Brasília – No apartamento chique do bairro nobre ouviu-se a ordem do dia, digo, da noite dada à empregada doméstica Maria, que obviamente estava na cozinha:
- Maria, ô Maria! Me trás uma panela aí, urgente! Anda logo, Maria!
E a Maria, sem entender nada, perguntou à patroa ariana que jamais pegou numa panela, o que ela ia fazer com a panela. Sem resposta, Maria cumpriu a ordem.
Mas, no lugar de ir à cozinha, a patroa ariana foi à janela do apartamento chique do bairro nobre e, desengonçada porquanto não tem intimidade com panela, começou a batê-la.
E a Maria, lá com ela, a pensar: gente rica tem cada invenção!...
E foi assim mais um panelaço da raça ariana, onde negro não entra, para protestar porque o pobre brasileiro tem direitos trabalhistas e o negro, que só andava de pau-de-arara, agora pode andar de avião.
O protesto é só por isso e diz-se que é só por isso, porque apesar de ser o mínimo que a classe pobre e os negros obtiveram nos últimos anos, para os arianos é uma afronta dividir a poltrona do avião com “essa gentalha” que antes era tratada no chicote sem nenhum direito. Só deveres.
Depois, a patroa ariana foi assistir o jornal na televisão para se vê na sacada do prédio no bairro da elite batendo panela. E foi aí que a Maria ouviu a notícia de que a VEJA pediu desculpas ao senador Romário, por ter mentido sobre o dinheiro que ele não tem depositado na Suíça, mas a VEJA denunciou que Romário tinha R$ 7,5 milhões lá no banco suíço.
E é mentira.
- Ôxi, patroa, essa revista não é a mesma que a senhora lê? E a revista escreve mentiras, é?
- Vai lá pra cozinha, Maria. Saia daqui. Isso não lhe diz respeito!
E a Maria, humilhada pela patroa ariana que bate a panela que nunca lavou, se recolheu aos costumes, digo, à cozinha, sem mais uma vez entender a patroa, que lê uma revista que escreve mentiras e bate panela que nunca lavou.