Em mais um projeto de recital, o Instituto Lumeeiro propõe uma imersão na rica poesia de um dos maiores ícones da música popular brasileira: Belchior. Através do projeto “Tem poesia na MPB”, o instituto realiza um recital poético com Ricardo Cabús na voz e Eduardo Pereira no instrumental, destacando o que há de mais poético nas letras do cantor.
A escolha de Belchior para o recital não foi por acaso. O artista cearense se destaca por sua obra repleta de poesia, que transcende o imaginário da música e se transforma em pura arte literária. Dessa forma, Ricardo Cabús extrai toda a poética de suas letras e composições carregadas de emoção, reflexões e críticas sociais que continuam ressoando até hoje. Cabús enfatiza ainda as referências literárias que o cantor costumava fazer.
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“Belchior tinha uma formação literária sólida e que dava ares às suas canções. Ele faz referências diretas a diversos escritores ou a suas obras. Posso citar Olavo Bilac, Guimarães Rosa, William Faulkner, Dante, João Cabral de Melo Neto, Drummond, Edgar Allan Poe. Vale destacar uma citação: ‘Ano passado eu morri, mas esse ano não morro’, quase literal do poeta Zé Limeira, que muitos pensam que são versos de Belchior”, destaca Ricardo.
Durante o recital, o público terá a oportunidade de apreciar poemas de Belchior musicados por Eduardo Pereira, com a participação especial de Ivo Bulhões no violão e Handemberg Silva no clarinete. As apresentações serão intercaladas com leituras dramatizadas de trechos das letras de Belchior por Ricardo Cabús, curador e idealizador do recital, que contextualizará os versos e destacará sua relevância no contexto atual.
“O recital terá 30 letras recitadas, sendo 12 delas também cantadas em voz e violão por Eduardo Pereira. Em algumas haverá a participação especial do clarinete de Handemberg Silva e do violão de Ivo Bulhões. O roteiro se baseia em blocos buscando um encadeamento de temas característico da escrita de Belchior. É importante frisar que o recital tem a poesia como protagonista, a música, desta vez, é uma coadjuvante luxuosa”, explica o curador.
Eduardo Pereira destrincha o papel da musicalidade em um recital, onde o foco é no lirismo. Para ele, Belchior tem um estilo único que pode ser identificado em duas de suas canções, ‘Apenas um Rapaz Latino Americano’ e ‘Palo Seco’. Eduardo afirma que as duas músicas relacionam o cantor a objetos cortantes e que a palavra salta para fora da melodia.
“A palavra pula pra fora da melodia como que ignorando os limites de qualquer tipo de convenção musical. Cantar Belchior é um exercício de libertação poética. Emprestar espírito a uma lírica carregada de força, insubordinação, personalidade, ânsia, paixão e fúria. Os momentos musicais dentro de um recital poético criam intervalos de admiração e contemplação que convidam o espectador a experimentar sensações que vão para além da apreciação lírica, que por si só tem seu valor, mas que acompanhada de melodia e harmonia acrescenta uma complexidade maior à gama emocional da apresentação”, conta Pereira.
O projeto “Tem Poesia na MPB” é recente. A primeira edição foi homenageando Caetano Veloso e Cabús afirma que, pelo sucesso que está sendo, pretende levar o projeto por anos e anos. A prova da empolgação do público e a aceitação desse formato de recital é o acréscimo de mais um dia de apresentação. Com a rápida venda de ingressos, a solução encontrada foi adicionar mais um dia de festa.
“O projeto começou no segundo semestre do ano passado com ‘A Poesia em Caetano’. Eu já havia feito o recital ‘Poemas em canção’, que traz músicas cujas letras originalmente foram escritas como poemas. Mas sempre vi poesia em muitas letras. Daí decidi colocar o foco no compositor-letrista e comecei a estudar as letras, declamá-las, e passei a perceber muita peculiaridade que não notava na música cantada”, conta Ricardo.
Cabús revela ainda o que está em planejamento para apresentações futuras. A apresentação de Belchior será na Toca do Calango, no Jaraguá, com sessões disponíveis para o dia 24 e 25. Os ingressos podem ser adquiridos no site Sympla.com.
“Pretendemos dar continuidade ao projeto por muito tempo, em paralelo ao Papel no Varal e outros recitais de poetas (estou roteirizando MilTons de Adélia, com poemas de Adélia Prado e músicas de Milton Nascimento, no formato instrumental).”
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