o clube apresenta esse ano, também é recente e iniciou sua montagem no início do ano passado.
Em 2024, o alviverde colheu os frutos desse trabalho e obteve ótimos resultados nas competições sub-20. A principal conquista foi o título da Copa Alagoas, numa campanha onde eliminou CSA e CRB, e bateu o CEO na final. Já no Campeonato Alagoano, ficou em terceiro lugar.
Para Djair, o desgaste não aparece como percalço para a Pantera na Copinha, e as boas performances nas competições estaduais são novamente creditadas ao trabalho físico feito no clube.
“Temos um trabalho na parte física importantíssimo. Os meninos jogaram dois jogos e não temos nenhum lesionado, nenhum fadigado. Conseguimos ter esses resultados feitos em casa, com suplementação, boa alimentação, academia, boas sessões de treinos e principalmente profissionais qualificados”, disse.
O Zumbi foi fundado em 1954 e somente em 1995 a equipe disputou a Segunda Divisão do Campeonato Alagoano, quando garantiu o acesso para a elite do torneio —antes, participava de campeonatos amadores. O tempo na primeira divisão foi curto e perdurou por somente quatro anos na década de 90.
A história recente do clube no futebol profissional também passa por amargos em sequência. Os palmarinos têm deixado o tão sonhado acesso escapar e saíram derrotados das últimas quatro finais da Segunda Divisão estadual. Com a desistência do Igaci, até pensaram que poderiam herdar a vaga na elite, mas o regulamento do Campeonato Alagoano não permitiu.
Em seu nome e escudo, o Zumbi Esporte Clube carrega homenagens ao líder quilombola e símbolo da luta antirracista Zumbi do Palmares. O time faz questão representar não só o interior de Alagoas, mas toda batalha que o personagem histórico homônimo representa.