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Carlito Lima lança 'Maceió, minha linda', com histórias da capital

Obra recorda causos e pessoas para mostrar que uma cidade é muito mais do que prédios e praias

“De que é feita uma cidade?”, questiona Carlito Lima enquanto caminha pela Rua Sá e Albuquerque, no Jaraguá, com os olhos brilhando ao contemplar aquele lugar — com seus paralelepípedos, prédios históricos e tantas memórias dos antigos carnavais e de toda a vida que pulsava no bairro histórico de Maceió. Diante do silêncio, o Velho Capita, como o chamam, responde a si mesmo:

“Uma cidade não é feita de prédio, de ruas, de praças, de mar ou de praia. Ela tem uma alma. Essa alma é o povo, são os costumes, as histórias da cidade que a caracterizam. Não à toa, cada cidade é diferente da outra”, reflete.

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E é sobre essa “alma da cidade” que trata o livro “Maceió, minha linda”, que será lançado oficialmente durante a Bienal Internacional do Livro de Alagoas, que ocorre entre os dias 11 e 20 de agosto, no Centro de Convenções Ruth Cardoso. A obra traz 62 histórias diferentes, crônicas e contos sobre uma Maceió que, afirma o autor, se engana quem acha que ficou no passado.

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“São vinte histórias de Maceió e 42 histórias de pessoas de Maceió. Pessoas ilustres, conhecidas e não conhecidas, de elevada classe social e outras não, da Nega Odete ao vice-governador Ronaldo Lessa. Não são biografias, mas histórias que se passaram com essas pessoas, geralmente engraçadas, e que acabam refletindo a cidade, não só como ela era, mas que fizeram ela ser como é. Teve um amigo que leu e disse que, no futuro, quem for pesquisar os costumes das pessoas vai procurar ler os meus livros. Será?”

Talvez o amigo do escritor tenha razão. É que em sua obra, apesar de muitas vezes temperar suas histórias com ficção, Carlito Lima investiga e expõe as raízes de Maceió e de Alagoas, seus sabores e dissabores. A realidade e os fatos sempre foram suas principais inspirações. Foi assim em seu livro de estreia, “Confissões de um capitão”, e nos romances “Sete Pecados”, “Manguaba”, “Mundaú” e “Jequiá”, que precederam o lançamento “Maceió, minha linda”.

Para o escritor, que também é carnavalesco e agitador cultural, a alma da cidade está na lida diária das pessoas comuns, na maneira como fazem e reagem às coisas e como suas pequenas coragens marcam e moldam a história.


			
				Carlito Lima lança 'Maceió, minha linda', com histórias da capital
Carlito Lima fala de amor por Maceió enquanto caminha pelo Jaraguá. Ailton Cruz

“No livro vocês vão encontrar muitas histórias diferentes, algumas se passam no Jaraguá, mas também tem Ponta Verde, Jatiúca, Centro. Entre elas está a da Nega Odete. Ela era uma mulher, que trabalhava ali na Praça Sinimbu, que ia atrás de estudantes universitários bonitos. Os velhos, que chegavam lhe oferecendo dinheiro, ela não queria. Ela era uma mulher independente. Nessa época, surgiu, no Rio de Janeiro, a Leila Diniz. Ela dizia nas revistas ‘eu gosto de transar e transo com quem quero’. Como ela era do Rio, branca, rica, virou a musa de Ipanema. Aqui, a Nega Odete dizia a mesma coisa e chamavam ela de puta. Mas ela não era puta, ela só transava com quem queria minha gente”, relata o Velho Capita, ao resumir uma das histórias que aparecem no novo livro.

Outra história fascinante que pode ser lida em “Maceió, minha linda” é a chamada Madame Butterfly (página 27). O assunto, inclusive, será tratado no próximo livro do autor, um romance situado nos anos 1940, quando Maceió se tornou uma região estratégica dos Estados Unidos durante a 2ª Guerra Mundial.

“Os alemães tinham um plano secreto de invasão aos Estados Unidos, usando o Nordeste como corredor. Seis navios brasileiros chegaram a ser bombardeados por submarinos aqui no Nordeste. Por isso, os norte-americanos instalaram uma base aqui, chamada de Blimps, que era um grupo de dirigíveis que monitorava a movimentação marítima”, conta o escritor.


			
				Carlito Lima lança 'Maceió, minha linda', com histórias da capital
Obra de Carlito Lima é cercada por cenários e causos alagoanos. Ailton Cruz

Na história, Carlito Lima recria o cenário alagoano em plena guerra e imagina como a presença de 250 soldados estadunidenses mudou a rotina da cidade. É fato que eles faziam festas aos sábados, a guerra estava longe daqui, mas o escritor conta que nessas folias, somente moças maceioenses eram permitidas.

“Eles alugaram o Clube Fênix e todo sábado davam festa. Não faltam histórias de mulheres grávidas, promessas de amor e soldados que foram embora e abandonaram os filhos por aqui. Um ou dois chegaram a casa e ficaram”, diz.

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

Enquanto contempla a imponência do Jaraguá, o escritor conta mais uma dezena de histórias, com tanta paixão que é possível ouvir os batuques dos carnavais de outrora que enfeitavam aqueles corredores no passado. Essa paixão por Maceió é antiga e ingrediente fundamental para compreender a obra de Carlito Lima.


			
				Carlito Lima lança 'Maceió, minha linda', com histórias da capital
Ailton Cruz

O autor saiu de casa aos 16 anos e foi servir ao Exército Brasileiro. Após seis anos na academia, foi servir em Salvador e, depois, em Recife.

“Foi bem na época que rebentou o golpe militar. O quartel que eu servia em Recife era o quartel de uma tropa de elite. Ficaram presos nesse quartel pessoas como Arraes, Julião, Paulo Freire… a nata da inteligência nordestina, que a ditadura mandou prender. Eu tive um convívio com eles durante dois anos. Eu tratava bem os presos políticos, assim como trato bem a todo mundo”, conta o escritor.

“Aí eu fui namorar a filha de um preso político. Achei ela bonitinha, ela também me achou. O pai dela não gostou nadinha, meus amigos diziam que eu era louco. Um general, Aurélio Lyra Tavares, mandou me chamar e disse — Lima, eu não admito que um tenente do meu Verde-oliva namore a filha de um preso político. Acabe agora esse namoro”, relembra.

Apesar da ordem expressa, o alagoano era corajoso e resolveu rebater: “O senhor não tem nada a ver com a minha vida particular”, conta Carlito.


			
				Carlito Lima lança 'Maceió, minha linda', com histórias da capital
Autor apaixonado pelo Jaraguá e pelo Centro da cidade relembra histórias que moldaram a cidade. Ailton Cruz

Dois dias depois do episódio, Carlito Lima foi transferido para atuar na fronteira e passou dois anos na região amazônica, nas fronteiras da Venezuela e da Guiana.

“Foi lá que aumentou ainda mais o meu amor pela minha cidade. Apesar de eu sempre vir passar as férias aqui, quando eu fui promovido a capitão, meu primeiro pedido foi voltar para Maceió. Quando desembarquei eu disse, daqui não saio mais nunca”.

Apesar da decisão, Carlito foi chamado para trabalhar no Rio de Janeiro e, para não ir, resolveu se candidatar a prefeito em uma cidade alagoana.

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“Na época, o Exército estava reformando todo militar que entrasse para a política e fosse eleito. Resolvi o problema e fiquei por aqui. Aos 61 anos, escrevi o ‘Confissões de um capitão’, meu primeiro livro. Foi um sucesso que eu não esperava. Fui para o Jô Soares, todo o Brasil queria me entrevistar. Depois, lançaram o livro em espanhol, fui para Bogotá, para Buenos Aires”, relembra.

Foi o jornalista Plínio Lins que viu que Carlito precisava continuar escrevendo suas histórias. Desde então, semanalmente o escritor compartilha seus causos, reais e fictícios, na coluna Histórias do Velho Capita. Aos 81 anos, o escritor diz que não vai parar de escrever.

“‘Maceió, minha linda’ se chama assim porque é isso. É sobre Maceió, essa cidade que eu amo. O Cacá Diegues gostou, espero que vocês gostem também”, brinca Carlito, ao mencionar o cineasta alagoano que abre o novo livro com um comentário sobre a obra.

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