É como encarar um mundo de sonhos, cenas sobrenaturais construídas cuidadosamente com elementos naturais. É dar de cara com o local exato onde os espíritos e os homens se encontram: nas crenças, rezas e histórias. É sobre tudo isso — e num momento em que se discute a relação predatória das pessoas com o planeta — que trata a exposição “Badjines, os espíritos da natureza”. Depois de circular pelos grandes centros culturais do Brasil e do mundo, a mostra do artista francês Nicolas Henry está em cartaz no Complexo Cultural Teatro Deodoro, em Maceió, com visitação gratuita.
A série de imagens impressionantes foi feita por meio de instalações artísticas, fotografadas posteriormente pelo talentoso artista plástico e fotógrafo francês. Nicolas Henry construiu esse mundo etéreo durante uma residência em Casamance, no Senegal. A matéria-prima das obras foram sementes, conchas, madeira à deriva na costa e, principalmente, o que lhe contavam ao longo daquele litoral. Ao ouvir as histórias dos nativos, o fotógrafo interrogou-os sobre “como traduzir isso em imagens”. E eles responderam: seria preciso invocar os espíritos do ar, da terra e do mar.
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“Foi isso que fizemos. As imagens refletem a metáfora de uma harmonia com a natureza. É a materialização de espíritos vivos, que devem ser honrados, cultivados e invocados em diferentes momentos da vida”, afirmou o artista em entrevista a um podcast francês.

O acervo trazido a Maceió reúne 15 dessas obras oníricas, nas quais Nicolas Henry enxergava, com sua perspectiva europeia realista, uma metáfora para as mudanças climáticas e as aspirações da humanidade de viver em equilíbrio com o mundo natural. Foi apenas depois de conversar com sua equipe africana que ele percebeu que as imagens eram, além disso, comunhões humanas com os deuses da natureza, endêmicos das civilizações do velho mundo. “São celebrações quase espirituais da natureza, criadas na África e na Índia, que formam o corpo da exposição”.
Nas obras, o artista brinca com dimensões, jogando com níveis, composições bidimensionais e espirais que convidam o espectador a cair na toca do coelho ou em vales selvagens, lar de fadas, árvores sagradas. “Eu realmente espero contar essas histórias,falar ao mundo sobre modelos de sociedade centradas em sua própria comunidade, que vivem em harmonia com o que considera sagrado, a natureza. É uma série que fala dessa relação, com instalações criadas pelas pessoas que estavam ao meu redor, não apenas eu, para mostrar que podemos dialogar”, afirmou o fotógrafo.
Nicolas Henry é graduado pela Beaux-Arts de Paris e pela École Nationale Supérieure d’Art de Paris-Cergy, diretor de cinema no Emily Carr Institute of Art and Design em Vancouver, Canadá. Após uma carreira como designer de iluminação e cenógrafo em entretenimento (música, dança contemporânea e teatro), viajou o mundo por três anos como diretor do projeto “6 bilhões de outros” de Yann Arthus-Bertrand. Ele então embarcou, em tempo integral, em seu trabalho fotográfico pessoal, viajando pelo mundo para produzir as suas séries, entre elas a que chega a Maceió.

A exposição permanece em cartaz até 17 de dezembro e é a primeira mostra internacional da galeria do Complexo Cultural Teatro Deodoro, que é mantida pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult) e da Diretoria de Teatros de Alagoas (Diteal).
A curadoria é da Aliança Francesa de Maceió. A coordenação executiva é de Ricardo Oliveira, com projeto expográfico de David Andrade e coordenação geral de Klinger Silva. A mostra gratuita tem apoio da Embaixada da França no Brasil, Consulado Francês no Nordeste, Ao Pharmacêutico, Casas Jardim, Madeireira Falcão e Bagatelle.