No lugar de Noé, é Tamandaré; no lugar da Arca, a palmeira mais alta da floresta; e no lugar do dilúvio, a inundação.
Quando os brancos tiveram contato com os índios brasileiros se assustaram com a versão deles sobre o dilúvio – e como pode, se eles não sabiam ler e não conheciam a Bíblia?
Pois é; como pode?
Isto apenas comprova que a lenda de Noé e do dilúvio, que a Bíblia consagrou, já era conhecida desde os primórdios, quando a humanidade era politeísta. Faz parte do folclore milenar.
No caso dos índios brasileiros, trata-se da “Lenda de Tamandaré”. É assim:
Tupã ( o deus silvícola ) apareceu para o índio Tamandaré e mandou que ele subisse com a esposa na palmeira mais alta da floresta, porque iria inundar o mundo.
Convenhamos que é bem mais lógico que colocar espécies animais, um casal de cada, numa Arca. Sabendo que existem 360 mil espécies de animais no mundo e que a maioria vive em terra, a Arca de Noé deveria ter o tamanho de 100 porta-aviões enfileirados para caber uma carga de tal magnitude.
Racionalmente, não dá para acreditar.
A versão do índio brasileiro é igualmente uma lenda, mas deveria ter sido mantida. E por que não foi?
Porque era preciso arranjar uma explicação para o restante dos animais que habitam a terra, embora se duvide muito que Noé tenha permitido o cupim entrar na Arca de madeira - sim, de madeira, pois não se conhecia o ferro e o aço. Já imaginou o cupim na madeira molhada por 40 dias e 40 noites? Pense no estrago...
Noé, com certeza, não deixou o cupim embarcar na Arca, mas apesar disso o cupim sobreviveu e ainda hoje está aí causando estragos.
No Dia do Índio, a data deve servir de reflexão não só sobre as condições dos silvícolas brasileiros hoje, mas sobre o “massacre” da sua língua e cultura. Já imaginou se todos os brasileiros descendessem do Tupiniquim ou Guarani?
Teríamos uma língua própria, pois é sabido que em 1500 essas nações estavam em estágio avançado de conhecimento – inclusive, na arte da guerra, com a fabricação do próprio armamento e o conceito de guerra de guerrilha.
Mas não foi assim.
Para dominá-los o branco apresentou-lhe um deus que não se pode ver, diferente do Sol, mas que mandava em tudo e estava o tempo todo em todo canto. E que sabia de tudo e castigava os desobedientes.
Para arrancar-lhe as riquezas, especialmente o ouro, o branco pôs fogo num galão de álcool dizendo que era água e ameaçou fazer o mesmo com os rios.
E para amedrontá-los, o branco pôs um índio na boca de um canhão e disparou.
Mas hoje o índio quer se nomear, com nome de índio. E não quer mais apito – quer ação.