Os olhos cheios de lágrima e o sorriso estampado de Jade Barbosa escancararam a alegria da ginasta ao celebrar a vaga para a equipe do Brasil em Paris 2024, conquistada nas qualificatórias do Mundial na Antuérpia, na última segunda-feira, ao lado de Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Julia Soares e Lorrane Oliveira. Aos 32 anos, a ginasta mais experiente da equipe feminina traz confiança ao grupo para buscar pódio inédito.
O Brasil compete na final por equipes nesta quarta-feira, a partir das 14h, com transmissão do Sportv 3 e tempo real do ge.
Leia também
Primeira brasileira a conquistar uma medalha no individual geral em mundiais, com bronze em Stuttgart, em 2007, Jade ainda mostra fôlego para apresentar uma ginástica de alto nível, mesmo fazendo parte de um pequeno grupo de ginastas em alta performance acima dos 30 anos. Ao longo da carreira, Jade precisou ser resiliente com lesões em momentos importantes, mas soube se reerguer e retornar com medalhas. É com essa bagagem que a carioca quer motivar as companheiras para a final.
- É uma equipe que tem meninas com alguns ciclos nas costas, enquanto outras estão tendo a oportunidade de estar pela primeira vez. Eu tenho muito orgulho da nossa equipe, como a gente aprendeu a lidar a cada ano com as coisas que não são fáceis. Por isso que hoje, apesar de todas as dificuldades, a gente conseguiu se divertir lá dentro. A gente precisou pensar rápido, se reorganizar, ser resiliente, fazer desse problema algo pra frente - respondeu sobre o desempenho do Brasil na zona mista logo após a apresentação da equipe.
Na qualificatória do Mundial, na Antuérpia, o Brasil ficou em quarto no ranking, atrás apenas de Estados Unidos, Grã-Bretanha e China. A apresentação nas barras paralelas foi o único aparelho que a equipe teve problemas com uma queda de Lorrane, mas não comprometeu o desempenho como o susto de Jade em 2019.
Durante o pré-olímpico no Mundial da Alemanha, Jade lesionou o joelho direito logo no primeiro aparelho, o salto, o que custou justamente a vaga olímpica por equipes para Tóquio 2020. Na prova deste ano, celebrou ao aterrissar sem surpresas, e dessa vez contribuir para a classificação da equipe.
- Hoje a gente carimbou, mais uma vez, algo que a gente queria! Chegar e nos mostrar fortes como equipe. A gente fica emocionada sim, nós somos brasileiras, isso é extremamente especial pra gente. A gente quer aproveitar cada ginásio que a gente entrar e ver arquibancada cheia com a bandeira do Brasil. A gente vai fazer isso, como a gente fez hoje - falou sobre a emoção com a vaga, mas não quis falar em cor de medalha.
Além de contribuir com a experiência como atleta, Jade também colaborou com o visual da equipe na Antuérpia. O colant usado pela equipe nas classificatórias foi criado por ela, que se inspirou nas cores do Brasil para que o país estivesse representado para o mundo ver.
- A gente veio de Brasil pra lembrar que é isso o que a gente representa: não só na roupa! Na energia, nas músicas de solo, eu tenho certeza que a gente mostrou tudo hoje. Quando a gente coloca o colant, a gente se sente pronta, faz parte de você. A gente já competiu com muitas cores diferentes no passado. Esse ano a gente queria realmente representar nosso país - falou orgulhosa de ser uma das representantes brasileiras que colocou o país em Paris 2024.
As chances do Brasil de medalhas
No total, Brasil disputa cinco finais: por equipes, Individual geral com Rebeca e Flávia, que também estão na final do solo. Rebeca ainda disputa o salto e a trave. A equipe feminina conseguiu o somatório de 164,297 pontos, o que a deixou em terceiro no ranking do Mundial atrás de Estados Unidos e Grã-Bretanha, até a China fazer sua apresentação, na última subdivisão da qualificatória de segunda, ultrapassando o Brasil com um ponto e três décimos, com total de 165,633 pontos.
O aparelho das brasileiras com a menor média, as barras paralelas (40,232 pontos) , foi justamente o de maior pontuação das adversárias asiáticas (43,533 pontos). O Brasil também somou menos pontos na trave (40,400 pontos), causados por pequenos desequilíbrios das atletas na abertura da qualificatória, o que costuma ser normal numa abertura de Mundial. As chinesas fizeram a melhor apresentação entre todos os países no aparelho mais temido pelas ginastas, somando 42.666 pontos.
Se a equipe conseguir fazer ajustes na apresentação da trave na final, e Rebeca Andrade repetir a mesma pontuação nas barras da Copa do Mundo de Paris, quando conquistou a prata com 14,600 pontos, pode aumentar a média da equipe e melhorar o somatório no ranking geral. Na classificatória de segunda, Rebeca não conseguiu fazer a apresentação que queria e tirou 13,866 pontos. Nas finais não existe nota descartada, então qualquer erro pode custar décimos preciosos.
Na final, Brasil vai revezar com a China na rodada de aparelhos. As equipes começam justamente nas barras paralelas, o que será um primeiro teste para nivelar quem vai estar na briga por um lugar no pódio. Na sequência, a trave, que poderá ser determinante para manter o país vivo na briga. O terceiro será o solo e fecham a disputa no salto.
Na final individual, o Brasil tem Rebeca Andrade, atual campeã mundial, e Flávia Saraiva, em busca de trazer medalha na prova que Jade foi pioneira, com o bronze em 2007. A disputa de 2023 ficou mais difícil com o retorno de Simone Biles, dona de 19 medalhas de ouro em Mundiais e 4 em Olimpíadas, mas Rebeca tem todo o talento para estar no páreo por medalhas.
Rebeca também vai brigar por medalhas no salto (2ª colocada), no solo (3ª) e na trave (9ª). Só vai ficar fora da decisão das barras assimétricas. Flávia Saraiva também está na final no solo, na quarta posição.