Uma das postagens aqui no blog referiu-se à situação de um gênio igual a Graciliano Ramos, que se vivo fosse não poderia ensinar Português porque não é formado, não fez mestrado nem doutorado.
Imaginem! Ainda hoje no país não tem ninguém, formado, com mestrado e doutorado, capaz de suplantar Graciliano Ramos no conhecimento da língua. Pode existir alguém igual, mas melhor que ele não há e jamais haverá.
E o que dizer de Pontes de Miranda, que conhecia a Matemática melhor que conhecia o Direito. Se vivo fosse, Pontes de Miranda também não poderia ensinar Matemática porque não era formado, não tinha mestrado nem doutorado.
É triste, mas é verdade.
Minha geração foi feliz; nós não tivemos professores profissionais. Fiz o curso científico que hoje chamam de 2º grau no Colégio Moreira e Silva e os meus professores de Química e de Biologia eram acadêmicos de Medicina da Ufal; os professores de Física eram acadêmicos de Engenharia.
Todos muito bons; todos com muita vontade de ensinar.
Mas aí veio a profissionalização do ensino e o que seria para melhorar piorou; ficamos mais burros e sujeitos a greves que, igual ao Carnaval, todo ano tem na escola pública.
Com a profissionalização veio o corporativismo e a reserva de mercado. Para ser professor tem que se formar professor, embora ninguém no mundo até hoje saiba explicar quem inventou o analfabeto e ensinou o alfabeto ao professor – como indaga o gênio Chico Buarque de Holanda.
Se um gênio igual a Graciliano Ramos foi gênio por si só, isto quer dizer que títulos não devem ser levados em conta na formação do conceito de quem os detém. O fato de alguém ter mestrado ou doutorado não deve servir para abrir portas, porque Graciliano Ramos, Pontes de Miranda, e outros não precisaram de nada disso.
Eu defendo a tese de que o estudante de universidade pública retribua à sociedade ensinando nas escolas públicas mediante uma bolsa. Já pensou o seu filho na escola pública tendo aula com um acadêmico de Medicina ou de Engenharia!
Com todo o respeito, o acadêmico é melhor que o professor profissional porque está imune à acomodação. Não sendo profissional, o foco dele é repassar o que aprendeu a partir do princípio fundamental segundo o qual ensinando se aprende mais fácil.
Que bom que seria! Não haveria greve e, melhor, a reciclagem seria automática e anual; a partir de formado o acadêmico seria substituído pelo colega que ascendeu a sua série e assim sucessivamente.
Pois gente, não é que isso existe nos Estados Unidos? Fiquei boquiaberto ao ler a revista Veja com a entrevista nas páginas amarelas com a norte-americana Wendy Kopp, chamada de “a missionária da educação”.
Ela lançou a ideia nos Estados Unidos e a ideia já se espalhou por 25 países sérios. É o mesmo sistema que a minha geração vivenciou no Moreira e Silva.
A “missionária da educação” convocou universitários para ensinar em escolas públicas nos Estados Unidos, com resultado positivo incomparável com o sistema do professor profissional vigente no Brasil.
Na América do Sul, já aderiram à ideia a Argentina, o Peru, o Chile e a Colômbia. No Brasil a experiência inicial no Rio de Janeiro não deu certo, sabe por quê?
Porque o sindicato dos professores caiu em cima e impediu os universitários de lecionarem. Moral da história: quando você ouvir alguém pregar “mais investimento na educação”, não aprove. É golpe.
Investimento na educação só tem servido para fortalecer o corporativismo, que não tem compromisso com a qualidade de ensino e sim com o recheio do contracheque. E que só tem servido mesmo é para expandir o analfabetismo.